quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Artigo de JLV


«Mamoas» de Albergaria-a-Velha

Um dólmen consta duma parte arquitectónica (câmara e corredor) e dum aterro (tumulus), que em algumas regiões nossas tem o nome de mâmoa. Deve entender-se que este nome é antigo, e que se conservou ua tradição, em geral sem sentido, e só como designação locativa.

Junto de Albergaria-a-Velha há dois sítios chamados respectivamente Mamoa das Arrotas e Mamoas do Taco.

0 meu ilustrado amigo o Sr. Patrício Teodoro Álvares Ferreira, notando com razão que tais nomes deviam designar monumentos preistóricos, verificou que em verdade havia nos sítios uns montículos de terra muito antigos, e convidou-me para lá ir vê-los, o que fiz em começos do Setembro de 1911. Para aqui transcrevo do meu canhenho arqueológico a descrição sumária do que em companhia dele observei.

I. Mamoas das Arrotas

Fica dentro de um pinhal, ao sul e na freguesia de Albergaria, da qual dista cerca de 1 quilômetro,-à direita da estrada de macadame que vai do Porto a Lisboa, nas proximidades da povoação de Açores. É pouco elevada, mas de grande diâmetro. No centro há uma excavação pouco profunda, que corresponde ao lugar em que outrora esteve a câmara. Nenhuma pedra resta.

II. Mamoas do Taco

São em número de três. Ficam na freguesia e ao sul de Albergaria, distantes das últimas casas da vila cerca de 1 quilómetro.
A 1ª é pouco alta, mas de grande diâmetro. Nenhuma pedra.- Muitas louras de coelhos.
A 2ª dista uns decâmetros desta para Norte. Nas mesmas circunstâncias da anterior.
Á mesma distância, plus minús, fica a 3ª, que é como as outras. A circunferència dela orça por uns 110 metros; a altura por uns 3 metros.
Todas estão dentro de um pinhal, que o povo chama «das mâmoas». O sítio é nu de pedras; só por aí se vêem alguns seixos e xisto.

Os esteios dos dólmens ou desapareceram, ou jazem enterrados muito fundo.

Na figura junta dou a gravura de uma delas, segundo a fotografia que o Sr. Patrício Álvares Ferreira me enviou.
.
Apesar da modéstia da presente noticia, ela constitue o mais antigo capítulo da história de Albergaria-a-Velha.

José Leite De Vasconcelos

-----Palavra esdrúxula. Do latim mammula, deminutivo de mamma; por ter sido comparado o atêrro a uma mama. Na topografia há outras palavras com origem em metáforas tiradas do corpo dos animais, v. g. cabêço, cêrro, costa; vide sobre o assunto as minhas Lições de Philologia Portuguesa, Lisboa 1911, pág. 259 e 470

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Calão dos contrabandistas de Albergaria-a- Velha

À identidade dos elementos fundamentaes do calão no tempo, junta-se a sua identidade no espaço : assim a maioria dos termos do calão do norte de Portugal encontram-se ao sul. O mesmo facto repete-se com as diversas girias nos outros paises. (...)

Calão dos contrabandistas de Albergaria-a-Velha

Para confirmar essa observação darei uma lista, infelizmente muito curta, de termos usados numa giria de gente de Albergaria-a- Velha, districto de Aveiro, a qual negoceia em cavalgaduras, faz contrabando, e tem contracto com ciganos, sendo até conhecida pela denominação imprópria de ciganos.

Devo o conhecimento d'esses termos aos srs. coronel Brito Rebello e médico Lemos (de Alquerubim). A maior parte de taes termos é-nos conhecida de outros pontos do paiz (especialmente de Lisboa e Porto); alguns que parecem especiaes ao calão de Albergaria devem ter tido maior extensão no uso: só assim se explica como piovês (do argot francez pivois), stockjish (do inglez, em que a palavra significa bacalhau secco) chegaram até essa gente de Albergaria. A lista faz crer que o estudo das girias semelhantes das nossas províncias teria muito interesse.

Arames, s. m. pi. Esporas.
Artife, s. m. Pão.
Befe, s. m. Podex.
Broi, broia, adj. Bom, boa.
Cachilras, s. m. pi. Seios.
Calique, s. m. Dinheiro.
Catroio, s. m. Cavalgadura.
Catruchas, s. f. pi. Botas de agua.
Chavelho, s. m. Copo de vinho.
Cboina, s. f. Cama.
Choinar, v. n. Dormir.
Coco, s. m. Copo.
Cosque, s. m. Casa.
Croia, s. f. Dona da casa.
Desconfiar, v. n. Retirar-se.
Duque, s. m. Cão.
Escarnhida, s. f. Excremento humano.
Esquilha, s. f. Sardinha.
Estoio, s. m. Cavalgadura.
Fanfar, v. a. Apanhar, roubar.
Fardelhas, s. f. pi.
— de trigo. Pão de trigo.
Froina, s. f. Broa.
Gadanhos, s. m. pi. Dedos.
Gelfo, s. m. Cão.
Gomarra, s. f. Gallinha.
Irmo, s. m. Irmão.
Lupante, s. m. Olho.
Lupar, V. a. Ver.
Malurdia, s. f. Mãe.
Manez, s. m. Homem.
Maneza, s. f. Mulher.
Moinar, v. n. Dormir.
Moletos, s. m. pi. Pós ou dedos.
Monteira, s. f. Cabeça.
Moquideira, s. f. Boca.
Mosquir, v. n. Comer.
Mosco, s. m. Poubo.
O-da-eira. Padre.
Palurdio, s. m. Pae.
Piar, V. a. Beber.
Piar-do-ventre. Flatus ventris.
Piovês, s. m. Vinho.
Porco, s. m. Porco.
Quilhar, v. a. Futuere.
Raso, s. m. Padre.
Reco, s. m. Porco.
Reichelo, s. m. Porco.
Respo, s. m. Excremento humano.
Stockfish, s. m. Presunto.
Suquidora, s. f. Boca.
Suquir, V. a. Comer.
Telo, s. m. Jumento.
Tó, s. m. Porco.
Trigo, s. m. Pão.
Vezer, v. a. Ver.
Zagrâo, zagré, s. m. Vinho.

