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quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Território com Passado, Pesente e Futuro


ALBERGARIA-A-VELHA, UM TERRITÓRIO COM PASSADO, PRESENTE E FUTURO

Os territórios que hoje constituem o concelho de Albergaria-a-Velha, com uma área de mais de 160 kms2, testemunham uma ocupação humana desde cerca do IV milénio a.C.

É um território de características diversificadas, que se estende desde a Ria de Aveiro, a poente, até ao alto do antigo telégrafo de Vila Nova de Fusos, a nascente, a cerca de 330 metros de altitude, apresentando, por isso, características ribeirinhas por um lado e quase serranas por outro.

Estas terras são cruzadas e servidas por uma riqueza hídrica cujos principais protagonistas são: o Vouga, o Caima, o Fílvida, o Jardim e o Mau, para além das muitas ribeiras que os servem.

Se a estas características juntarmos solos férteis, muitos deles de aluvião, um clima temperado Atlântico, e uma centralidade invejável junto às principais vias de comunicação do país desde tempos imemoriais, facilmente compreendemos as razões que levaram a ser esta uma região tão apetecível para a fixação humana ao longo dos séculos.

A propósito da comemoração do centenário da ALBA, empresa marcante para o nosso concelho, para a região e para o país, lembramos aqui as seculares atividades moageira, mineração, cerâmica e papeleira, entre outras, que começaram por fazer do território do concelho de Albergaria-a-Velha um pólo de fixação de população e de atração de empreendedores. Depois veio a celulose e a silvicultura, mais tarde a fundição e um sem número de atividades económicas diversas, muitas delas com grande vocação exportadora.

Empreendedorismo, inovação e localização estratégica, terão sido os fatores cruciais para o desenvolvimento e sucesso da indústria nesta região levando a que, Albergaria-a-Velha seja um concelho com uma baixa taxa de desemprego.

Assim, está em curso a ampliação da Zona Industrial de Albergaria-a-Velha, através da abertura de um novo arruamento industrial e da disponibilização de mais de 17 hectares de terrenos para instalação de atividades económicas, bem próximo da nova ligação ferroviária que o atual governo pretende construir.

Depois de definidos os principais eixos estratégicos a médio e a longo prazo, no sentido de promover um desenvolvimento sustentado e sustentável da nossa comunidade, os últimos tempos têm tido uma especial concentração de investimento na Zona Industrial, Ação Social, Educação e Ambiente, sem descurar a Cultura, o Património, o Urbanismo e o Desporto.

Com um orçamento limitado, tem havido o esforço financeiro de requalificar um sem número de edifícios municipais, alguns dos quais sem intervenções há cerca de duas décadas, como: Pavilhão Municipal, Mercado Municipal, Centro Coordenador de Transportes, Unidades de Saúde, Escolas, equipamentos desportivos, entre tantos outros.

Para além disto, o desejo de qualificar cada uma das freguesias do concelho com parques, praças e zonas verdes, tem sido uma realidade, estando também o Parque da Cidade de Albergaria-a-Velha em fase final de projeto e os terrenos parcialmente adquiridos, bem como uma candidatura para a execução de um percurso pedestre com passadiços nas margens do rio Caima, inserido em pleno parque molinológico.

Também uma casa da memória do concelho está em marcha,estando já o programa do futuro Museu do Concelho de Albergaria-a-Velha em execução.

Estamos certos que este será o melhor caminho a seguir. 

Albergaria-a-Velha é, sem dúvida, um concelho onde vale a pena viver, trabalhar e investir.

DELFIM BISMARCK (Vice-Presidente da Câmara Municipal)

Editorial do Boletim Municipal nº 55


quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Desenvolvimento - artigos Dr. Mário Jorge

O círculo vicioso da desqualificação (2000)

É nos bairros periféricos das cidades, nos seus dormitórios, nas áreas sem equipamentos e disciplina urbanística, que se identificam os maiores índices de criminalidade, cujos expoentes máximos são os ‘gangs’ de marginais, jovens e não só.

Há tempos, escrevia Nicolau Santos no Expresso (1 de Julho de 2000): "Uma das mais importantes tendências do século XXI aponta no sentido da competitividade vir a medir-se não entre países mas entre cidades. E estarão em competição não as cidades de um determinado país face às cidades de outro país, mas cada cidade em relação às outras cidades do seu país. Será uma concorrência feroz e sem tréguas, em que os presidentes das câmaras municipais terão uma importância decisiva. A sua capacidade política para conseguir o melhor para as suas cidades, garantindo boas infra-estruturas, ambiente limpo e saudável, segurança, acesso fácil a serviços de saúde, parques tecnológicos, equipamentos culturais e desportivos, será fundamental para os espaços que governam (...). Esta competição implicará que cada cidade tenderá a especializar-se em determinada área de actividade e a oferecer as melhores condições para atrair investigadores, médicos, cientistas, professores, desportistas, artistas, investidores, empresários. Serão as cidades-excelência, procuradas por nacionais e estrangeiros, por indivíduos e empresas, por serviços públicos e privados".

Tentando aplicar estes pensamentos à realidade do concelho de Albergaria, fica-nos o sabor amargo de uma angustiante desilusão, por se constatar que aqui o caminho é o oposto. Em vez de se pressentirem os sinais seguros de uma caminhada para a excelência, em termos de gestão racional e harmoniosa do espaço urbano, de concretização de um modelo de desenvolvimento equilibrado, criando mais qualidade de vida – a dura realidade é a de uma cada vez maior subalternização do concelho, de um maior afastamento perante a linha de desenvolvimento que já se identifica por todo o distrito.

No concerto dos concelhos circunvizinhos, nomeadamente dos mais poderosos, como Aveiro, Águeda e Oliveira de Azeméis, é notório o atraso de Albergaria, no que respeita não apenas aos indicadores económicos, mas sobretudo no conjunto dos itens que definem a qualidade de vida.

Por algumas vezes, tentámos suscitar o debate acerca de qual o destino de Albergaria: apenas um dormitório de mão de obra, de serviço às cidades que nos envolvem, ou um aglomerado que possa reverter a seu favor as suas próprias limitações geográficas e económicas, servindo de contraponto aos grandes centros, transformando e potenciando em qualidades e atributos a sua posição necessariamente periférica? Ser um dormitório, ou ser uma área residencial, com tudo o que aquele significa de mau e esta de bom?

O debate não é inócuo. Saber o que se pretende de Albergaria, é colocar em discussão o modelo de sociedade que se almeja, nomeadamente ao nível da gestão do seu espaço geográfico. É bom lembrar, permanentemente, que as comunidades vivem num espaço, do mesmo modo que as pessoas habitam em casas. A organização, a harmonia, o apetrechamento desse espaço é que pautam a qualidade de vida das pessoas, a sua maior ou menor felicidade. Assim como não se é feliz numa casa sem os cómodos adequados, sem os equipamentos básicos, numa casa degradada e suja – também não há comunidades prósperas em espaços desorganizados, tortuosos, sem equipamentos, sujos. A prosperidade e qualidade de uma comunidade dependem desde logo das condições e organização do território onde está radicada. E a falta de alegria e de harmonia de uma comunidade, a falta de qualidade de vida, são uma das principais causas da delinquência, da violência e da agressividade, mais evidentes na juventude.

