Os reformados da Fábrica Alba promoveram no passado dia 16 de Junho o IV convívio com a realização de um almoço de confraternização na Pensão Alameda, e em que estiveram presentes 70 reformados.
Antes do almoço, foi prestada uma homenagem ao antigo patrão, Augusto Martins Pereira, assinalando-se o 30° aniversário da sua morte. Foi celebrada missa pelo Rev° Pe. Messias Hipólito, de Aveiro, por alma de Augusto Martins Pereira, de seu filho Américo Martins Pereira e de companheiros, já falecidos.
No fim da missa, foi efectuada uma romagem ao cemitério onde, na capela estão depositados os restos mortais de A. Martins Pereira, foi depositada uma coroa de flores, pela reformada mais antiga, Aurea de Almeida. Nesse momento o nosso companheiro J. Acúrcio proferiu algumas palavras que a seguir se transcrevem:
Caros Companheiros:
Há trinta anos que morreu Augusto Martins Pereira. Na condição de reformados da empresa que ele criou e nós ajudámos a crescer, trouxe-nos aqui o propósito de o recordar, de lhe preitear a memória - e a memória dos nossos companheiros já riscados do rol dos vivos.
Desaparecido do nosso convívio há tantos anos já, mesmo assim a sua figura, os seus modos, os seus trejeitos, conservam-se bem gravados na nossa lembrança.
Levou uma vida inteira de labuta, sem tréguas - diríamos que desde os bancos da escola se não soubessemos, da sua própria boca, que nunca por lá passara.
Não vamos enfeitar-lhe a imagem, engrinaldá-la de santidade. Ele não foi um santo, foi um HOMEM - dotado de perseverança a rodos, de uma vontade de ferro que só a doença quebrantou e venceu.
Aqueles de nós que com ele mais de perto lidaram, conhecemos-lhe as impaciências, o frenesim - e a aversão em que tinha os desajeitados e os mandriões.
Na história da fundição deste país, quando um dia alguém a escrever, o nome de Augusto Martins Pereira figurará entre os maiores na galeria dos pioneiros. Como poucos, talvez como ninguém, porque participei em muitas assembleias e congressos, eu saiba quanto respeito e prestigio irradiavam do seu nome, da sua obra. E de quanto respeito e prestigio desfrutaram por esse mundo fora homens a quem ele ensinou o oficio de fundidor.
Tempos houve em que a insígnia da empresa, a rodelazinha com ALBA lá dentro, cintilava como estrela da primeira grandeza no firmamento da Fundição - por si só constituía um penhor, uma garantia da qualidade. Foram tempos gloriosos esses, deles já só resta a recordação, mais apagada por cada dia que passa - e a nós, que vivemos esses tempos, que ajudámos a construir essa imagem, dói-nos que ninguém mexa uma palha que seja para lhe atear o esplendor.
Por mercê do destino, temos connosco, aqui ao nosso lado, alguém que constitui autêntica legenda viva desses tempos gloriosos - alguém que conheceu o nosso velho Patrão como às palmas das mãos, que lhe ouviu muito sermão, mas que nunca o deixou ir sem resposta... É a nossa Aurea. Regozijamo-nos todos coma sua presença aqui, entre nós, a curtir connosco recordações e saudades desses tempos.
Em nome de todos nós lhe rogo nossa querida Companheira e Amiga, que deponha estas flores nesses degraus.
Através delas honramos a memória de Augusto Martins Pereira, do nosso velho Patrào, e com ela a memória dos nossos companheiros. E agora, se estiverem de acordo, recolhamo-nos nuns breves momentos de silêncio.
Bem Hajam!
Para muita gente com quem falámos da homenagem que se ía prestar a Martins Pereira notámos com alguma surpresa que um certo número de pessoas tem a memória muito curta relativamente à obra deixada pelo inesquecível Martins Pereira, não só na sua Fábrica como na própria vila de Albergaria-a-Velha. Para avivar a memória dessas pessoas nunca será de mais, embora reduzidamente falar de Martins Pereira e das suas actividades na Fábrica, e na Vila propriamente dita. Por isso comemorar o 30º aniversário da morte de Augusto Martins Pereira, é recordar o Homem a quem se deve muito do desenvolvimento e progresso de Albergaria.
E o facto mais importante que muito contribuiu para essa realidade, foi quando Martins Pereira iniciou a sua vida em Albergaria com uma simples e pequena oficina de fundição e em poucos anos a transformou numa grande empresa com o prestígio de uma Fábrica ALBA que todos nós conhecemos.
É evidente que isso só foi possível com a colaboraçáo de todo o seu pessoal trabalhador, mas a trave mestra dessa proeza, foi sem dúvida Martins Pereira. Era um homem simples, com uma grande bagagem de conhecimentos de fundição, e com excepcionais qualidades de trabalho. Não era um homem de muita cultura, mas era inteligente, perspicaz e com uma larga visão das coisas. Com todos estes predicados e bafejado um pouco pela sorte, alcançou a boa posição económica e social que então desfrutava. Nem por isso se fechou na sua torre de marfim, virando as costas a tudo e a todos. Não! começou imediatamente a melhorar as condições de trabalho e outros sectores da vida do seu pessoal iniciando a construção de um bairro social (Bairro Alba) de um refeitório, dos balneários, do Centro Cultural e Recreativo, do Cinema, do Parque de Jogos e de diversões sem nunca perder o entusiasmo com o seu grupo de futebol e com a banda de Música.
Sem nunca abandonar os trabalho da sua Fábrica foi ainda o pioneiro da benemerência em Albergaria e ocupou com mérito os lugares de Provedor da Misericórdia e de Presidente da Câmara Municipal e logo se lançou na realização de obras importantes para a Vila, a construção do Bairro da Misericórdia, da Casa da Criança, da Casa dos Magistrados, da Rede de Abastecimento de Águas (última fase), e com particular interesse o Hospital, para o qual, graças a Martins Pereira mereceu a "comparticipação da Fábrica ALBA e de todo o seu pessoal".
Todos os factos que aqui foram focados, são mais que suficientes para se poder afirmar e reavivar a memória a muita gente que Martins Pereira trabalhou incansavelmente para o engrandecimento e progresso de Albergaria, portanto a sua memória merece o maior respeito de todos os Albergarienses!
Terminadas as cerimónias da homenagem a Martins Pereira, foi então servido o Almoço na Pensão Alameda, foram uns belos inesqueciveis momentos de companheirismo, que não se deve perder enquanto formos vivos.
Tivemos muita pena que Arnaldino Rodrigues e António Marques da Silva não estivessem presentes este ano por falta de saúde. O carola deste ano foi Celso Silva auxiliado por H. Limas, Ezequiel C. Nogueira, Mário Marques Lemos, e que não foram de mais.
Foi feita uma saudação muito especial a Aurea de Almeida na qualidade da reformada mais antiga, presente no nosso convívio. Igual saudação foi feita a J. Acúrcio como realizador destes convívios e da homenagem prestada a Martins Pereira.
Resta-nos então informar que o nosso convívio passará a ser promovido no primeiro Sábado do mês de Junho.
Pela Comissão
Hernâni Limas
Jornal Beira Vouga, 05/07/1990
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