Com a abertura da Escola Secundária e da Escola Preparatória Conde D. Henrique foi criada uma nova zona habitacional em Albergaria-a-Velha conhecida por "Novos Arruamentos das Escolas Técnicas". Com o tempo passou a ser conhecida apenas por "Novos Arruamentos".
sexta-feira, 5 de abril de 2019
Litoral Magazine - Entrevista a Delfim Bismarck
O vice-presidente da Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha e vereador da cultura, Delfim Bismarck, revela que o projeto cultural para o concelho passa por um setor que muitas vezes é esquecido: o da identidade histórica e cultural.
Com vários projetos a decorrer nesta área, acredita que cidadãos mais informados serão mais capacitados e ativos. Em entrevista à Litoral Magazine, garante que conhecer a nossa história e o nosso património é um fator diferenciador na identidade territorial. “Só se ama aquilo que se conhece!”
LM - Explique-me a estratégia cultural do município para 2019?
DBF - Para 2019, a estratégia cultural do município vem na sequência dos anos anteriores, nomeadamente no que diz respeito à criação de públicos e do reforço da identidade histórica e patrimonial do concelho. Sem estes, estaríamos a programar e a investir dinheiros públicos sem retorno. Daí a nossa preocupação em criar uma oferta cultural transgeracional muito diversificada, não indo atrás de tendências ou modas que na sua maioria não trazem mais-valia alguma para o território.
LM - O orçamento mantém-se igual relativamente ao ano passado?
DBF - De uma forma geral sim. Deveremos rondar 1,1 milhões de euros de investimento na área da cultura, entre atividades, apoio a coletividades, programação no cineteatro Alba, na biblioteca e no arquivo municipal, escavações arqueológicas, edições, entre outros, não incluindo encargos com as referidas instalações nem custos com o pessoal.
LM - O que Albergaria-a-Velha pode esperar para este ano?
DBF - Para além da natural consolidação de uma programação eclética, existirão algumas novidades que passam pelos primeiros passos na criação de um museu, a organização de uma conferência internacional na área das bibliotecas, a ampliação da Rota dos Moinhos, e a aquisição de mais um sítio arqueológico de relevo para posterior escavação e estudo.
LM - Qual o objetivo da criação do museu?
DBF - Será um museu onde serão realçados os mais importantes contributos para a história regional e nacional, pois os territórios que compõem o concelho de Albergaria-a-Velha foram, em diversos períodos, extremamente importantes para a história nacional, fosse na pré-história, na Idade Média, na história da indústria moageira, papeleira, de mineração e de fundição, ou ainda na 2.ª Invasão Francesa, na Monarquia do Norte, entre outras. A ideia é criar um museu que conte estas e outras histórias, uma vez que a maioria da população não tem noção do papel de Albergaria-a-Velha na História de Portugal.
LM - Qual a importância do Festival do Pão para a promoção do concelho e dos seus recursos?
DBF - O Festival do Pão de Portugal insere-se numa estratégia integrada na área do Turismo e Património, planeada pela autarquia. Assim, considerando a diversidade e qualidade dos recursos do município ao nível dos produtos locais e da gastronomia, bem como de um conjunto de recursos turísticos com elevado potencial e, por outro lado, a oportunidade de a partir deles conceber novas ofertas territoriais que potenciem o concelho na sua globalidade e onde este se possa diferenciar pela positiva, o tema do pão (e tudo a ele associado, como sejam os moinhos ou a indústria de panificação) surge como uma oportunidade a explorar em Albergaria-a-Velha.
LM - E o Albergaria ConVida?
DBF - O Albergaria ConVida, sendo outro dos grandes eventos anuais, já não é tão diferenciador, uma vez que gastronomia, artesanato e grandes concertos existem um pouco por todo o lado. No entanto, com o Festim – Festival Internacional de Música do Mundo e com os grandes nomes nacionais em concerto, temos conseguido atrair a este festival milhares de pessoas naquele que é um dos momentos altos da animação cultural do concelho.
LM - De que forma a Rota dos Moinhos contribuiu para a reconstrução do património da região?
DBF - Sendo Albergaria-a-Velha o concelho de toda a Europa com mais moinhos de água inventariados, mais de 350 moinhos, entendeu a autarquia divulgar e promover todo esse vasto património edificado, criando a Rota de Moinhos do concelho de Albergaria-a-Velha. De facto, esta é uma temática que pela sua expressão cultural do território e componente da sua identidade regional, constitui-se como um importante elemento diferenciador e de elevado potencial. Assim, temos assistido, gradualmente, ao aumento do número de moinhos recuperados, ao aumento do número de moinhos inseridos na Rota dos Moinhos e ao aumento do número de visitantes à mesma.
LM - Albergaria-a-Velha tem uma iniciativa única na região: o Festival Risorius. Que mais-valias trouxe para o município?
DBF - O Risorius, Festival de Humor e Arte, tem vindo a consolidar outra das marcas culturais de Albergaria-a-Velha no panorama nacional. Graças ao médico e humorista Carlos Vidal, mentor deste festival, a quem damos total “carta-branca” para programar edição após edição, este festival é já uma referência a nível nacional, tendo por aqui passado os principais nomes nacionais nesta matéria. Recentemente, com a realização do programa “Governo Sombra”, durante o festival, este teve, uma vez mais, grande mediatização nacional.