É também por isso que é nos bairros periféricos das cidades, nos seus dormitórios, nas áreas sem equipamentos e disciplina urbanística, que se identificam os maiores índices de criminalidade, cujos expoentes máximos são os ‘gangs’ de marginais, jovens e não só. A delinquência está na razão directa da degradação urbanística e da falta de uma gestão do território atenta à integração das comunidades.

Estas pechas são, por sistema, as consequências da criação de dormitórios suburbanos, sem qualidade, sem um ordenamento adequado à integração das comunidades.
A partir daqui, a partir do momento em que uma área cresce sem uma disciplina urbanística especialmente atenta às especificidades de uma zona dormitório, então o circulo vicioso da desqualificação nunca mais pára. Se um território sofre os efeitos de um crescimento tortuoso e indisciplinado da construção, sem o paralelo aparecimento de equipamentos de convergência e de espaços de integração comunitária, ocorre um movimento de repulsão de núcleos a quem estes aspectos não agradam, e de atracção de famílias de poucos recursos e baixos índices de exigência em termos de qualidade.

São sobretudo as massas humanas que vêm do interior rural e procuram emprego nas periferias das cidades, em regra desqualificadas profissionalmente, de baixos recursos e de níveis culturais a rasar o zero. O seu grau de exigência é mínimo, satisfazem-se com pouco. E também pouco ou nada se lhes dá. Por outro lado, quem revela padrões de qualidade mais desenvolvidos acaba por se afastar, ou de nem sequer ali se estabelecer.

Degradado, pois, o território, por uma gestão inadequada e incompetente e por uma governação insensível, o dormitório é o destino natural de uma procura nada exigente, impreparada, sem recursos, proletarizada, que irá recriar a cultura de bairro.

A tendência inevitável será então de o concelho, que não se consegue opor a este movimento, vir a transformar-se na periferia das cidades que se vêm a impor pela sua qualidade.

Em Albergaria-a-Velha, os investimentos em qualidade de vida têm sido mínimos. Tirando o que é obrigatório, têm sido insignificantes os lampejos de criatividade, com vista a evitar esta suburbanização do nosso espaço.

Repare-se que uma área periférica e suburbana é sempre um espaço sem história, sem personalidade colectiva, uma espécie de gare aonde aporta quem tem dificuldades em entrar no corpo da cidade. É um espaço por definição transitório, uma espécie de arrumos da casa principal, e portanto sem beleza, sem requinte.

O nosso concelho está exactamente nesta secundarização, transformada num espaço desarrumado, sem ordem, sem beleza, sem qualidade.

E nada os órgãos autárquicos fazendo para realçar a sua história, a sua personalidade; nada fazendo para aumentar os seus espaços e equipamentos de convergência colectiva, os seus parques, as suas áreas de lazer – é inevitável que a sua suburbanização seja a cor que já domina entre nós: é a negligência (já tantas vezes aqui denunciada) quanto à falta de recolha selectiva dos lixos; é a falta de civilidade no comportamento dos grupos, é a transformação do centro cívico da sede do concelho num ridículo "pimbódromo", debitando tardes a fio rodos de barulho alarve, atordoando quem lá passa, ou vive por perto; é a modéstia do comércio; é a prática cultural intermitente, quase sempre ao nível da romaria; é a terrível falta de espaços e equipamentos básicos de convergência (parques, praias fluviais, campos de jogos, bibliotecas, auditórios)...

São pois os inúmeros estigmas de uma "cultura" suburbana, afinal o caldo onde germinam todos os factores de desagregação social, a violência, a delinquência, a agressividade.

Com toda esta desqualificação, é fatal que o espaço se desorganize, assim seguindo tudo num circulo vicioso imparável. Perante a desqualificação do espaço e das comunidades, os factores de valorização e de excelência, de que fala o trecho acima transcrito, ficam ausentes, são ‘apanhados’ por outras terras, perdendo-se assim níveis de competitividade. Albergaria-a-Velha já não está em condições de concorrer com a maioria das cidades e vilas do distrito, porque não exibe predicados de excelência a nenhum nível, faltando-lhe os mais básicos elementos de qualidade de vida. Não está no mapa das coisas notáveis, por nada de positivo, de digno, ou de excelente. Longe vai o tempo em que dizíamos que Albergaria já começava a ser uma boa terra para se viver. O tempo que se perdeu!

Mário Jorge de Lemos Pinto / Jornal de Albergaria
republicado no site Notícias de Aveiro em 25/09/2000


E Aveiro aqui tão perto... (2001)

O jornal PÚBLICO do passado dia 22 de Setembro dedicou a sua rubrica relativa às ‘Autárquicas 2001 – O Portugal das Cidades’ a Aveiro. E deu-lhe um título sugestivo: ‘Aveiro – Uma Aposta Certeira na Qualidade de Vida’.

O artigo dá conta que em Aveiro a qualidade de vida é uma evidência reconhecida por todos. Desde os seus habitantes até aos que estão de visita, todos sublinham as excelências desta cidade, ao nível da segurança, do ambiente, do trânsito, da arrumação urbanística, da oferta cultural. “Uma qualidade de vida traduzida em equipamentos e acontecimentos quotidianos, mas alicerçada numa infra-estruturação concluída muito antes dos grandes projectos”.

Certo que a cidade de Aveiro beneficia de um conjunto amplo de equipamentos cuja existência tem a ver exactamente com a circunstância de ser uma cidade, e capital do distrito. É o caso da Universidade e de um elenco vasto de serviços administrativos.
Mas a qualidade de vida, que pujantemente Aveiro patenteia, é a resultante de muito mais do que isto. É o produto de uma gestão autárquica cuidada e inteligente, pensada desde o primeiro momento com o objectivo de criar aos aveirenses condições de vida saudáveis e agradáveis.

A qualidade de Aveiro não resulta apenas dos equipamentos de que dispõe, mas também, e muito, de um planeamento urbanístico harmonioso, com vias de circulação arejadas e folgadas, com zonas verdes cuidadas. E é por isso que todos reconhecemos que Aveiro é uma cidade bonita, não apenas porque predestinada com condições naturais de eleição (a Ria), mas porque o ordenamento do seu espaço físico foi sempre cuidado.

Deve reconhecer-se que este manancial de excelências não pode ser anotado a crédito apenas da actual Câmara de Aveiro. Creio que isso vem (pelo menos) do tempo das Câmaras presididas por Girão Pereira, isto é, de há mais de 25 anos, e a que o elenco municipal presente soube dar continuidade, embora, por certo, com meios financeiros mais poderosos.

Este desenvolvimento da cidade de Aveiro poderia representar para Albergaria-a-Velha um de dois movimentos, de sinal oposto: ou uma tendência mimética, de imitação, uma tentativa de aproveitar o exemplo e as cinergias próprias do desenvolvimento de uma cidade tão próxima (geográfica e afectivamente). Ou, pelo contrário, um retrocesso, uma subalternização, uma suburbanização.

