Contrariar o discurso da facilidade para incutir em todos os portugueses a cultura da competência, da formação, do rigor fiscal e do trabalho, foi o mote para o segundo dia da visita de Jorge Sampaio ao Distrito de Aveiro. «Estudar, ler, inovar, ter exigência, com responsabilidade num clima social atractivo», estas atitudes são as únicas possíveis, sustentou o Presidente, para valorizar a competitividade. Mas há também, enfatizou Sampaio, outro factor a salientar: «Não há País que singre sem o empenhamento dos seus cidadãos e dos seus políticos», dando conta que é com mandatos de proximidade que melhor se estabelece «a ponte essencial» entre votantes e eleitos.
Ao pegar no exemplo de alegria das crianças que o receberam nos Paços do Concelho de Albergaria-a-Velha, cantando, entre outros, o tema Sonho Encantado, Sampaio foi peremptório: «Estou farto da descrença e do desânimo. Nós não temos essa história...», pedindo até que as autarquias olhem mais para as escolas de ensino básico como locais onde germinam os ingredientes do futuro.
Por isso, volta a explicar a intenção desta sua visita, ao distrito de Aveiro, a grande maioria dos concelhos que nunca recebera a visita do chefe de Estado: «Levo a vida a dar visibilidade às histórias em que o trabalho é a chave do sucesso», a fim de Portugal se «tornar um País mais progressista e mais moderno». Afinal, sublinhou, «estes casos demonstram que os nossos trabalhadores constroem empresas competitivas, independentemente da origem dos capitais investidos».
Na resposta à intervenção do autarca de Albergaria, João Agostinho, que colocou ao mesmo nível, o Estado, as agências de inovação, as universidades e as empresas na promoção de desenvolvimento, o Presidente da República realçou ser, de facto, essa a combinação e «a chave do nosso futuro».
Nesta jornada - que incluiu visitas a duas empresas de Albergaria-a-Velha (uma de torneiras e mono comandos e uma metalúrgica de componentes com aplicação, entre outras, à indústria farmacêutica e automóvel) e Sever do Vouga (uma metalomecânica) - o Presidente da República voltou a sublinhar a necessidade de encarar o desafio da economia de futuro: «Quem pensar que as leis resolvem os problemas do quotidiano está completamente enganado», uma vez que, enfatizou, «é fazendo, experimentando, gastando horas em formação profissional que se atinge a competitividade».
PAULA CARMO / DN, 16/08/2004 (?)
JORNADA POR ALBERGARIA-A-VELHA E SEVER DO VOUGA
Sampaio prossegue hoje a visita pelo distrito de Aveiro
O roteiro presidencial inclui a visita a diversas empresas industriais PAULO NOVAIS/LUSA
Em Albergaria-a-Velha, o chefe de Estado vai conhecer a Durit - Metalúrgica Portuguesa de Tungsténio, que se dedica à produção de ferramentas e peças em metal duro e que tem apostado na ligação aos meios académicos e na formação, como factores de triunfo.
Por Albergaria-a-Velha se vai demorar também a comitiva presidencial em visita à fábrica da Grohe, uma multinacional alemã que se instalou em Portugal em 1996 e que se dedica ao fabrico de equipamentos de água para várias funções, nomeadamente torneiras de cozinha e de casa de banho.
Jorge Sampaio segue depois para o interior do distrito, sendo recebido nos paços do Concelho de Sever de Vouga, onde o presidente da Câmara, Manuel Soares, não desiste de reclamar a construção da barragem de Ribeiradio, para resolver o problema das cheias a montante, regularizar o Rio Vouga e contribuir para o desenvolvimento local.
O roteiro presidencial inclui a visita a outra empresa industrial, também localizada em Sever do Vouga, a A.Silva Matos SA.
Fundada em 1980, a Silva Matos é hoje a empresa-mãe de um grupo metalomecânico que se dedica ao fabrico e montagem de depósitos de combustível, cisternas de gás e reservatórios dos mais variados fins e que exporta para países tão diferentes como Espanha, França, Bélgica, Alemanha, Reino Unido, Noruega, Marrocos, Tunísia, Angola, Cabo Verde e Países do Médio Oriente, entre outros.
Presidente da República visitou instalações da Grohe
29/01/2004
A visita do Presidente da República às instalações da Grohe teve início com uma breve cerimónia de recepção, onde António Carvalho, director-geral da Grohe Portugal, deu a conhecer a Jorge Sampaio e às outras individualidades e entidades presentes, entre eles o "Jornal da Construção", a importância da Friedrich Grohe no País, sublinhando o objectivo da empresa em duplicar, no prazo de três anos, a sua capacidade de produção. Para que isso suceda, afirmou, a Grohe vai ter que investir 21 milhões de euros, esperando que parte desse montante (cerca de 16 milhões de euros) seja comparticipada pela API - Agência Portuguesa para o Investimento.
