Recebi de Nélia Oliveira, historiadora portuguesa da Branca, três publicações tratando da história da região de Albergaria-a-Velha, a saber: "Auranca e a Vila da Branca", e "Cine-Teatro Alba – 50 anos", ambas edições da Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha; e "Ribeira de Fráguas – a sua história", esta em co-autoria com Nuno Jesus e editada por CEDIARA – Centro de Dia para Idosos da Ribeira de Fráguas. Nem precisa dizer que me deliciei lendo a história de Ribeira de Fráguas; o livro é bem documentado do ponto de vista histórico e apresenta vasta iconografia local – foi um passeio nostálgico pela minha infância!
Mas não podia acreditar no que li na página 144 do livro de Nélia e Nuno: fatídico incêndio destruíra a igreja paroquial de Ribeira de Fráguas, na madrugada de 3 para 4 de Maio de 1953!
Seria possível?! Na minha memória esse incêndio ocorrera mais tarde, pouco depois de nosso retorno ao Brasil em janeiro de 1957, tanto que nem o mencionei nos meus "Cacos da Memória", cujo relato termina com a chegada da família ao Rio de Janeiro. Forçando os arquivos do tempo, constatei que naquela ocasião se dera uma campanha entre os imigrantes para angariar fundos tendo em vista a construção de novo templo em substituição ao que pegara fogo. Minha memória não registrara o sinistro, mas a posterior campanha de doações como se o próprio fora. Àquela altura do incêndio eu estava com 6 anos e 7 meses e prestes a ingressar na escola primária; que interesse pode haver para uma criança dessa idade, em igrejas e incêndios de igrejas?
O curioso é que tempos mais tarde estive na igreja incendiada, alegadamente para assistir à missa dominical, e não registrei as consequências do incêndio!
O adro, as paredes da nave e a torre sineira estavam com aspecto normal por fora; arderam-se as madeiras – o telhado e o forro, portas e janelas, os altares e retábulos, os bancos. Nélia informa que as missas realizaram-se durante algum tempo naquele templo, precariamente, improvisando-se um telhado de palha. Não vi nada disso! Quando entrei a missa havia acabado, as pessoas estavam de pé e eu no meio delas, pequeno e sem horizonte. Não olhei para cima ou para os lados; naquele dia eu só tinha olhos para os meus lindos sapatos de verniz!
João António Rodrigues Ventura, Junho de 2010
2 comentários:
Que surpresa agradável, ver reproduzido neste blog um texto de minha autoria e a capa do meu "Cacos da Memória"! Agradeço muito. Atualmente estou produzindo outro livro, infantil, a sair em meados de agosto próximo. Gostaria de enviar-lhes um exemplar; para tal basta mandar-me o endereçamento postal completo. Abraços.
João Antonio Rodrigues Ventura
Obrigado pela sua oferta mas talvez fosse mais interessante se enviasse os dois livros (caso ainda tenha exemplares do primeiro) para a Biblioteca Municipal de Albergaria que curiosamente está a comemorar hoje o primeiro ano nas novas instalações. Assim estaria disponível para muitas mais pessoas incluindo eu.
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