Ambos os movimentos são possíveis.

Há pequenas povoações que sabem tirar partido da qualidade de metrópoles de maior dimensão, criando elas próprias condições de vida de qualidade. Basta ver que o crescimento das cidades, por muito harmonioso que seja, gera sempre alguns efeitos perversos, subprodutos quase inevitáveis: mais ruído, mais trânsito, menor coesão social, mais imigração do interior, menos espaços colectivos.

As pequenas povoações adjacentes podem beneficiar de alguma procura da periferia, desde que esta ofereça o que a grande cidade não tem. É um pouco como o hipermercado, que está longe de substituir o tratamento personalizado da pequena mercearia de bairro, capaz de oferecer produtos e atendimento que não têm lugar nas grandes superfícies.
Mas o contrário também ocorre, e com mais frequência. A proximidade de uma cidade com qualidade de vida pode fazer com que as povoações satélites sofram os efeitos da suburbanização.

É o que acontece com o aparecimento dos bairros-dormitório, onde pernoitam muitos do que trabalham na cidade. Sobretudo os que não dispõem de meios que lhes permitam ocupar as zonas residenciais da cidade, mais caras, mais inacessíveis.
Os bairros-dormitório, porque são áreas de passagem, são o parente pobre dos bairros-residenciais, estes com mais qualidade urbanística, no geral providos de equipamentos de lazer, áreas verdes, e portanto mais caros.

Nos primeiros habitam (‘dormem’) as pessoas de menos recursos, em geral recem-imigrados em busca de melhores condições de trabalho nas zonas industriais das cidades, casais jovens que apenas aspiram a poderem mudar-se o mais depressa possível, e uma massa imensa proletarizada, de baixos recursos. Nos bairros-residenciais fixam-se as pessoas de mais rendimentos, ou com preocupações culturais mais exigentes, que aspiram a um modo de vida mais cuidado.
Os exemplos de uma situação e de outra acabam por ser visíveis no tecido urbanístico da nossa região.

Já há muito tempo que temos vindo a anotar a tendência suicida de Albergaria se tornar numa zona dormitório, suburbana, das cidades que a cercam, nomeadamente de Aveiro. Ou seja, é cada vez mais evidente que o nosso concelho não tem conseguido furtar-se às tendências suburbanizantes que emergem da sua proximidade das cidades.

As sucessivas gestões municipais de Albergaria têm manifestado uma clara e catatónica falta de visão para salvar o nosso concelho daquilo a que uma vez chamámos de ‘circulo vicioso da desqualificação’: a desqualificação urbanística e do ordenamento do território gera necessariamente mais des-qualificação.

Os resultados desta deriva na gestão municipal de Albergaria são por demais evidentes: um (des)ordenamento do território caótico; total ausência de zonas verdes, de lazer e de fruição colectiva; ausência de equipamentos de convergência colectiva; vias de comunicação estreitas e sinuosas, acentuando a conglomeração dos edifícios; implantação de edifícios a esmo, gerando subprodutos físicos, como becos, esquinas, varandas dependuradas sobre as vias, convivências espúrias de habitações unifamiliares com prédios em propriedade horizontal; trânsito ‘terceiro-mundista’, desregrado, já entupido a algumas horas e em algumas vias.

As consequências sociais e económicas são notórias: mentalidade, comportamentos, padrões de cultura suburbanos, sobretudo da juventude; insatisfação das pessoas, gerando individualismo e agressividade; ociosidade e ausência de mecanismos de ocupação de tempos livres; êxodo dos jovens quadros técnicos, para zonas com mais qualidade; baixo nível de rendimentos e consequente baixo poder de compra das famílias; logo, comércio incipiente e sem dinâmica.

Em conclusão, o concelho de Albergaria-a-Velha tem sido influenciado negativamente pelo desenvolvimento de Aveiro: em vez de tentar acompanhar a reconhecida qualidade de vida desta cidade, Albergaria está a sofrer os efeitos que marcam o aparecimento das terras-dormitório.

Tudo resultado de uma gestão municipal sem ambição, sem qualidade, sem bom gosto, sem inteligência. De vistas curtas.

Mário J. Lemos Pinto/Jornal de Albergaria
Republicado pelo site Noticias de Aveiro em 05/10/2001

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Da Inapa para Vale Maior

Nada faria prever que Vale Maior, logo à saída de Albergaria-a-Velha, em direcção a Viseu, fosse local apropriado para instalar uma fábrica de papel. Mas o destino tem coisas destas e a freguesia -- com ar típico de povoação rural -- alberga a Fábrica de Vale Maior há mais de um século. Data de fundação: 1874.

Há 120 anos, com técnicos franceses e capital português, a fábrica arrancava para produzir papel a partir de ... caruma do pinheiro. Os engenheiros franceses conceberam um «lay out» avançado para a época, com clara separação entre zonas fabris e de armazenagem. Foi fundada por uma família de Mogofores que tem entre os seus descendentes actuais o cantor José Cid.

Vale Maior não permaneceu nas mãos da família até aos dias de hoje. Nos últimos anos antes da actual gerência pertencia à Fábrica de Papel do Prado, de Tomar. No início dos anos 70 encerrou em avançado estado de obsolescência. E foi por essa altura de Fausto Meireles lá entrou.

Vivia-se o Verão quente de 75 e Fausto Meireles, homem da terra, via o futuro com pouca tranquilidade. Era então director de produção da Inapa, em Setúbal, e o ambiente laboral da época lá para os lados do Sado não lhe inspirava grande confiança. Teve então conhecimento que Vale Maior estava parada e à venda. Comprou, de parceria com um sócio.

Hoje, a Fábrica de Vale Maior continua a laborar. A matéria-prima essencial é o papel velho: cartões de banana, jornais e revistas, aparas de computador e de papel branco. As aparas são desfeitas, transformam-se de novo em pasta e permitem produzir papel novo.

Fausto Meireles também utiliza pasta virgem para trabalhos mais delicados e papel para embalagem de alimentos. A RAR é um dos seus grandes clientes: os sacos de quilo de açúcar são produzidos com papel novo; as embalagens exteriores com papel reciclado.

O aspecto da fábrica não esconde a sua vetusta idade. Alguns edifícios são verdadeiros documentos de arqueologia industrial. Alguns equipamentos também. Ainda lá está o tanque para produzir papel a partir de desperdícios de pano, fora de uso.

Há máquinas mais modernas mas Fausto Meireles reconhece ser difícil investir na fábrica porque a rentabilidade é reduzida. E só conseguiu atravessar a crise de 92/93 porque a empresa tinha «uma estrutura financeira equilibrada». O que lhe vale, diz, é a outra fábrica que possui na zona industrial de Albergaria. Aí produz embalagens acabadas e outros artigos: toalhas para restaurantes, papel para limpeza de mãos. O papel tanto vem de Vale Maior como de outras fábricas, consoante o produto final.

