sexta-feira, 3 de julho de 2015

PPD/PSD Distrital de Aveiro

PSD Distrital de Aveiro -
40 anos de história

Albergaria-a-Velha

A vida é curta e passa depressa. As peripécias da vida levam-nos a caminhos por vezes imprevisíveis, uns que não queríamos outros que pouco fizemos por merecer. Passou assim deixar quase meio século, e vemos que foram aquelas coisas, para as quais pouco contribuímos, que nos trouxeram o cabelo de branco.

Estava eu na idade de saber o que queria e pelo dever valia a pena lutar. Era, na época, um rapaz viajado, por causa de uma das profissões que me fascinou. Era eu, ao tempo, guia turístico, o que fazia com que visse outros mundos bem diferentes do que nós éramos obrigados a construir em pátria nossa. Havia sido convidado para estar presente num encontro de amigos aqui, na nossa Vila. O edifício ainda está lá e, algumas vezes, lembro-me dos meus padecimentos. Só que, no mesmo dia, estava escalado para Paris/Londres, o que me vedava a possibilidade apetecida. Chegado a Paris, dirigi-me aos correios para enviar um telegrama que dizia: ”Em espírito estou convosco. Viva Portugal.”

Estas duas linhas valeram-me o casamento do passaporte, pois não me lembrei que na Estação de Correios de Albergaria-a-Velha havia um “bom bufo” e eu sabia-o mas não refleti. No regresso, fiquei sem o passaporte, o que me custou utilizar outras fronteiras ou descobrir outros meios para continuar a desenvolver a minha profissão. Com a ajuda de um bom amigo, que Deus já levou, consegui uma nova via do documento... desde que não fizesse escalas em Portugal ou entrasse por Vilar Formoso, o que era muito complicado e me obrigava a gastos enormemente avultados. Mas lá se foi andando porque este nosso Portugal é grande e solidário.

Uma outra vez, a PIDE arrombou a porta principal da minha vivenda (Pensão Branco) pois queria que lhe entregasse um passador que, no pensamento deles, estava ali alojado. Apresentado o livro da receção, fácil foi saber que o homem havia lá estado três dias antes, mas viu-se também a minha inocência pois numa página escrita a azul estava um nome escrito a verde... No entanto, não me safei sem apanhar uns valentes murros, dados em frente à minha mulher que tentava acalentar o meu filho mais velho, que fez há dias 49 anos! Mais uns machucos e lá foram embora com a promessa de regressarem brevemente, o que não aconteceu. Este mau encontro valeu uma zanga grande com o então Presidente da Câmara, Dr. Flausino Correia, pois eu não aceitei que o meu presidente e meu médico de família não soubesse desta visita! Parece agora que efetivamente assim era...

O 25 de ABRIL

Postas estas facetas a quem não as conhece....

Já será fácil compreender mais as razões pelas quais eu estava sempre, e todas as noites, de orelha à escuta num rádio da minha mesinha de cabeceira. Foi através deste aparelho que acompanhei a hora da libertação e tomada de posições por parte do exército de Lisboa. Ouvia as “senhas” que nada me disseram porque a “guerra” não era minha.... por acaso, até era, ou melhor, até foi. Acompanhei sempre os diversos comunicados e, no dia seguinte, casualmente, encontrei-me com o “Galvão” à esquina do Cineteatro Alba. Cheio de alegria, deu-me um abraço e só disse: — Caiu! Eu olhei e balbuciei: — Vamos lá ver se pega... Mais um aperto de mão e lá me meti na automotora que me conduziu a Aveiro, pois na época era eu funcionário da área comercial “Pão de Açúcar”. Estava a falar com alguns colegas sobre o acontecimento quando o gerente deu ordem para abrir a loja. Eu interpelei:  — Eu não abria ... Ao que me respondeu: — Lisboa não disse nada! Palavras não eram ouvidas e já havia ordens expressas para que a loja encerrasse imediatamente, o que não foi feito. O gerente estava nervoso, o que era compreensível; o seu pai era sargento da GNR e não se sabia do seu paradeiro. De regresso ao meu trabalho, passei aqui na vila pelo “Café Napoleão” e li o comunicado pregado na vitrina pelo MFA. Olhei em frente para a Câmara Municipal e a porta estava encerrada.

Todos estavam satisfeitos, mas era uma alegria mitigada. De vez em quando, eu levantava-me para ver os noticiários da televisão. Os jornais eram abertos de sopete com risco de rasgarem. Era tempo de aguardar com calma... e nas calmas.

Pelo país, para já, tinha havido alguns ajuntamentos, todos na ânsia de saber coisas.

