terça-feira, 16 de outubro de 2012

Árvores e Candeeiros

notícia de 1931, Gazeta de Albergaria


O Deputado José Luís Ferreira, do Grupo Parlamentar “Os Verdes”, questiona o Ministério da Agricultura, Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, sobre o abate de árvores centenárias, tílias, em Albergaria-a-Velha.

Considera que se trata de árvores que “não apresentavam sintomas de problemas sanitários ou outros e que faziam parte do património cultural e arbóreo, marcante de tantas gerações de albergarienses”. O deputado ecologista quer saber quais os motivos que levaram a este abate e também os planos futuros que existem para aquele local.

Na base da questão está o abate de nove tílias centenárias no largo do Torreão, junto da entrada principal da Quinta da Boa Vista, precisamente junto do local onde decorrem as obras de construção da Biblioteca Municipal de Albergaria.

Recorde-se que este caso motivou uma tomada de posição de populares que se recusaram a retirar veículos estacionados no largo como forma de protesto.

05-06-2012 (Fonte: Rádio Terranova )

Republicada no PORTAL DE ALBERGARIA onde provocou uma troca de palavras mais ou menos acesa:

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Luis Castro, 5 de Junho de 2012

Outra vez esta conversa sem jeito nenhum?
Voltamos a bater no ceguinho novamente!
E agora, o que é que querem que a câmara faça? Não pensaram que as raízes das ditas tílias poderiam estar a causar problemas nos edifícios adjacentes? Como era visível, muitos dos paralelos já estavam levantados por causa das raízes. Ah e tal agora porque eram centenárias não se podiam abater. Além disso, na minha opinião, estéticamente não ficavam nada bem! Há tantos outros assuntos tão mais importantes na NOSSA TERRA! A biblioteca será, como já é o Cineteatro Alba, uma importante infraestrutura para a NOSSA CIDADE!

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Francisco Silva, 7 de Junho de 2012

As árvores não só não estavam doentes, como não causavam qualquer problema nas fundações. São, aliás, espécies indicadas para serem plantadas nas cidades. Mais: eram seres vivos insubstituíveis e que faziam parte da cidade, cujos cidadãos tinham direito a usufruir. Que idade é que você tem? Que gravetos é que quer ver ali a crescer, para si, para os seus filhos e para os seus netos? O que você não percebe é que a cidade, qualquer cidade, é para as pessoas e para ser vivida pelas pessoas; as cidades não são objectos que estão ao serviço de um poder político qualquer, que não tem a mínima ideia do que é o planeamento. Qualquer albergariense que se preze já devia estar farto de ver as fachadas que fazem a identidade citadina emparedadas ou, pior, destruídas: são boas para depois vermos nos postalinhos, não é? Para dizer aos filhinhos e aos netinhos como era isto antigamente, não é? Será que você merece a cidade que tem?

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RC, 7 de Junho de 2012

De há uns anos para cá, desde a importação da moda dos movimentos ditos ecologistas e dos partidos ditos verdes, floresceu a ideia de que o que é verde, não se pode cortar… Esteja o ciclo de vida no limite, seja por que razão seja, natural ou da conveniència humana, é verde, não se pode cortar… Enfim, o oito ou oitenta, o exagero, o extremisto tão à portuguesa…
Recordo a polémica intensa ocorrida há alguns anos a propósito do abate das árvores, também centenárias e muito mais frondosas e vistosas do que estas tílias do Torreão, que escondiam a fachada do edifício da Câmara Municipal… O que se disse, as sentenças condenatórias que algumas mentes ecológicamente ultrasensíveis anunciaram aos quatro ventos quando se soube que as árvores iriam ser abatidas… Atentado ambiental, crime ecológico, vilipêndio da memória dos albergarienses, o diabo a sete!…
As árvores foram, apesar dessas visões catastrofistas dos pretensos salvadores da Natureza, realmente abatidas. E hoje… Alguém nota a falta?… Alguém pensa que ficou desvalorizada a estética paisagista do jardim e da fachada municipal?… Alguém acha que a percentagem de dióxido de carbono tornou o céu albergariense mais perigoso?…
Vai Albergaria passar à categoria de deserto apenas porque se decidiu abater nove tílias centenárias numa perspectiva de valorização do património construido, não se sabendo, sequer, neste momento, o que vai ser a futura decoração daquele espaço que até poderá passar por um complemento paisagista natural?…
Enfim… há albergarienses que são uns exagerados!…