Fausto Meireles é um homem do papel. Começou em Vale Maior, passou pela fábrica de celulose de Cacia (actual Portucel) e trabalhou na Inapa desde a fundação. Em 75, quando fez as malas de regresso a casa, ganhava em Setúbal «um salário de general». Trocou-o por uma coisa sua e para provar que é possível produzir bom papel reciclado mesmo nas condições mais adversas.

PUBLICO-1994/07/22

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

11 de Fevereiro

Deixar passar em claro o dia 11 de Fevereiro, seria quanto a nós uma falta indesculpável, pelo que ele representa de lu­ta, querer, e esforço pelas coi­sas de Albergaria-a-Velha.

Diríamos mesmo que esta data está pré-destinada para as efemérides valiosas tal aquilo que representa de progresso na nossa vila.

Uma só data e dois aniver­sários, é para nós qualquer coisa que nos entusiasma e que nos obriga a dizer que nestes assuntos nem sempre há me­mória curta.

CINE-TEATRO ALBA

A primeira festa de aniversá­rio vai para o Cine-Teatro Al­ba, que em 11 de Fevereiro de 1950 abriu as suas portas ao Público. Numa pequena brochura policromada, tendo como abertura a figura saudosa e sempre presente de Américo Martins Pereira onde se enal­tecia a obra à data inaugura­da, esta publicação debruça-se sobre o apetrechamento da casa da espectáculos podendo-se ler:

«O Cine-teatro Alba — pro­jecto do Eng.° Júlio José de Brito, é sem dúvida uma das melhores, mais modernas e mais luxuosas casas de espec­táculos do país...

Com uma lotação total de cerca de 600 cómodos lugares, é dotado de aparelhagem dupla
de cinema — Gaumont Kalle 21 — alta fidelidade em som, equipada com lanternas de pro­jecção de grande intensidade e projectores para o palco, pos­suindo uma instalação de alto­-falantes, numa rede completa, com sinal de chamada eléctrica por todo o edifício, enriqueci­do com todos os pavimentos e lambrins revestidos de mármo­re, um magnífico bar, sala- de recepção luxuosíssima, esplên­didos vestiários, escaparates de exposição, etc., o Cine-Teatro Alba é uma casa de espectá­culos sem rival na província e competindo, mesmo, com as melhores da capital».

A família Martins Pereira no seu todo não foi esquecida com encómios ao seu chefe de então Sr. Augusto Martins Pereira «homem que vive pelo coração e pelo cérebro com largo saber de experiência feito, tanto tem trabalhado e produzido para tornar Albergaria maior e. melhor, evidenciando , e dedicando-lhe, as mais vastas faculdades de realização.»

(…)

É efectivamente um espaço de que Albergaria e seu con­celho continua a usufruir e que ,nós hoje aqui trazemos somen­te para lembrar que os homens passam mas as obras ficam, num testemunho do quanto va­le a pena o empenhamento pe­lascoisas. úteis da terra.

RÁDIO

A 11 de Fevereiro de 1986 foi para o ar e pela primeira vez a Rádio Independente de Albergaria, que constituída em cooperati­va, veria o seu nome alterado meses depois para Rádio Osseloa — C. R. L. nome que presentemente ostenta. Poder­-se-á dizer que não foi fácil a sua implantação e quanto ao seu nascimento ele observou-se com um certo medo e indesmentível pessimismo. Talvez quem sabe, se uma experiência e nada mais! Mas assim não aconteceu. Com o saber, esfor­ço e tenacidade dos seus fun­dadores srs. Horácio Araújo Gomes, Fausto Pereira Gomes e seu filho Manuel Pereira Go­mes a rádio local fez ouvir a sua voz. Quanto a estúdios é que a coisa não tem andado bem, isto é, tem-se andado de Caifaz para Pilatos como soe dizer-se, valendo neste aspecto a boa vontade de`diversas pessoas que voluntariamente têm cedido a título precário as ins­talações por vezes em casa própria. Em 18-12-86 tomou posse a primeira direcção a (….)

Beira Vouga nº 395, 16/02/1987

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Arquivo Municipal ganhou casa própria


Quinhentos anos de história estão compilados em milhares de documentos que passam a estar reunidos no novo Arquivo Municipal de Albergaria-a-Velha. O arquivo da própria Câmara - que integra actas, plantas e registos oficiais -, testamentos com mais de 200 anos, cartas de foral, documentação das três sedes de concelho localizadas em Angeja, Frossos e Paus e registos locais únicos - tudo está agora ao dispor da população e de investigadores.

No dia da inauguração do Arquivo Municipal, a autarquia assinou protocolos com os detentores da antiga Fábrica Alba [Metafalb] e da antiga Fábrica de Celulose do Caima [credores da Reficel] com vista à entrega de documentação importante para o fundo local do concelho. A primeira entregou à autarquia as pautas da extinta Banda Alba e a segunda os arquivos que são marca documental do funcionamento da fábrica.

A Câmara quer continuar a estabelecer protocolos com privados que tenham em sua posse património documental de extrema relevância para a história do concelho. Estes protocolos apresentam duas vertentes. Uma estabelece a doação dos documentos à autarquia e a outra visa a entrega da documentação ao município, passando esta a ser uma entidade de salvaguarda daquele património.

Um exemplo de doação foi o de Jorge Figueiredo, neto do proprietário da Tipografia de Albergaria, de quem herdou uma colecção de 801 jornais da região do Vouga datados entre 1888 e 1945. Este espólio encontra-se agora disponível para consulta do público em geral no Arquivo Municipal, que dispõe de um moderno equipamento de procura de documentação desenvolvido no âmbito do programa Sal-On Line. Trata-se da digitalização dos documentos para uma melhor visualização e fácil utilização. A Câmara assegura que é um método simples de consulta, acessível a todos.

Oito anos de espera

Com o seu arquivo espalhado por diversos espaços municipais e sem o devido tratamento, a autarquia considerou “urgente” ter um espaço adequado para instalar o Arquivo Municipal. O processo começou em 2002 e demorou seis anos a estar concluído.

Em 2004, a Câmara apresentou uma candidatura ao Programa de Apoio à Rede de Arquivos Municipais para a integração do arquivo concelhio na rede nacional e para a realização de obras de adaptação do edifício da “cadeia”.

O acordo de colaboração com o Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo surgiu a 17 de Fevereiro de 2005 e foi homologado pelo então secretário de Estado para os Bens Culturais, José Amaral Lopes. Com este passo, o município garantiu 40 por cento de financiamento para as profundas obras de requalificação. À Câmara coube a restante parte do investimento.

O Arquivo Municipal tem uma área útil de 428 metros quadrados e três pisos. No rés-do-chão está a recepção, o depósito de documentos e a sala de leitura. Subindo ao primeiro andar, encontra-se os gabinetes de classificação e tratamento de documentos, gabinetes técnicos, uma sala de exposições e uma sala multiusos, preparada para receber iniciativas de carácter cultural e pedagógico. No último piso funciona a área de depósito de suportes audiovisuais e digitais.

