segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Albergaria-a-Velha e o seu concelho

Albergaria-a-Velha e o seu concelho (1874-1957)
DR. ANTÓNIO FORTUNATO PINHO - 15/04/1874 - 16/04/1958

Eu era pequenito e vivia com meu avô materno e minhas tias ali na extinta Farmácia Lemos & Filha, na Rua de Santo António.

E lembro-me, lembro-me como se fôsse hoje, de ouvir o meu avô dizer «O Senhor Dr. Pinho vai-se casar com a Senhora D. Maria Emília de Albuquerque, da «Casa da Rua de Cima».

A «Casa da Rua de Cima» é, nesta vila, a Casa Mater dos Albuquerques, hoje na legitima posse de um dos seus descendentes o Ilustre Dr. José Homem de Albuquerque Ferreira.

Não me lembro de ouvir falar no casamento, que se deveria ter feito pouco tempo depois. Eu era muito pequenino. Do casamento do Senhor DR. ANTÓNIO FORTUNATO DE PINHO com a Senhora D. Maria Emília Correia Telles de Araújo e Albuquerque nasceram a Senhora D. Maria Regina, a Senhora D. Maria Luísa e o Sapientíssimo Doutor António Homem Correia Telles de Albuquerque Pinho, a partir deste número (finalmente!) nosso Ilustre Colaborador e o primeiro Professor Universitário que Albergaria-a-Velha, vila, teve, nos oito séculos da sua História. (...)

O DR. ANTONIO DE PINHO que eu recordo e que tanto me ensinou de Direito (de Direito e doutras coisas) é já o da segunda metade da sua vida, pois quando eu comecei a advogar, ele Já tinha 66 anos. Havia, então, cá, quatro Advogados: o DR. PINHO, o Dr. Hernâni Ferreira de Miranda, o Dr. Silvino Gonçalves de Sousa (estes dois eram Advogados e Notários) e o Dr. Armando de Albuquerque Miranda, que usava o nome de Armando de Albuquerque. [Mais o Dr. Alfredo de Sousa e Melo e o Dr. Manuel Homem Ferreira que começou a advogar quase quando eu!] Eu comecei a advogar em 1950, mas já cá estava desde 1944, ano em que morreu meu pai e em que eu tive de me fixar em Albergaria-a-Velha. Até 44, eu andava a monte... por Lisboa, pelo Porto, por onde calhava...

Quando cá vinha, visitava sempre o Senhor DR. PINHO, como era conhecido aqui entre nós. Dessa altura, lembro-me bem dele. Era o Dr. Pinho o Orador oficial de Albergaria. Falava bem. pausadamente. Não era rápido na oração. Mas construia muito bem a frase, que tinha sempre aquela estrutura estilística, que o improviso rápido não permite.

Quando comecei a advogar, o DR. ANTÓNIO DE PINHO foi muito meu amigo e um belo Mestre. Uma vez, em pleno julgamento, em situações opostas, ele não quis aproveitar-se da sua maior sabedoria e da minha menor experiência, pelo contrário, chamou a minha atenção para certo aspecto que eu desprezara e não era para o fazer. Perdi essa questão, mas caí de pé. Foi a sua bondade a sua amizade que permitiram que me não estatelasse, como um «caloiro» que era.

(...)

A sua profunda cultura humanística levou-o para a História desta Albergaria, que vem dos tempos de D. Teresa, Mãe de D. Afonso Henriques, como ele bem o documentou na sua primorosa Biobibliografia ou, se se quiser mais acríbia, Monografia ALBERGARIA-A-VELHA E O SEU CONCELHO, que a Tipografia Vouga editou em 1944 e que é a autêntica Crónica de Albergaria-a-Velha. Foi uma obra que mereceu ao PROF. DOUTOR MARCELLO CAETANO o mais aberto louvor.

Havia dados soltos publicados em jornais, alguns do saudoso Senhor Patrício Teodoro Álvares Ferreira (1846-1932) que «fez extrair certidão da Carta de Couto d'Osseloa que se encontra na Torre de Tombo, e publicou-a na Gazeta de Albergaria de 19 de Fevereiro de 1927, e daqui foi transcrita na Gazeta de 10 de Junho de 1934».

Tudo quanto há em volume para a História de Albergaria-a-Velha a este Benemérito Historiador da nossa terra.

E, no entanto, não há uma Rua com o seu nome, não há a estátua que Albergaria-a-Velha lhe deve!

É da sina de Albergaria-a-Velha, ignorar os seus filhos e endeusar os estranhos. Até se diz que Albergaria é má mãe e boa madrasta. (...)

Evocar o nome do inolvidável e muito Ilustre DR. ANTÓNIO FORTUNATO DE PINHO, que morreu faz no dia 16, quinze anos, é um imperativo de gratidão que todos os albergarienses devem ao seu primeiro Historiador e é um acto de justiça e pura amizade que o meu coração lhe presta.

Vasco de Lemos Mourisca, Arauto de Osseloa nº 198, 01/04/1983

Actualmente já existe uma rua com o seu nome. Em 16 de Janeiro de 1944 foi editado o primeiro fascículo de "Albergaria-A-Velha E o Seu Concelho" de António de Pinho.

Dados Biográficos de António Fortunato de Pinho
http://blogdealbergaria.blogspot.pt/2011/09/antonio-fortunato-de-pinho-1874-1957.html

Índice da obra
http://blogdealbergaria.blogspot.pt/2011/11/albergaria-e-o-seu-concelho-de-antonio.html

Referências bibliográficas:

Albergaria-a-Velha 1910 da Monarquia à República - pp. 306 e 307

Gente Ilustre Em Albergaria-a-Velha - pp. 13 e 14

Associação dos Bombeiros Voluntários de Albergaria-a-Velha - Subsídios para a sua História

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