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Campinho a Capital, 7 de Junho de 2012

O Francisco Silva também ainda deve ser novo… pela teoria dele a alameda em frente ao cinema ainda estava cheia de ameixieiras e diospireiros, o chão ainda era de terra batida e estava sempre cheio de diospiros e ameixas esmagadas e de ramos esgaçados pela miudagem a subir às árvores… nem sei se sabe do que é que eu estou a falar… Também nem se deve lembrar do que era o centro de Albergaria a Velha há trinta anos, estavam lá realmente as tílias, mas não estavam as centenas de árvores que foram plantadas nesses trinta anos nas ruas da cidade, não estavam lá os relvados junto ao pavilhão e às piscinas… se alguma coisa se fez nesta terra nos últimos trinta anos foi aumentar as árvores plantadas, mude de teoria para dizer mal, não venha com política para isto, que em matéria de natureza nunca se fez tanto em Albergaria a velha como nos últimos trinta anos, parece que você é que ainda é muito novo…

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Francisco Silva, 7 de Junho de 2012

Anda muita confusão por essas cabeças. Já percebi que o progresso da nossa cidade é meter betão em cima da terra. Se calhar assim parece mais cidade. Qual é a justificação para cortar as tílias? Valorização do espaço? Não me façam rir. Pelo que sei, o poder público nunca justificou o acto inqualificável; devia fazê-lo! As cidades valem também pela identificação que a sua população consegue fazer dela; eu, e muitos albergarienses, revemo-nos naquilo que a nossa cidade nos pode oferecer. E Albergaria já tem muito pouco para oferecer nesse campo. E com o actual poder poder público tem cada vez menos.
Por acaso sabiam que a casa do Torreão tinha murais e frescos (ou afrescos) nos tectos e paredes, pintos há cerca de 100 anos? E sabem o que lhes aconteceu? Foram destruídos; em nome do progresso, certamente. Por que não preservá-los? Por que não fazer um projecto que contemplasse a sua preservação, um motivo em que a população se pudesse rever? O exemplo das tílias é só mais um. Já agora, não acho nada bem que se tenham abatido as árvores frente à câmara; nem acho nada bem que se tenha destruído o café Girassol para se construir um mamarracho. Mas eu ainda tenho memória disso, porque os mais novos só tem memória de espaços citadinos anódinos, feios, que mais parecem os subúrbios ou os dormitórios das grandes cidades. Mas parece que é isso que querem os meus conterrâneos… Será?

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Luis Castro, 7 de Junho de 2012

Eu não sei, e admito isso, qual foi o principal motivo que levou o executivo camarário a remover as ditas tílias do local. O que é facto, e volto a reafirmar, é que os paralelos junto a estas tílias estavam TODOS levantados. De qualquer forma, já ouviu falar em enquadramento paisagístico ou reorganização paisagística? Sim, isso também acontece nas cidades!
Se fossem árvores que ao olharmos para elas dissessemos “Eh pá, realmente eram tão bonitas e fazem aqui tanta falta!” A verdade é que não o eram (na minha opinião) e tornaram a praça muito mais arejada. Acredita que alguém ia de propósito ao largo da Quinta do Torreão para ver as árvores?
Concordo com o RC quando diz que “Alguém pensa que ficou desvalorizada a estética paisagista do jardim e da fachada municipal?… Alguém acha que a percentagem de dióxido de carbono tornou o céu albergariense mais perigoso?…”
Relativamente ao Café Girassol, estou plenamente de acordo consigo. O que ali está é um autêntico mamarracho. Foi uma das primeiras obras do Dr. Rui Marques e que desde sempre foi um projecto mal nascido. O arquitecto desse edifício é o mesmo do Centro de Saúde….
De qualquer forma, pelo que se consta, não estará ali muitos mais anos por isso, não se preocupe!
O senhor é mais um bacoco moralista. Quem lhe disse a si que os murais e frescos tinham sido destruídos em prol do progresso? Para que o senhor saiba, esses ditos murais e frescos foram removidos no início das obras e encaminhados para restauro.