De cadeia a Arquivo

O edifício que hoje acolhe o Arquivo Municipal é conhecido pelas gentes do concelho como a “cadeia”. A estrutura foi construída em 1901 pelo então presidente da Câmara, Bernardino Máximo de Albuquerque, que recebeu, em Março de 1906, os primeiros presos. A “cadeia” funcionou naquele espaço até ao início dos anos 70 do século passado, momento a partir do qual permaneceu sem utilidade até 1986. Neste ano, os Paços do Concelho entram num projecto de obras profundas de requalificação e a “cadeia” foi adaptada para acolher, temporariamente, os serviços da Câmara e da Assembleia Municipal, durante o decorrer das obras. Depois também foi escola e Junta de Freguesia e albergou a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens e o Centro para a Divulgação das Tecnologias de Informação.

Carmen Martins / Diário de Aveiro

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Primeira Cadeia da Vila

Terminada a fraticida guerra entre os partidários de D. Miguel e de D. Pedro, com a vitória dos Liberais, Albergaria-a-Velha foi elevada à categoria de vila e passou a cabeça do concelho com o mesmo nome.

Para tal contribuiu a tomada de posição da maioria dos seus habitantes, entre os quais se destacou uma plêiade de activos liberais. Pesou também, naturalmente, nesta distinção o reconhecimento da realidade social e política e da posição estratégica da, nossa região, co­mo ao longo dos tempos ficou bem demonstrado.

Logo em 1835, o recém-criado concelho passou a fazer parte do nóvel distrito de Aveiro, por Decreto de 18 de Julho. Empossada a Câmara Municipal, uma das suas primeiras preocupações foi procurar conseguir as estruturas indispensaveis (…)

Ora uma das necessidades já reconhecidas no relatório do médico-visitador oficial das cadeias da Comarca de Aveiro, a que pertencíamos, era a da construção de uma capaz e segura cadeia em Albergaria-a-Velha, (…).

Não havendo na ocasião, co­mo se compreende, a verba indispensável para o efeito, aproveitou-se o velho edifício do Real Hospital de Albergaria-a-Velha que, por essa ocasião, fora extinto por absoluta falta de meios de subsistência. Situado junto à estrada real de Lisboa-Porto, no centro da vila, no troço hoje denominado por Rua do Hospital, fazia esquina com o pequeno largo onde desembocava a estrada vinda de Valmaior, hoje denominado Praça de D. Teresa ou Praça Velha.

Após algumas obras de adaptação, o decrépito prédio setecentista do Hospital veio a ser a primeira cadeia da vila e assim foi permanecendo, em precárias condições de salubridade e segurança, ao longo de oitenta anos.

Instalado o Julgado Municipal, em 16 de Junho de 1887, e criada pouco depois em sua substituição a Comarca de Albergaria-a-Velha (20 de Setembro de 1890), começava a tornar-se imperiosa a construção de um edifício para cadeia que satisfizesse as necessidades do sistema judicial então instaurado.

Nesta altura, porém, a Câmara Municipal, presidida por Bernardino Máximo d'Albuquerque, estava empenhada em fazer erguer o edifício imprescindível para Paços do Concelho. Aprovado o projecto do arquitecto aveirense Maia Romão no final deste ano, iniciou-se a construção no ano seguinte para vir a concluir-se em 1897. (…)

Albuquerque Pinho
Beira-Vouga

Albergaria-a-Velha e o seu Concelho


Albergaria dos pobres e passageiros da Rainha D. Teresa...

Assim começa a inscrição da lápide actualmente existente nos Paços do Concelho de Albergaria-a-Velha, mandada colocar no Hospital por Acórdão da Relação de Lisboa, de 27 de Maio de 1629. Este acórdão identifica, definitivamente, o Couto de Osselôa (hoje Assilhó), instituído por D. Teresa a Gonçalo Eriz em 1155, com a obrigação de tratar dos pobres e passageiros.

A Carta do Couto de Osselôa é considerado o primeiro documento em que Portugal figura com o título de reino e constitui a certidão de nascimento e de batismo de Albergaria-a-Velha, como afirma o saudoso Dr. António de Pinho, erudito autor da melhor monografia existente sobre esta Vila e o seu concelho.

Albergaria nasceu, assim, sob o signo da Caridade. O seu brasão, aprovado em 27 de Março de 1961, com as suas oito rosas de oiro e a cruz das armas de D. Teresa, bem simboliza a nobreza e a generosidade com que eram recebidos os passageiros e os doentes.

O seu concelho foi criado em 1834 e era constituído por três freguesias. Hoje é constituído por oito freguesias.

Situado onde a Serra acaba e a Planície começa, o concelho de Albergaria mantém, por isso, um lugar de passagem obrigatória da Serra para o Mar. Nele se cruzam as estradas de Viseu a Aveiro e do Porto a Lisboa. E é servido pelo caminho-de-ferro do Vale do Vouga, de Viseu a Espinho.

Por isso, dificilmente se encontra Vila com melhores vias de acesso e com mais facilidades de deslocação dentro do Distrito e da Beira-Litoral.

À sua privilegiada situação se deve uma modelar indústria hoteleira que aqui atrai inúmeros forasteiros durante todo o ano.

A dois passos de todas as praias do Distrito, é fácil aos habitantes de Albergaria frequentar a praia e dormir em casa. A quem preferir o panorama serrano, facilmente se desloca ao Arestal, às Talhadas, ao Caramulo, ao Buçaco.

A meia distância entre Porto e Coimbra, a deslocação a qualquer destas cidades faz-se em 50 minutos.

Esta invejável situação permite que, em dias de mercado, aqui se dirijam comerciantes de várias procedências e que a praça de Albergaria, aos sábados, seja das mais concorridas do Distrito.

A principal fonte de receita deste concelho é, ainda, a exploração agrícola, sobretudo da área florestal, que é considerável.

Mais de dois terços da superfície do concelho estão cobertos de pinheiros e eucaliptos. É considerado o concelho do país mais rico em eucaliptos.

O seu desenvolvimento industrial é notável, sobretudo no ramo metalúrgico, de celulose e de papel.

Este concelho não é rico em monumentos históricos, como aliás acontece em grande parte das terras da Beira-Litoral: sem granito, o material de construção dos seus monumentos não resiste ao tempo. É, no entanto, digna de visita a Igreja da Vila, construída em fins do século XVII, com a sua notável obra de talha.

O monte da Senhora do Socorro, a norte da sede do concelho, a antiga Pedra de Águia a que se refere a Carta do Couto, é local de peregrinação de terras próximas e afastadas, como não há outro por esta região. Dali se desfruta um panorama deslumbrante, para a Serra e para o Mar.

O concelho de Albergaria, situado no centro do Distrito de Aveiro, banhado pela água do Caima e do Vouga, é região rica de paisagens e de fácil acesso. As poéticas margens do Vouga, desde a Foz do Rio Mau à Pateira de Frossos e campos de Angeja, são locais dos mais pitorescos, pela variedade de paisagem, conforme as estações do ano.

Pela sua situação e pelos atractivos naturais de que é dotado, o concelho de Albergaria deverá ocupar, de futuro, um lugar de destaque na Beira-Litoral. Oxalá que os seus habitantes e os Poderes Públicos saibam aproveitar-se destes predicados para promover o progresso desta Região, que nem sempre terá sido convenientemente lembrada.

