Um jornal de proximidade
A imprensa é a artilharia do pensamento. (Rivarol, Antoine)
O jornal Correio de Albergaria comemora mais um aniversário de uma renovada existência, desde cedo animada pela ambição de afirmar-se como “artilharia” privilegiada da informação local, esclarecendo dúvidas, fiscalizando e denunciando as grandes questões de um concelho abençoadamente multifacetado.
Num tempo em que muitos jornais nascem e morrem sem que deles se dê conta, à exceção de uns quantos exemplares preservados num punhado de bibliotecas, o Correio de Albergaria também não se livra de enfrentar as dificuldades inerentes aos tempos que vivemos, aceitando o desafio de manter e alargar o leque de patrocinadores e de assinantes, sem nunca condescender na sua luta por trazer sempre a comunidade informada dos factos que realmente contendem com os seus legítimos interesses.
Na verdade, a imprensa regional e local portuguesa tem origens na exaltação da Liberdade, que resultou do triunfo da Revolução Liberal de 1820 e da consequente promulgação da Carta Constitucional. Desde essa época que se multiplicaram no país centenas de jornais locais e regionais, em alguns casos ligados à Igreja Católica e noutras circunstâncias relacionados a tipografias ou a pequenas empresas de comunicação.
Atualmente, e de acordo com os registos obrigatórios de publicações do Instituto da Comunicação Social, haverá em Portugal cerca 4 000 títulos registados, dos quais cerca de novecentos (22,5%) são da imprensa regional e local. Sabendo-se que em Portugal há 22 distritos, isto indica que, em média, cada distrito contará com 41 títulos da imprensa regional e local, embora os distritos do litoral norte e centro detenham bastantes mais publicações do que outros - Aveiro na 2ª posição (com 11%), atrás de Lisboa, mas à frente do Porto.
Ao longo deste novo fôlego, o Correio de Albergaria funcionou muitas vezes como veículo de petição e de representação ou de setores da comunidade ou (mesmo) de toda a comunidade perante terceiros, sobretudo quando se envolveu num jornalismo de causas. De igual modo, foi inegável o esforço de promoção da qualidade dos conteúdos dados à estampa para consumo geral. Numa altura em que se regista o florescimento dos jornais regionais e locais de distribuição gratuita («free papers») e se constata que mais de 20 % dos jornais regionais e locais portugueses já têm edições on-line, este periódico tem ainda assim sido capaz de salvaguardar a sua independência face aos diversos tipos de poderes (político, religioso…), em especial na salvaguarda da independência face ao poder autárquico. Será provavelmente difícil para muitas pequenas publicações regionais e locais abandonarem a situação financeiramente confortável de dependência das autarquias locais, mas este é - defendo-o com unhas e dentes - o melhor caminho para garantir vendas, leitores e vigor publicitário.
Habitualmente, devo reconhecer que – em razão até das funções que já exerci em contextos diversos – os fazedores de jornais são frequentemente céticos em relação ao interesse e à qualidade dos textos enviados por alguns leitores-escritores. Infelizmente, grande parte deles não têm pés nem cabeça. Contudo, as vantagens, principalmente ao nível da fidelização dos “consumidores”, compensarão os riscos.
Dedicação, carinho e responsabilidade
Porque a conceção de cada número do Correio de Albergaria denota dedicação, carinho e responsabilidade, visando o mui nobre desiderato de gerar (mais) leitores comprometidos e críticos, gostaria de ver incrementada no jornal maior interação com o público que o degusta. Para o efeito, mais do que (porventura) ressuscitar o mistério acutilante da emblemática “Chuva Miúda” do então Beira-Vouga, celebrizada pelo requintado esgar de mangação de um crítico aleatoriamente omnipresente, apreciaria a manutenção de rubricas como “FOTO DENÚNCIA” ou até mesmo a criação do espaço “CARTAS DO LEITORES”.
Se servir o público é um dos objetivos principais do Correio de Albergaria, não seria a secção das cartas dos leitores uma boa oportunidade para potenciar a tão almejada interatividade? Na oportunidade, lembro as funções que as cartas podem ter na imprensa: um espaço aberto de diálogo, de participação e de crítica em relação ao próprio jornal. Aliás, a secção da correspondência dos leitores tem precisamente a função elementar de abrir um canal entre os leitores e as publicações, sendo, por isso, um espaço de aproximação entre os leitores do título e as pessoas que o fazem. As cartas dos leitores fomentariam, assim, uma maior proximidade e reciprocidade entre o jornal e o seu público, enquanto meio primário, de feedback (cfr. Lambiase, 2005: 2).
Para surpresa de muitos, no seu estudo sobre as páginas editoriais em jornais norte-americanos, baseado em questionários a editores, Ernest Hynds, professor na Universidade de Georgia, concluiu que praticamente TODOS os leitores veem a página editorial (que inclui o Editorial, colunas de Opinião, cartoons e cartas dos leitores - aquilo a que podemos designar, na realidade da imprensa portuguesa, como o espaço de opinião dos jornais) como um fórum de troca de informação e opinião.
Habitualmente, devo reconhecer que – em razão até das funções que já exerci em contextos diversos – os fazedores de jornais são frequentemente céticos em relação ao interesse e à qualidade dos textos enviados por alguns leitores-escritores. Infelizmente, grande parte deles não têm pés nem cabeça. Contudo, as vantagens, principalmente ao nível da fidelização dos “consumidores”, compensarão os riscos.
Daí que, além do crescimento abstratamente considerado do Correio de Albergaria, eu formule, por ocasião deste aniversário, o desenvolvimento de um jornalismo de proximidade que combata o isolamento de algumas povoações da nossa terra e que favoreça a divulgação das atividades económicas das micro e pequenas empresas. Até porque um jornal próximo diminui consideravelmente as possibilidades de empobrecimento da Democracia, da Cidadania, da Cultura e da História.
José Manuel Alho
por alho_politicamente_incorrecto, em 22.08.14
JMA - Desde os 15 anos que colabora com vários jornais. Os primeiros a aceitar a sua colaboração foram: Diário de Aveiro, O Comércio do Porto, O Primeiro de Janeiro, Beira-Vouga, Jornal da Pateira, Soberania do Povo, Jornal da Bairrada, Linha da Frente, Região de Águeda, Litoral Centro, A Voz de Azeméis, Jornal de Albergaria e o Correio de Albergaria. Fez ainda locução na extinta rádio (pirata) Talábriga e na Rádio Soberania, de Águeda.
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