"Os ciganos de Portugal; com um estudo sobre o calão. Memoria destinada à X Sessão do Congresso Internacional dos Orientalistas", de Adolpho Coelho (1892)

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Junta de Freguesia de Albergaria-a-Velha

Foi publicada uma notícia no jornal Região de Águeda a informar que a Junta de Freguesia de Albergaria-a-Velha pretendia atribuir, em data não indicada, medalhas ao Sr. Fernando Nogueira da Silva e às colectividades da freguesia com mais de 25 anos.

O CDS local já tinha proposto a atribuição de uma medalha ao antigo presidente da JF Albergaria.

A Junta aprovou no ano passado o regulamento de atribuição de medalhas.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

11 de Fevereiro

Deixar passar em claro o dia 11 de Fevereiro, seria quanto a nós uma falta indesculpável, pelo que ele representa de lu­ta, querer, e esforço pelas coi­sas de Albergaria-a-Velha.

Diríamos mesmo que esta data está pré-destinada para as efemérides valiosas tal aquilo que representa de progresso na nossa vila.

Uma só data e dois aniver­sários, é para nós qualquer coisa que nos entusiasma e que nos obriga a dizer que nestes assuntos nem sempre há me­mória curta.

CINE-TEATRO ALBA

A primeira festa de aniversá­rio vai para o Cine-Teatro Al­ba, que em 11 de Fevereiro de 1950 abriu as suas portas ao Público. Numa pequena brochura policromada, tendo como abertura a figura saudosa e sempre presente de Américo Martins Pereira onde se enal­tecia a obra à data inaugura­da, esta publicação debruça-se sobre o apetrechamento da casa da espectáculos podendo-se ler:

«O Cine-teatro Alba — pro­jecto do Eng.° Júlio José de Brito, é sem dúvida uma das melhores, mais modernas e mais luxuosas casas de espec­táculos do país...

Com uma lotação total de cerca de 600 cómodos lugares, é dotado de aparelhagem dupla
de cinema — Gaumont Kalle 21 — alta fidelidade em som, equipada com lanternas de pro­jecção de grande intensidade e projectores para o palco, pos­suindo uma instalação de alto­-falantes, numa rede completa, com sinal de chamada eléctrica por todo o edifício, enriqueci­do com todos os pavimentos e lambrins revestidos de mármo­re, um magnífico bar, sala- de recepção luxuosíssima, esplên­didos vestiários, escaparates de exposição, etc., o Cine-Teatro Alba é uma casa de espectá­culos sem rival na província e competindo, mesmo, com as melhores da capital».

A família Martins Pereira no seu todo não foi esquecida com encómios ao seu chefe de então Sr. Augusto Martins Pereira «homem que vive pelo coração e pelo cérebro com largo saber de experiência feito, tanto tem trabalhado e produzido para tornar Albergaria maior e. melhor, evidenciando , e dedicando-lhe, as mais vastas faculdades de realização.»

(…)

É efectivamente um espaço de que Albergaria e seu con­celho continua a usufruir e que ,nós hoje aqui trazemos somen­te para lembrar que os homens passam mas as obras ficam, num testemunho do quanto va­le a pena o empenhamento pe­lascoisas. úteis da terra.

RÁDIO

A 11 de Fevereiro de 1986 foi para o ar e pela primeira vez a Rádio Independente de Albergaria, que constituída em cooperati­va, veria o seu nome alterado meses depois para Rádio Osseloa — C. R. L. nome que presentemente ostenta. Poder­-se-á dizer que não foi fácil a sua implantação e quanto ao seu nascimento ele observou-se com um certo medo e indesmentível pessimismo. Talvez quem sabe, se uma experiência e nada mais! Mas assim não aconteceu. Com o saber, esfor­ço e tenacidade dos seus fun­dadores srs. Horácio Araújo Gomes, Fausto Pereira Gomes e seu filho Manuel Pereira Go­mes a rádio local fez ouvir a sua voz. Quanto a estúdios é que a coisa não tem andado bem, isto é, tem-se andado de Caifaz para Pilatos como soe dizer-se, valendo neste aspecto a boa vontade de`diversas pessoas que voluntariamente têm cedido a título precário as ins­talações por vezes em casa própria. Em 18-12-86 tomou posse a primeira direcção a (….)

Beira Vouga nº 395, 16/02/1987