Dr. Flausino Fernandes Correia
(Médico e Presidente da Câmara Municipal do concelho de Albergaria-a-Velha)

AVEIRO E O SEU DISTRITO - 1966

sábado, 11 de outubro de 2008

Celulose do Caima

Nesta edição do Caima Jornal, não vamos fazer a história dessa indústria, vamos isso sim, viajar pelo rio Caima abaixo, até chegar junto ao lugar de Fradelos, na freguesia da Branca, onde as enormes e desactivadas instalações da Celulose do Caima, fazem recordar com nostalgia o tempo não muito distante em que centenas de trabalhadores aí trabalhavam.No ano de 1846 resolveu a Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Oliveira de Azemeis, que: “... só se escrevesse na Secretaria, em Papel Nacional”.

Curiosa determinação essa, a que não deveria ser alheia a profissão de um dos seus membros, Francisco Assis de Carvalho, que tinha em Carregosa uma fábrica de papel, no lugar da Ínsua.No curso do rio Caima, investidores ingleses, viram potencialidades suficientes para dar energia ás máquinas que aí estavam resolvidos a montar.

No ano de 1888 é fundada a “The Caima Timber Estate and Woold Pulps Company Ldª”, cuja actividade principal seria ao longo de mais de um século a produção de pasta para o fabrico de papel, para tal fim foi adquirida por 36 mil réis a vasta “Quinta do Carvalhal”, situada entre as freguesias de Ribeira de Fráguas e Branca, composta por casas de habitação, pinhais e terras lavradias, nas margens do rio Caima e o vendedor foi William Cruickshank, Director das Minas do Palhal, em Silva Escura - Sever do Vouga.

Nas enormes instalações fabris agora sem vida laboraram ao longo de gerações largas centenas de trabalhadores, como por exemplo, José da Silva, agora com 82 anos que aí laborou durante 55 anos e com quem falamos.

Três gerações a trabalharem na Caima

José da Silva, dos 10 aos 65 fez um pouco de tudo. Reside no lugar de Fradelos, bem perto da Escola Primária, José da Silva, nascido a 25 de Novembro de 1923, pouco tempo teve para gozar a meninice, já que saído da escola com 10 anos, logo seguiria as pisadas de seu pai, Manuel da Silva e foi como pequeno operário acartar carvão para as caldeiras de fogo da grande fábrica de produção de pasta de papel “Caima Pulp”, que entretanto com instalações totalmente renovadas em 1926 se tornaria a mais antiga fábrica de pasta de papel de eucalipto da Europa.José da Silva, anos mais tarde passou para a Silvicaima, sendo em 1988 encarregado florestal e afirmou-nos que:... dantes não haviam tantos fogos!.”

A quem interessa o abandono da Celulose do Caima?

A quem lá trabalhava, não!... Mas não foram só os trabalhadores que ficaram sem o emprego, dezenas de fornecedores locais viram ir-se embora um bom cliente! O encerramento total das instalações da Celulose do Caima S. A., em Fradelos - Branca, passando a sua actividade para a unidade indústrial em Constância, deixou ao abandono um património arquitectónico fabril, no valor de milhões de euros, e sem emprego, no lugar de Fradelos e em toda a região do Caima, largas dezenas de pessoas.

E isto, segundo a opinião geral, por questões ecológicas mal geridas pelo poder autárquico: “Os ingleses foram-se embora!...”. Como homenagem aos que aí trabalharam e fornecedores seguem-se alguns nomes de trabalhadores: Ilídio Loureiro da Silva Pedro e seu familiar Ilídio Pereira Loureiro; Armindo Lopes; Raul Martins; Mário Rodrigues."

Fonte: Caima Jornal/Jornal Regional

Entrevista ao Presidente Junta Freguesia de Albergaria


Para José Menezes, presidente da Junta de Freguesia de Albergaria-a-Velha, a grande mais-valia da Zona Industrial aqui instalada assenta na sua «excelente localização». Quanto à sua dimensão, está a prevista a criação de um pólo de Nova Geração, aquando da revisão do PDM

EA-Como caracteriza o tecido empresarial da Zona Industrial de Albergaria-a-Velha (ZIA)?

A ZIA caracteriza-se por ter um tecido empresarial diversificado na área da metalomecânica, cerâmica, plástico, moldes, mármores, reciclagem, tratamento de superfície, madeiras, panificação, metal duro, fundição, comércio automóvel, construção, entre outros sectores. Destaco a Grohe, a Bimbo, a Durit, a Alberplás, a Polivouga, a Metaloiberica, a Manufacturas Abreu, a Lusoparquete, a Portopal, a Trinoplás, a Fundição Penedo Beira, a Albergran, a MCRios, a Ambitrena, a Galvaza, a Quimialmel, a Cinca, a Volvo, a Maxit, a Pertos, a Maiolica, a Fisola, a NJL, entre outras

EA-Como classifica a capacidade de atracção de investimento da ZIA para a freguesia?

A sua capacidade de atracção de investimento deve-se à sua implantação no terreno, aliado à proximidade do Porto de Aveiro, à linha do Caminho-de-ferro do Norte e a sua ligação preferencial através da A25 para a vizinha Espanha e, daí, para o resto da Europa, não falando para os diversos eixos viários que atravessam o concelho

EA-Quais as principais carências da ZIA?

A sua principal carência é a sua dimensão, atendendo à procura dos investidores para o local. O executivo da Junta de Freguesia de Albergaria-a-Velha já sugeriu ao executivo da Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha os novos limites de alargamento, aproveitando a actual fase da revisão do Plano Director Municipal (PDM).

A referida sugestão de alteração abrangeu, igualmente, outras zonas de terrenos da freguesia, que poderão servir para proporcionar o aumento dos índices de construção urbana com a consequente fixação de novos potenciais munícipes.

EA-O que a diferencia a ZIA das demais e que pode ser encarado como factor atractivo para instalação de novas empresas?

A principal mais-valia da ZIA é, sem dúvida, a sua posição geo-estratégica face aos principais eixos viários que atravessam a nossa freguesia e o nosso concelho, que permitem aos residentes de outros concelhos vizinhos o seu fácil acesso aos locais de trabalho, sedeados nas empresas localizadas na ZIA.
Podemos considerar, igualmente, mais-valias a existência dos cursos de especialização tecnológica que existem na Escola Secundária de Albergaria-a-Velha, em parceria com a Universidade de Aveiro e a Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha, não esquecendo a proximidade de outros centros de formação localizados nos concelhos de Águeda e de Aveiro e da própria Universidade de Aveiro.
A própria centralidade (rodeada de concelhos com um bom índice populacional), a ZIA consegue ser um atractivo para os quadros médios e superiores procurarem emprego na freguesia, não esquecendo todo o parque habitacional actualmente existente, disperso por vários pontos da freguesia que constituem pólos apelativos de fixação para quem quer aliar ao emprego uma melhor qualidade de vida.

EA-Qual a evolução prevista?