Este investimento, segundo António Carvalho, vai ainda permitir aumentar o número de trabalhadores da fábrica dos actuais 355 para 522.
Cinco anos de sucesso
Criada em Março de 1996, a Friedriche Grohe Portugal, Componentes Sanitários, Lda, inaugurou a 28 de Maio de 1998 a sua fábrica de Albergaria-a-Velha.
Representando então um investimento de cerca de seis milhões de contos, esta unidade destina-se à produção integral de torneiras clássicas e de monocomandos.
A unidade de Albergaria-a-Velha é detentora da certificação do TÜV, à semelhança das restantes fábricas do grupo, segundo a norma DIN EN ISO 9001.
A estrutura comercial da Grohe, sediada em modernas instalações no Porto (Boavista), assenta numa rede de 20 distribuidores a nível nacional, incluindo as Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores.
Em apenas sete anos, a sua facturação aumentou de um milhão de euros (1997) para 6,3 milhões em 2003.
No mesmo período, a sua quota de mercado aumentou de dois para 12 por cento, sendo hoje a Grohe a segunda maior empresa deste sector no mercado nacional. Inclusive, em alguns segmentos, como por exemplo nas torneiras de design, a Grohe ocupa já o primeiro lugar.
Na vertente de projectos, foi seleccionada, entre outras empresas, para o fornecimento de torneiras, chuveiros e sistemas de instalação (louça suspensa) em sete dos dez estádios que vão acolher o Euro 2004.
Um importante investimento
Dos 21 milhões de euros de investimento programados até 2006, 1,2 milhões destinam-se à formação profissional.
Este investimento irá permitir aumentar a capacidade de produção para cerca de cinco milhões de unidades/ /ano, em finais de 2006.
Para tal, a área fabril será ampliada dos actuais 10.894 m2 para os 18.000 m2, e novos e modernos equipamentos de produção serão instalados.
A Grohe Portugal apresenta elevados índices de qualidade, tendo sido em 2003 a empresa do grupo que apresentou a mais alta produtividade.
Sempre a crescer
A Grohe instalou-se em Portugal em 1997, ano em que criou também o seu Departamento Comercial, no Porto.
A execução do seu projecto industrial foi financiada pelo Estado português ao abrigo do Regime Contratual para o Investimento Estrangeiro.
Este projecto criou desde logo 255 novos postos de trabalho e levou à produção de um milhão de unidades em 2001, depois de a fábrica ter entrado em plena laboração em Janeiro de 1998. A Grohe tem, desde então, apostado na formação profissional dos seus trabalhadores, sobretudo em áreas como a Qualidade, o Ambiente, a Higiene e a Segurança. E alguns dos resultados foram: a obtenção, em Novembro de 2003 do certificado de Gestão Ambiental, atribuído pela entidade alemã TUV, depois de ter sido distinguida em 2002 com o prémio "Qualidade 2000+" destinado a empresas do grupo.
Já em Janeiro deste ano recebeu o prémio "Igualdade é Qualidade", atribuído pela Presidência do Conselho de Ministros e pelo Ministério da Segurança Social e do Trabalho "às empresas com políticas exemplares na área da igualdade de oportunidades entre mulheres e homen
Sampaio ficou a saber que a fábrica portuguesa da Grohe registou a melhor produtividade de todo o grupo.
Esta multinacional lidera o mercado europeu de torneiras e sistemas sanitários e irá expandir a sua fábrica portuguesa em Albergaria-a-Velha com um investimento total de 21 milhões de euros, 1,2 milhões dos quais são destinados à formação profissional.
O alargamento permitirá criar 230 novos postos de trabalho até ao final do ano 2006, altura em que o número total de trabalhadores ascenderá a 522.
A capacidade de produção ficará então na casa das cinco milhões de unidades por ano, sendo a actual área fabril, de 10.894 metros quadrados, ampliada em mais oito mil metros quadrados.
A escolha do grupo para reforçar o investimento em Albergaria-a-Velha em detrimento de outras localizações é assumida como uma consequência de a Grohe Portugal ter índices de qualidade ao melhor nível e de ter sido a empresa do grupo que no ano passado apresentou a mais alta produtividade.
A fábrica tem actualmente uma capacidade de produção de dez mil unidades por dia, emprega mais de 350 trabalhadores e irá atingir um volume de vendas de aproximadamente 67 milhões de euros.