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RC , 7 de Junho de 2012,

é a primeira vez que leio alguém a lamentar o abate das árvores que ofuscavam inutilmente a fachada do interessante edifício da nossa Câmara Municipal. E olhe que críticas antes do abate, ouvi muitas, mas elogios ao resultado final, ouvi ainda mais…

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Francisco Silva, 11 de Junho de 2012

Ou seja, tectos e pinturas do edifício da futura biblioteca foram de facto destruídos e não têm qualquer recuperação possível. E só não foram TODOS destruídos porque alguém se lembrou de avisar que seria um crime essa destruição. E porque o interior do edifício está documentado há muitos anos. E que essa destruição até poderia ser usada como trunfo político. Mas se era uma riqueza do concelho, ou da cidade, deixou de o ser. Desapareceu.
De resto, é uma imbecilidade confundir a destruição de património com progresso. Não sei onde esta gente vive, mas em Albergaria até parece que progresso rima com retrocesso.
(…) quando se constrói/recupera um imóvel tem que se ter em conta o que lá existe, o que é possível e deve ser recuperado, incluindo as árvores. Nada disso foi feito aqui. O que revela que este poder local não sabe muito bem ao que anda. Ou se calhar sabe muito bem, porque esta é uma das formas de despender mais dinheiro numa obra projectada. Claro que ninguém está preocupado com isto, afinal, trata-se de dinheiro público e a avaliar pelos comentários, o dinheiro público é para desperdiçar.
(…) aqui há uns anos, em Angeja, foram abatidas umas dezenas de árvores seculares, oliveiras, se não estou em erro. O poder local de então começou por dizer que estavam doentes. Mentira. E depois lá se foi sabendo que afinal as árvores foram cortadas para lenha… Perguntem a qualquer angejense com memória, porque hoje, no seu lugar, apenas estão lá uns gravetos sem sentido, na Rua da Várzea.

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Luis Castro, 11 de Junho de 2012

Vamos lá ver se entendi: Francisco, quer dizer, então a biblioteca devia ser no sitio onde será mas o edifício não deveria sofrer aquelas obras profundas certo? Devia ser no lugar da antiga padaria. Boa ideia! Até se podia aproveitar os balcões de atendimento e tudo!
O sr. continua a afirmar incessantemente que os quadros foram destruídos. Continuo a dizer-lhe que o que diz não tem fundamento porque, como já lhe referi anteriormente, essa foi uma das preocupações da CM (conhecendo o valor das obras) no início da construção da biblioteca. A verdade é que muitas das pinturas (que as conheço) estavam num estado lastimável que a sua recuperação e restauração eram praticamente impossíveis.

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Sousita, 13 de Junho de 2012

Para que é que precisamos daquelas árvores, ora essa?! Era bom termos uma praça em condições, onde se pudesse estar, mas afinal foi tudo para os bibliotecários poderem ter o seu pópó à porta. Progresso, dizem os saloios… Agora vamos proteger-nos do sol debaixo da sombra dos carros e vamos respirar o seu fumo. E os tectos, património de todos, para que servem?! Ora, em nome do progresso, e porque este se quer de grandes mamarrachos, lá se foi o património. É bem, porque a gente vive é de betão… Com aquele cubo nas traseiras do torreão, deve ter sido por falta de espaço… Mas também, numa terra onde se destruiu um cine-teatro majestoso por um ao estilo de pré-fabricado, onde a maior e mais antiga fábrica vai caindo aos poucos, onde existem (?) vestígios arqueológicos na zona industrial, que poucos conhecem, onde se deixou cair o edifício garagem, onde se fizeram obra duvidosas como o edifício do paços do concelho, já nada admira… e o povão até aplaude!
Mas o pior disto tudo, é que se está tudo a conjugar para colocarem mais candeeiros daqueles bonitos, tipicamente históricos, que adornam a zona histórica da cidade… e mais uns cubos com umas couves… de preferência com o passeio rebaixado, como na rua da igreja à santa cruz, ou na rua de sto antónio, para se poder estacionar à vontade em cima dos passeios.

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JF, 13 de Junho de 2012

Sousita, quanto aos candeeiros…vamos esperar para ver, mas aqueles mastros inclinados apontados ao céu em frente ao Cine-Teatro não auguram nada de bom. Palpita-me que nisso vamos estar de acordo. Para já apenas me fazem lembrar os que em tempos colocaram na Rua de Santo António: abortos, mamarrachos, aberrações, revelações de uma imensa ignorância para além da parte estética, porque se esta é discutível, a questão histórica nem por isso…

[completo]

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