Albergaria-a-Velha e o seu concelho (1874-1957) |
ALGUMAS PALAVRAS
COMO EXPLICAÇÃO E COMO HOMENAGEM
Consideramo-nos depositários de bastantes documentos e apontamentos, lenta e pacientemente recolhidos mercê da curiosidade e canceiras de várias pessoas, que tinham por objectivo, de certo, prestar a sua colaboração com uma obra de natureza idêntica à que trazemos agora a público.
A morte levou todos os que, com carinho. com perseverança e talvez com paixão. se dedicaram a essa ingrata tarefa e é certo que alguns deixaram, na brilhantes do seu labor.
Duma vez sabemos, que se tentou a publicação sistematizada de documentos, acompanhados de notas valiosas. Deram-se, porém, os primeiros passo, e mais não se avançou.
Fez-se, depois, a publicação de documentos dispersos, obedecendo-se apenas ao intuito de se dar conhecimento do muito que se podia esperar para a História da nossa terra — e despertar algum entusiasmo e interesse, por estes assuntos, em tantos que deles andavam arredado, e que podiam tornar-se apreciáveis colaboradores —. O interesse, sempre efémero, esmorecia no dia seguinte, apagava-se breve, e os jornais inutilizavam-se por desnecessários. Se alguém, por espírito de coleccionador, os arquivava, não pensava mais em folheá-los para pousar a vista, ainda uma vez, em documento que a princípio prendera a sua atenção. Era fastidioso...
Para que tantos elementos de valor não viessem o extraviar-se e perder-se, cumpria publicá-los em volume de fácil consulta e em que os assuntos aparecessem arrumados com alguma sequência.
Foi o que nos propuzernos fazer, certos de que outros, melhor apetrechados, se dispuzessem, a completar o nosso trabalho, cujo mérito se reduz, quase, à fidelidade dos documentos que contém, e no escrúpulo que presidiu às anotações.
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Queremos deixar aqui consignado que o maior incitamento para esta publicação nos veio do Sr. José Figueiredo, proprietário da Tipografia Vouga, pela espontaneidade com que assumiu todos os encargos da edição.
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Consideramos um dever relembrar, neste momento, os nomes daqueles que muito contribuíram para se compilarem todos os materiais de que nós utilizamos. Cumpramos, pois, esse dever.
—ANTÓNIO AUGUSTO HENRIQUES FERREIRA, falecido na casa da Travessa, desta vila, em 11 de Setembro de 1885, com 69 anos, era irmão de João Henriques Ferreira Júnior, enforcado como liberal em 9 de Outubro de 1829, e do Dr. José Henriques Ferreira, a quem Fazemos largas referências, no lugar próprio, pela sua acção nas lutas liberais e na criação do nosso concelho. António Augusto, inteligente e culto, deixou um caderno de valiosos apontamentos, relativos a acontecimentos seus contemporâneos e a factos anteriores.
—PATRÍCIO TEODORO ÁLVARES FERREIRA, falecido em 10 de Abril de 1932, com 86 anos, foi talvez o investigador de maior profundidade e extensão, possuindo um vasto repositório de documentos inestimáveis, que correm o risco de se perder. Dotado duma cultura superior no seu meio, escrevia com elevação, afirmando-se pela pureza da linguagem e pelo classicismo da expressão. Iniciou no jornal O Movimento a publicação de vários documentos. que copiosamente anotava, mas não deu seguimento a essa tentativa de reconstituição da história da nossa terra, e que tão bem se augurava. Recentemente, e na Gazeta, de Albergaria, recomeçou sob outra orientação, não indo além de algumas páginas.
—JOÃO DE PINHO, falecido em 4 de Março de 1939, com 68 anos, era uma alma dedicada à sua terra, tomando parte activa em todas as iniciativas que tendiam a elevá-la e engrandecê-la. Devotou-se a coleccionar documentos e factos que respeitassem à sua História, fazendo publicar no Jornal de Albergaria o maior número deles. Teve como auxiliar ALBERTO EDUARDO DE SOUSA, que aqui, como Escrivão de Fazenda, radicou profundas simpatias, nunca esquecendo Albergaria, que era para ele a terra adoptiva. Colocado na Inspecção de Fazenda em Aveiro, onde se achava depositado o vasto arquivo do Convento de Jesus, dele extraiu a cópia de vários e longos documentos, que interessavam a Albergaria, remetendo-os a João de Pinho. Veio a falecer em casa do seu genro, Sr. Manuel Marques Lima, de Mouquim, em 8 de Dezembro de 1913. com 71 anos.
—AMÂNDIO DE MIRANDA CABRAL, falecido em 7 de Maio de 1921, com 49 anos apenas, era um funcionário inteligente e zelosíssimo, merecendo a consideração e estima de todos os magistrados com quem serviu, e a de todos aqueles que com ele tratavam, quer pelo seu saber, quer pelo seu aprumo moral. Trabalhador metódico e incansável, ainda lhe sobejava vagar para tomar bastantes notas, dia a dia, e buscar outras de velhos papéis.
Para a memória de cada um destes homens, vai uma parcela da nossa gratidão e da nossa saudade.
Janeiro de 1944
António de Pinho
Posfácio
O Prof. Doutor Marcelo Caetano elaborou um Plano para ser observado pelos seus alunos que se propuzessem escrever a monografia dos respectivos concelhos.
Nesse Plano dizia que eram condições essenciais duma monografia:
— o método e a clareza da exposição
— a probidade nas afirmações; e
— o escrúpulo na documentação.
Acrescentava a seguir:
Não importa escrever muito: mas é preciso escrever bem, referir os factos nos seus lugares, e separar nítidamente as matérias distintas entre si.
Cremos ter obedecido a estes ditames antes mesmo de os conhecer, pois nos norteámos, tão somente, pela nossa própria orientação, já vincada nos fascículos publicados há 13 anos.
Não indicaremos os motivos da interrupção havida, embora possamos afirmar que, no longo lapso do nosso aparente repouso, colhemos novos e valiosos elementos que agora inserimos, e que melhor esclarecem, se não completam, determinados assuntos bastante complexos.
Este nosso trabalho representa anos de paciente e lenta investigação, e não menor esforço se tornou necessário para a análise e coordenação dos documentos e elementos, ou por nós exumados ou recebidos de outrem.
Propositadamente nos abstivemos de tratar de factos e assuntos nossos contemporâneos, não só para evitarmos interpretações duvidosas e algumas susceptibilidades, mas ainda porque é uma fase cujo estudo está ao alcance de todos.
Não tivemos, nem podíamos ter, pruridos de literato, e apenas nos guiámos pelo desejo de ser útil à nossa terra com esta obra, que outros, no futuro, se encarregarão de completar.
A critica dirá se conseguimos o nosso objectivo.
Albergaria-a-Velha, 5 de Dezembro de 1957
António de Pinho
Obras não impressas referidas em Gente Ilustre em Albergaria-a-Velha de seu filho António Homem de Albuquerque Pinho que seguiu os passos de seu pai.
Apontamentos da vida albergariense (manuscrito de João de Pinho)
Coisas e Loisas, principalmente de Albergaria (manuscrito de António Augusto Henriques Ferreira)
Notas a Esmo (conjunto de três manuscritos de Amândio de Miranda Cabral)
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