Empresa portuguesa também tem sucesso
Outra empresa que Jorge Sampaio visitou hoje, esta de capitais integralmente portugueses, foi a Durit, fundada em 1981 e dedicada ao fabrico de peças e ferramentas de metal duro de alta precisão, e que é actualmente a empresa-mãe de um grupo industrial virado para a exportação, em especial para a Alemanha, e que possui também uma fábrica no Brasil.
Dos 89 trabalhadores que empregava no ano do arranque da produção e um milhão de euros de facturação, passou para os actuais 278 colaboradores e um volume de facturação em 2003 de 11,75 milhões de euros.
Nos dois últimos anos, apesar do aumento da produção, o preço do metal duro baixou em resultado da quebra da procura e do aumento da oferta, pelo que a Durit se vê obrigada a reduzir as margens de lucro para manter a competitividade, segundo explicou a Jorge Sampaio um dos responsáveis da empresa.
Contraste "entre a opulência escandalosa e a pobreza impressionante"
Ainda em Albergaria-a-Velha, o Presidente da República reafirmou também a mensagem de que tem de haver uma repartição equitativa dos sacrifícios que os tempos difíceis impõem aos portugueses.
Ao mesmo tempo exaltou os valores do trabalho, do rigor e da competência como meio de diferenciação entre os cidadãos e não o contraste "entre a opulência escandalosa e a pobreza impressionante", que, disse, tem visto em algumas situações.
Os erros do protocolo
Delfim Bismarck debruçou-se sobre os erros de protocolo da Câmara de Albergaria em relação à visita do presidente da republica. Dados importantes para reflectir e sorrir...
Durante alguns dias, pensei se deveria escrever um artigo sobre a tão falada visita presidencial ao concelho de Albergaria-a-Velha no passado dia 21 de Janeiro. O que me moveu a fazê-lo, foi o facto de ter lido diversos artigos sobre a referida visita que julgo merecerem algumas correcções. Caso contrário, daqui a alguns anos, qualquer pessoa que leia os diversos jornais que falaram deste tema ficará convencida que tudo correu bem e que tudo o que se escreveu foi verdade.
Assim, e ao contrário do que alguns autores referiram, a visita presidencial ao concelho foi marcada por algumas “gafes” e incorrecções, manifestando, de forma inequívoca, o desconhecimento quase total das normas protocolares oficiais existentes em Portugal.
Após ter visto na imprensa regional alguns dos convites públicos feitos por câmaras municipais vizinhas, foi com enorme perplexidade que lemos neste nosso “Jornal de Albergaria” o Convite do Município de Albergaria dizendo “Primeira Visita Oficial do Presidente da República Portuguesa, Dr. Jorge Sampaio, ao Concelho.”
De facto, o convite da autoria da nossa autarquia, começou da prior maneira possível, com três erros “crassos” num convite tão pequeno.
Primeiro: Parece não ter sido a primeira visita oficial de um Presidente da República ao concelho de Albergaria-a-Velha, conforme foi noticiado com bastante ênfase. Parece que já todos se esqueceram da 1.ª República em que mudávamos de Governo “como quem muda de camisa” e chegámos a mudar de Presidente da República duas vezes no mesmo ano.
Segundo: As mais básicas normas protocolares existentes em Portugal não foram cumpridas, já que o Presidente da República é sempre: Sua Excelência o Presidente da República.
Terceiro: Nenhum Convite termina “com os melhores cumprimentos”. Isso são as cartas, e apenas algumas.
Por aqui se demonstra bem o desconhecimento total das normas protocolares e o que deve ser a comunicação institucional. Como é sabido (pelos vistos, apenas por alguns), os tratamentos honoríficos são alvo de normas protocolares em toda a Europa e, naturalmente, Portugal não foge à regra e detém igualmente normas para todo um conjunto de procedimentos: tratamento social, convites, trajes, cumprimentos, ordenação das bandeiras, protocolos em recepções e à mesa, etc.
Se no dia a dia grande parte dessas medidas poderão não ter aplicação prática, em recepções oficiais desta natureza não podem já mais ser esquecidas.
O tratamento honorífico em Portugal é o seguinte:
Presidente da República: Sua Excelência
Rei ou Rainha: Sua Magestade
Príncipes: Sua Alteza Real
Ministros: Excelência
Oficiais Generais: Excelência
Cardeal: Eminência Reverendíssima
Arcebispo, Bispo: Excelência Reverendíssima
Etc., Etc.
Mas o chorrilho de “gafes” e incorrecções não se ficou apenas pelo Convite publicado na Imprensa regional. Na própria visita, ou pelo menos na parte a que tivemos oportunidade de assistir, a recepção oficial foi marcada por constantes quebras protocolares.