Pretende-se, com a revisão do PDM, a expansão da ZIA, com a criação de um pólo da Zona Industrial da Nova Geração (ZING), onde possa congregar várias valências na área da formação, incubação de empresas, serviços de inovação e desenvolvimento (ID), com uma ligação estreita com a Universidade de Aveiro e com a AIDA.

EA-A sua localização é um ponto a favor?

A localização da ZIA é excelente face à proximidade dos principais eixos viários – IC1/A29, IC2/EN1, EN109, A25, A1, aliada aos estudos existentes da RAVE (Rede de Alta Velocidade), que apontam para a localização da futura estação de Aveiro do TGV nas proximidades da freguesia de Albergaria-a-Velha, bem como, a longo prazo, da concretização da ligação Aveiro – Salamanca (Europa).

EA-O que falta na freguesia de Albergaria-a-Velha, ao nível de infra-estruturas?

As infra-estruturas, de um modo geral, são satisfatórias, quer no campo da saúde, da justiça, do ensino e dos outros serviços de uma maneira mais abrangente.
Tem-se verificado o esforço da autarquia, de alguns ministérios, em dotar as infra-estruturas com melhores capacidades de resposta face ao exigente mundo de ofertas.
Não posso esquecer o esforço que as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) da freguesia têm feito, não só na construção de novos equipamentos sociais na área da infância e da família, como na melhoria das existentes na área da terceira idade.
A requalificação dos espaços que o executivo da Junta de Freguesia, que tenho o grato prazer de liderar, tem vindo a fazer nos vários locais da freguesia, têm sido os aspectos positivos desejáveis na fixação de novos munícipes. Não é por mero acaso que temos sido uma das freguesias do país que mais tem crescido, a nível populacional, nos últimos anos.

EA-Quais os principais investimentos previstos para o próximo ano?

São vários os investimentos previstos para o ano de 2008, uns em fase de conclusão, outros na fase de arranque. Dos que estão na fase de colocar ao serviço da comunidade, quero realçar o novo Centro de Acolhimento Temporário, «O Aconchego», mais uma obra de vulto da Associação Humanitária Mão Amiga (IPSS), e a nova Escola EB 1.2., que será um equipamento com qualidade desejável para os jovens poderem usufruir com uma mais-valia nas suas etapas de vida estudantil.
Dos investimentos que estão em fase de arranque, quero realçar a requalificação do lavadouro de S. Marcos e a sua zona envolvente, o projecto de requalificação de um lavadouro na rotunda de Assilhó, que servirá de museu, a requalificação da Rua 1.º de Dezembro, a criação do parque de estacionamento da nova EB 1.2, a melhoria dos espaços envolventes de certas zonas habitacionais, entre outros. Quero, também, realçar na área social, o esforço que a Santa Casa da Misericórdia de Albergaria-a-Velha e a Associação de Infância D. Teresa vão realizar no âmbito do PARES II, com a amplificação e construção das suas valências de Centro de Dia, Lar e Creche, respectivamente.

EA-O que considera que poderia contribuir para um maior desenvolvimento da freguesia?

A manutenção da filosofia da requalificação dos espaços, com a consequente fixação de novos habitantes, e a existência de mais postos de trabalho, são dois pontos-chave que representam uma mais-valia actual no desenvolvimento da freguesia.

EA-Como é a relação da Junta de Freguesia com a Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha?

São dois órgãos presididos por dois homens que têm um percurso de destaque na gestão e na dinamização de equipamentos sociais localizados nas freguesias de Albergaria-a-Velha e Alquerubim. Os seus perfis e sensibilidades representam uma mais-valia na parceria saudável entre dois órgãos, cuja meta é procurar trazer para a freguesia uma qualidade de vida para os seus munícipes.
Para mim, defendo que a política deveria assentar numa tríade de conceitos – tolerância, igualdade e solidariedade. Ser solidário é muito mais que responsabilidade recíproca, é a partilha com os outros de direitos e obrigações contratuais, que se encontram numa interdependência de interesses dos munícipes, sem olhar às cores partidárias.
É com esta cultura que o executivo da Junta de Freguesia tem vindo a desenvolver parcerias, não só com a Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha, como com o Instituto de Reinserção Social, o Instituto do Emprego e Formação Profissional de Águeda e as colectividades sedeadas na freguesia.

Em Aveiro - terça-feira, 27 de Novembro de 2007

sábado, 13 de setembro de 2008

Mártires da Liberdade

A estátua de D. Pedro IV, implantada na mais emblemática praça da nossa cidade, simboliza, por assim dizer, a epopeia do Cerco, a época da redenção politica de Portugal, o tempo em que orgulhosamente nos nivelamos com as outras nações civilizadas do Mundo. Era este, sem dúvida, o local ideal para ostentar os nomes daqueles 12 patriotas que protagonizaram os primeiros combates a favor do Liberalismo e que, em singela, mas comovida homenagem, aqui recordamos Bernardo Francisco Pinheiro, capitão de ordenanças, do concelho da Feira; Clemente da Silva Melo Soares e Freitas, juiz de Fora na Feira, natural de Aveiro; Francisco Manuel Gravito da Veiga Lima, desembargador da Casa da Suplicação; Francisco Silvério de Carvalho, fiscal dos Tabacos, de Aveiro; Joaquim Manuel da Fonseca Lobo, tenente coronel de Caçadores 11, do Porto; José António de Oliveira da Silva Barros, empregado dos Tabacos, do Porto; José Maria Martiniano da Fonseca, bacharel em Direito, da Madeira; Manuel Luís Nogueira, juiz de Fora, de Aveiro; Vitorino Teles de Medeiros, tenente coronel de Milícias, da Lousã; e António Bernardo de Brito e Cunha, contador da Real Fazenda, do Porto. Estes dez foram enforcados no dia 7 de Maio de 1829. No dia 9 de Outubro do mesmo ano foram executados Clemente de Morais Sarmento, de Aveiro; e João Ferreira da Silva Júnior, de Albergaria a Velha.
Texto publicado no Jornal de Notícias
Retirado de Ruas do Porto

Clemente de Melo Soares de Freitas, nasceu em Angeja em 1802, mas residia desde muito novo em Aveiro, com toda a sua família. Depois da revolução tomou posse como juiz de fora na Vila da Feira, por nomeação da Junta do Porto que confirmava uma outra do governo da infanta D. Isabel Maria. Em Vila da Feira teve um papel fundamental em prol da revolução e das orientações emanadas da Junta do Porto.

Rua de Clemente Melo Soares de Freitas, na freguesia da Glória [Aveiro], começa no Cais dos Moliceiros e termina na Rua da Liberdade. Clemente da Silva Melo Soares de Freitas era advogado em Aveiro; na sequência da revolução, a Junta do Porto nomeou-o juiz de fora na Vila da Feira; foi um dos justiçados na forca, em 7 de Maio de 1829.

