sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Revelações sobre a Branca

2007

Na noite em que se comemoraram 152 anos desde a integração da freguesia da Branca no Concelho de Albergaria-a-Velha (24 de Outubro), a Câmara Municipal organizou, no CCB, a tertúlia "Conversas em redor da Branca", onde um painel de quatro especialistas deu uma visão singular sobre a freguesia em diversos períodos históricos.

Nélia Oliveira, Técnica Superior de Arquivo e Biblioteca, realçou a importância do património (nas várias vertentes histórica, paisagística e cultural) como forma de perpetuar a memória colectiva. segundo os estudos efectuados, especialmente nas estações arqueológicas de S. Julião e Crestelo, pode-se afirmar que Branca é uma povoação muito antiga, com vestígios proto-históricos e romanos. Ao longo dos séculos, muito se destruiu, mas a oradora salientou que ainda existem exemplos de património histórico que merecem destaque na freguesia, nomeadamente a Quinta  das Relvas, a Calçada de Relvas  (talvez do período romano) e a Quinta do Outeiro.

Delfim Bismarck, historiador e conservador de museu, realçou, igualmente, a antiguidade da freguesia que, na idade média, pertencia às Terras de Santa Maria. Na Inquirição de D. Afonso II, em 1220, já existia um povoado relevante na Branca, com uma Igreja, propriedade do rei, e uma Ermida denominada de Santa Maria. Nos foros pagos ao monarca, destacava-se o pão, vinho, linho, trigo, milho, ovelhas, cabras, porcos, galinhas, queijo, manteiga e ovos, todos estes bem muito preciosos para os lavradores da época. Nos censos de 1527, no reinado de D. João III, notou-se uma perda acentuada de população na zona da Branca, mas o tempo veio comprovar que a freguesia tinha potencial para fixar pessoas. No final do século XIX, a indústria era um forte "chamariz" para a freguesia. Manuel Ferreira Rodrigues, professor universitário que estudou a indústria na região de Aveiro entre 1864 e 1931, notou que existia muita actividade na época, principalmente nas áreas de moagem, cerâmica, serração, minas, lacticínios e exploração florestal.

Na última intervenção da noite, Paula Abreu, socióloga, referiu que a Branca já não e a "freguesia industrial" de antigamente, mas, mesmo assim, continua a ser um local privilegiado, estando localizada entre pontos estratégicos muito importantes (Porto, Aveiro e Coimbra). Apesar das características urbanas ao longo da "coluna vertebral" da freguesia (o IC2), Paula Abreu salientou que continuam a existir vestígios de uma certa ruralidade, o que a leva a falar de uma multiplicidade de comunidades, com modelos de organização e estruturação económica diferentes. "Branca é como um pequeno laboratório do país", um espelho da realidade mais vasta que compõe Portugal.


Albergaria em revista, 2007/2008

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