Após alguma desorganização no momento da chegada de tão ilustre visitante, foi altura de ouvir o hino nacional formados frente ao edifício dos Paços do Concelho. Aí, naturalmente o Presidente da República fica ao centro mas, quem fica à sua direita? Não é concerteza o Presidente da Câmara como o foi, mas sim a primeira figura do concelho na ordem protocolar, ou seja, o Presidente da Assembleia Municipal.
Mas mais. Após a entrada no átrio do edifício e uma recepção musical de grande interesse cumprimentando Sua Excelência, seguiu-se o descerrar de uma lápide incorrecta e de gosto muito duvidoso.
Foi então altura da subida ao salão nobre que, estava devidamente reservado a convidados institucionais. Só foi pena que se tenham esquecido de alguns dos mais importantes convidados naquela área. Tiveram tempo mais do que suficiente para elaborar uma listagem de convidados institucionais sem esquecer ninguém. Se o fizeram e, se, mesmo assim, esqueceram alguém, ao repararem no dia a presença das pessoas esquecidas deveriam tê-las incluído “à pressa” no lote de convidados. É imperdoável o Provedor da Misericórdia, que é uma das principais figuras locais em termos protocolares, não ter um lugar reservado numa das primeiras filas, senão na primeira, e ser igualmente lamentável, o tratamento diferenciado entre representantes de organismos públicos e/ou de colectividades, esquecendo, a título de exemplo, o Chefe da Repartição de Finanças e algumas associações.
Outro dos graves erros protocolares, senão o mais grave, prendeu-se com a constituição da Mesa de Honra. Onde raio é que foram buscar aquela ideia? Era difícil engendrar uma mesa prior organizada do que aquela. Das duas uma: ou o Presidente da República ficava na mesa da Assembleia dando a direita ao Presidente da mesma, ladeados pelos respectivos secretários ou eventuais outros convidados de honra, ficando a Câmara no seu respectivo lugar, ou seja a mesa da frente; Ou, no caso do Presidente da República ficar a presidir à mesa da Câmara, dava a direita ao Presidente da Assembleia Municipal, seguindo-se o Presidente da Câmara e os restantes convidados de honra, ficando facilmente ocultada a mesa da Assembleia através da Guarda de Honra dos nossos Bombeiros Voluntários.
Quanto ao discurso do Senhor Presidente da Câmara, apesar de ter sido alvo de elogio por parte do Presidente da República (naturalmente, como o foram todos os dos outros presidentes de câmara) devido à forma positiva como encarou o futuro, na minha modesta opinião foi muito fraco. Primeiro porque nem sequer cumpriu os procedimentos protocolares exigíveis a uma Sessão Solene deste tipo. Segundo porque se perdeu a falar da História de Albergaria no tempo da Rainha D. Teresa, de uma forma algo deturpada e com pouco interesse, claramente muito mal pesquisada numa História de Portugal do Professor Matoso, quando em vez disso, deveria ter feito um “Raio X” do concelho, o mais sucinto possível, nos seus aspectos económicos, sociais, culturais, etc., do género: quantos somos, quem somos, o que fazemos, quais são as nossas vantagens e desvantagens, etc. É para isso que também servem as Visitas Oficiais.
Existem um sem número de detalhes que devem ser tratados numa visita oficial desta natureza. Para além dos factores acima citados, também outros deveriam ter sido alvo de um cuidado especial, nomeadamente: as bandeiras, os estandartes, os trajes, as medalhas, etc, só para falar em alguns.
Que esta pequena crítica seja construtiva. Que os responsáveis aprendam. Se não quiserem aprender, quando tiverem situação idênticas telefonem a autarcas amigos ou vizinhos e demonstrem humildade, caso contrário acabam por demonstrar ignorância.
Mesmo que, para a maioria dos munícipes, os pormenores que aqui referi nada tenham de relevante, o que é certo é que existem normas protocolares a cumprir, uma espécie de regras de “boa educação”. As normas não existem por mero acaso, mas sim por que sem elas cada um organizava as coisas como queria sem o mínimo de racionalidade.
Afinal, Teresa Heinz Kerry, a eventual primeira dama norte americana filha de Albergariense, tinha razão ao referir-se à terra onde seus pais viviam: “no campo, perto do Porto”.
Será que Albergaria-a-Velha é assim tão campónia? Ou apenas estará a passar uma fase má?
Quando há alguns meses escrevi sobre a visita de El Rei D. Manuel II a Albergaria-a-Velha em 24 de Julho de 1910, estava longe de imaginar que aqui faria uma crítica a uma visita de um Presidente da República. Mas, a República tem destas coisas ...
Partilhado por JMO em 02/03/2004