LM - Qual a iniciativa cultural que considera ter sido a mais vantajosa para o concelho?
DBF - De todas as referidas anteriormente, creio ter sido o Festival do Pão de Portugal, pois a sua visibilidade na comunicação social nacional ultrapassa todos os eventos, mesmo a Expo-Florestal. E esse facto, só por si, reforça a competitividade de Albergaria-a-Velha e valoriza a sua identidade. É curioso como a diáspora Albergariense começou a lidar com o facto de o seu concelho estar nos canais televisivos nacionais por bons motivos. No passado, este tipo de visibilidade era escassa e quase sempre negativa, com alusões aos incêndios e à prostituição.
LM - De que forma considera que a população se sente envolvida com a programação do Cineteatro Alba?
DBF - O facto de a programação ser “um pouco para todos os gostos” contribuirá para isso. Naturalmente que existem ainda pessoas sem hábitos culturais, daí a nossa preocupação em chegar a essas “franjas” para que adquiram esses hábitos e não se sintam excluídos.
LM - Qual o papel da Biblioteca Municipal de Albergaria-a-Velha na promoção da cultura?
DBF - A biblioteca municipal é o principal equipamento municipal de difusão cultural. Para além de espaço de leitura, ali decorrem exposições, conferências e atividades muito diversificadas para públicos de todas as idades. Para se ter uma noção do que estamos a falar, só no ano passado foram cerca de 30.000 visitantes (160.000 desde a sua abertura ao público em 2013). Com cerca de 30 mil visitantes na última edição, este evento é, de longe, o evento concelhio de maior visibilidade nos órgãos de comunicação social nacional.
Litoral Magazine, 29/03/2019
Aproveitamos para recuperar parte de uma outra entrevista realizada em 2016:
A estratégia que temos vindo a implementar, não apenas para 2016 mas para o atual mandato, assenta na consolidação de um modelo de desenvolvimento que alie a cultura, a educação e a economia, de modo a atrair e fixar pessoas e atividades criativas e empreendedoras. Dinamizamos a atividade cultural nos diversos equipamentos culturais do Município através da valorização, do apoio e da promoção de diversas iniciativas e eventos. Apoiamos a ação dos agentes culturais locais, incentivando o associativismo e a preservação dos valores culturais tradicionais. Nestas áreas temos a destacar o Festival Pão de Portugal, um grande evento de dimensão nacional que atraiu cerca de 27 mil pessoas, em 2015, em volta da gastronomia e de um elemento tradicional que tem uma grande história na nossa região. Trata-se de um evento em que apoiamos a produção cultural local, uma vez que durante o festival há diversas apresentações e espetáculos produzidos por associações ou grupos albergarienses, o que permite evidenciar a qualidade do que se faz no concelho. A Rota dos Moinhos é outra das vertentes desta política. O levantamento e inventariação dos mais de 300 moinhos de rodízio no concelho, permite a preservação destes engenhos com mais de um século; o desenvolvimento de turismo de natureza; a preservação do património cultural e natural e a atração de visitantes de Portugal e do estrangeiro. Em 2014, por exemplo, a Rota dos Moinhos foi visitada por 406 pessoas, em 2015 foi visitada por 689 e esperamos aumentar esse número em 2016.
Outra vertente desta política é a preservação de sítios arqueológicos de interesse, continuando escavações em locais que estavam ao abandono há décadas, valorizando-os e ou musealizando-os, como são o caso das Mamoas do Taco, monumentos funerários com cerca de 5.000 anos, ou do Monte de São Julião, na Branca. A aposta que temos levado a cabo com a identificação e valorização dos Caminhos de Santiago, no caso o Caminho Português e o Caminho Caramulo/Vouga, é outro aspeto desta política cultural que alia turismo, natureza, património e religião.
Lançámos também uma política de estudo, inventariação, preservação, conservação, classificação e divulgação do património natural, histórico, cultural e arqueológico do concelho, como forma de valorização do território e do património, tornando-o mais competitivo, atrativo e diferenciado. Destaco aqui o lançamento da revista Albergue, uma publicação anual sobre a História e o Património de Albergaria, que permite mostrar a riqueza do território, não só às pessoas de fora, mas também aos próprios albergarienses.
Temos garantido igualmente apoio a edições temáticas de interesse cultural, como o catálogo da exposição da Cinemateca Portuguesa e do Museu do Neorrealismo, que assinala o centenário do nascimento do cineasta albergariense Manuel Guimarães, ou o documentário “Alba – Uma marca ao serviço da comunidade”, sobre o fundador da Fábrica Metalúrgica Alba.
Litoral Magazine, 26/02/2016
Delfim Bismarck é natural de Albergaria-a-Velha. Em 2013, aceitou o desafio lançado por António Loureiro, presidente da Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha para assumir as funções de vice-presidente e vereador da Cultura. Para Delfim Bismarck, Albergaria-a-Velha é um concelho bem localizado onde a indústria, o ambiente e a cultura se fundem e onde vale a pena investir, viver e visitar.
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