Eu e a minha mulher, o Carlos Santos e a esposa, o Carlos do Carmo Henriques e o Joaquim Moreira Vinhas fomos, a meio da tarde do dia 27, ver passar o cortejo fúnebre do aspirante Coimbra, uma das três vítimas caídas no primeiro confronto em Lisboa. Jaime Neves conduzia o féretro e foi ele que recebeu a coroa de flores que se pôs na urna.

Pareceu-me ouvir “Bons Portugueses”. Não é fácil de desbravar todas as coisas que o futuro nos trouxe, mas não esquecemos mais um ou outro momento que mexeu com o nosso interior.

O 1º COMÍCIO

A 7 de Maio Albergaria-a-Velha viveu o 1.º Comício pós revolução dos cravos. Depois de ter ajudado a pintar algumas tarjas na oficina do “Zé Moutela”, que sempre se arvorou como homem de esquerda, tinha por intento tomar a Câmara Municipal, o que, pessoalmente, não me agradava; havia que encontrar uma nacional... mas quem... onde... quem emprestava?

Por indicação e ajuda de um colega de trabalho, lá fui eu à Junta de Freguesia de Fermelã pedir que me emprestasse aquele símbolo que eu o devolveria passados dois ou três dias, o que veio a acontecer. O pano da bandeira estava um pouco roto, pois a “traça” tinha feito alguns buracos.

Em frente à Câmara Municipal montavam-se os altifalantes e povo apareceu em massa. Era dia de futebol e fui, às 17 horas, ao campo das Laranjeiras para conduzir as pessoas até ao Jardim.

Para além do “Zé Moutela”, estavam presentes o Duarte Machado bem como a Força Maior Esquerda vinda de Angeja, apoiada pelo PCP e MDP... só esquerda, porque nada mais existia. Por parte do M.F.A estava presente um militar que se dizia Tenente e do qual surgiram dúvidas, pois o senhor não sabia articular, politicamente falando. Enquanto os discursos foram sendo feitos, eu apercebi-me que estava em jogo a tomada da Câmara Municipal, e os cravos eram mais que muitos para que a festa se fizesse. Quando todos já tinham falado, saltei eu em discurso que não guardei porque nem me passava pela cabeça que estávamos a escrever a história de Albergaria.

Achei por bem enaltecer o MFA e chamei a atenção das centenas de presentes que terminássemos cantando o Hino Nacional, ao que acederam. Logo depois, as pessoas desmobilizaram-se sem que ninguém entrasse na Câmara Municipal. A um canto do átrio da Câmara Municipal encontrei um capacete de bombeiro com algumas moedas lá dentro, que entreguei ao “Zé Moutela” na sua oficina, tendo sido apupado de traidor, e demais adjetivos, pela esquerda instalada o que, sinceramente, não me afetou minimamente. Quando regressei, passei pela Câmara e observei que tudo estava limpo e quedo, o que me satisfez. Fui ter com o meu pai, que me disse: — desconhecia a tua coragem, muito obrigado rapaz!

DIA 15 DE JULHO

Seriam cerca das 21 horas quando um “boca de sapo” para em frente à minha casa, onde me encontrava acompanhado do meu pai. O visitante, Dr. Briosa e Gala, entregou ao meu pai um subscrito fechado, diversa documentação avulsa e disse: — O Senhor Dr. Francisco Sá Carneiro manda entregar ao senhor inspetor da CP toda a documentação e que ajude a implantar o PPD em terras de Albergaria.

A partir de então, fizeram-se inúmeras reuniões em minha casa e sondagens através das freguesias, falando com amigos e catequizando os inimigos, disseminando a social-democracia, ajudando à sua compreensão. O resto já é sabido, o Partido nasceu, cresceu e está aí para todos quantos queiram escutar, amar e honrar o PSD agora.

Na euforia da preparação do Partido, até eu pertenci à comissão Nacional do PPD, eu que nunca fui político, mas sempre soube o que queria. Tomei durante muito tempo a direção, no terreno, do PPD e a Juventude Social Democrata escreveu páginas de glória ao ser solicitada por Sá Carneiro para sua guarda em comícios desde Aveiro, Viseu e Porto.

Para o “patrão” Carlos Lourenço, a quem me ligam as melhores recordações e que Deus já chamou até si, fica a lembrança de quem o não pode escrever. Para tantos outros que comigo cerraram fileiras, fica a eterna saudade mas também o sentimento de que sem arrependimentos cumprimos o nosso dever de Portugueses.

Bem hajam!

António José Marques Moreira Vinha

http://www.psd40anos.pt/ficheiros/livros/livro1430307852.pdf

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