Rua de João Henriques Ferreira, na freguesia da Vera Cruz [Aveiro], começa na Rua de D. Jorge de Lencastre e termina na Rua do Dr. António Cristo. João Henriques Ferreira Júnior era um jovem liberal residente em Albergaria-a-Velha, que se alistou no Batalhão de Voluntários D. Pedro IV, formado em Aveiro aquando dos acontecimentos de 1828. Entrou em combate contra os miguelistas entre A-dos-Ferreiros e Talhadas. Tendo fugido para a Galiza, regressou a Aveiro onde acabou por ser preso. Foi enforcado no Porto em 9 de Outubro de 1829.

DeAveiroeportugal

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Património Religioso

O maior charme de Albergaria-a-Velha está, sem dúvida, no património religioso. Nada menos que oito igrejas e 44 capelas estão espalhadas pelas oito freguesias do concelho.Branca, terra natal de São Martinho de Soure e uma das vilas mais activas no desenvolvimento da região ao longo dos séculos, é a recordista neste quesito, com 14 capelas.

O Aveiro, 20/06/2002

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Receitas do Municipio (séc. XIX)

(…)
lançaram mais um imposto indirecto sobre a população que era fonte de todos os rendimentos e suporte de todo o orçamento camarário.

Assim, «deliberaram unanimemente que a cada arratel de carne se for vendida nos açougues deste Concelho se lançasse por tres reais, e a cada um quartilho de vinho, que igualmente se vender ao meudo, juntamente se lançasse outros tres reais a todo o vinho que no Concelho se vender par medidas pequenas do meio almude para baixo, e que o sobejo das despezas obrigatórias juntamente com o rendimento das condenações ( ... ) fossem aplicados para a obra do Paredão da Praça».

Encontrada a solução para os encargos a obra veio a fazer-se por parcelas, à medida que ia entrando o dinheiro. Quando no ano seguinte a vila deixou de ser a sede do concelho, em favor de Paus, ainda a construção estava por concluir.

As atribulações por que passou o nosso concelho, com a sua extinção, a sua reconstituição e o seu alargamento, paralizaram as obras de iniciativa e realização municipal. Também não arrancaram nenhumas de carácter nacional, nesta região, porque também o País sofreu sérias atribulações políticas, de enormes e gravosas consequências.

As primeiras grandes perspectivas de obras públicas só surgem, já depois de apaziguado o País, com o advento da Regeneração e a entrada de Fontes Pereira de Melo para o Governo, dobrada a metade do século XIX. Foi por essa altura que a reestruturação administrativa incluiu no concelho de Albergaria-a-Velha as freguesias de Angeja e Frossos, pela extinção do antigo concelho de Angeja, e as da Branca e Ribeira de Fráguas, pela extinção do concelho da Bemposta.

É então que se inicia a política de melhoramentos públicos que atingem a rede viária e vão chegar à nossa terra, ultrapassando um pouco a lentidão a que a época habituara os albergarienses.

Assim, o lançamento da nova estrada, de Coimbra ao Porto, para conclusão da estrada real que ligaria mais seguramente as duas maiores cidades portuguesas, atinge Albergaria e contribui para alargar a sua rua principal, estabelecendo uma mais fácil comunicação até ao limite norte da freguesia da Branca.

Para esse efeito foram feitas expropriações indispensáveis à obra que também era de interesse urbanístico local, como é evidente.

Em 1856, a Câmara, porém, recusou-se a pagar, com o fundamento de que «os serviços offerecidos em tempo pela Camara não foram então aproveitados para a estrada de que se tracta; por cujo motivo forão depois d'isso empregados em outras obras, como, a obra da Ponte e estrada marginal d'Angeja; a Estrada Real d'Aveiro a Albergaria; e na conducção de pedra para as proximidades desta villa, pedra de que os empreiteiros se aproveitarão; attendendo mais a que inopinadamente escaciarão os meios pecuniarios da Camara pela falta de produção e consumo do vinho, que suportava a maior parte dos impostos municipaes; e a que esta falta e a de alguns generos cereais troucerão consigo hurra verdadeira crise (...)».

A pobreza da Câmara e do Concelho são uma vez mais postas em crua evidência. A população não pode pagar mais, reconhecem os autarcas e, por isso, há que procurar outras soluções para a obra que é um benefício geral que não negam e desejam.

Assim, a Câmara, presidida então por Patrício Luiz Ferreira Tavares Pereira e Silva, «decidio que não lhe sendo possível apurar os fundos precisos para satisfazer as ditas expropriações, estava prompta a dar em troco d'esses fundos 698 jornaes de carros (…) por forma a que o seu serviço equivalha a quantia de 279.200 reis em que julga poderem montar as mesmas expropriações» .

Apesar desta argumentação ponderosa, o Governo não se demoveu e a Câmara teve de pagar as expropriações dentro de Albergaria. E veio a ser o próprio presidente a abonar do seu bolso particular uma boa parcela dessa indispensável importância que a Câmara não tinha. Só em 1863 ela veio a receber o seu dinheiro, colocado ao dispor da autarquia sem quaisquer juros.

(…)

Albuquerque Pinho
Beira Vouga, 7 de Dezembro de 1987

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Branca - Lutar pelas obras que faltam

O aumento populacional da freguesia da Branca aponta um crescimento de 16 por cento, registado pelo Censos de 2001. A construção habitacional tem acompanhado este desenvolvimento que, de acordo com o autarca Fernando Soares Ferreira, muito se deve ao aparecimento da Escola Básica 2,3 e às associações culturais e desportivas da freguesia que têm oferecido um leque de actividades lúdicas à população e promovido o nome da Branca fora da região

- A freguesia da Branca é muito diversificada. Tem muito comércio, bastante indústria…

Já teve bastante mais, mas com o encerramento da celulose do Caima e da Cerâmica da Branca, perdeu uma boa faixa da indústria local. De qualquer forma, a freguesia continua a ter muitas indústrias aqui sedeadas. E muito comércio. E também tem agricultura, mas esta é de subsistência e pouco significado tem. A agricultura que vemos é para reforço do orçamento familiar.

- Isso significa que a Branca tem assistido a um grande desenvolvimento nos últimos anos?

A Branca tem-se desenvolvido muito. Não existe qualquer dúvida. Para tal muito contribuiu a construção da Escola Básica 2,3, o aparecimento das associações culturais e desportivas, que têm promovido o nome da Branca pelo país. Portanto, todas estas interligações ajudam a que a Branca se tenha desenvolvido muito nos últimos anos.

- Houve um aumento populacional?

Sim. De facto a população tem vindo a aumentar. No Censos de 2001 teve um aumento de cerca de 16 por cento. Presentemente não está quantificado o número de residentes. A Junta de Freguesia é que, pela observação da população, estima que existam cerca de seis mil habitantes na Branca.

- Falou de alguns factores sociais que ajudaram a servir a crescente população. Mas que outros factores impulsionaram a implantação de novos moradores na freguesia?

O aparecimento da Escola Básica 2,3 foi uma infra-estrutura que fixou professores e atraiu outras pessoas a comprar residência na Branca. A explosão a nível da construção habitacional a que a freguesia tem assistido. São diversos os factores que fizeram da Branca uma freguesia atractiva para morar. A boa localização e as boas vias de comunicação que temos também são factores importantes para as famílias que decidem vir morar para a Branca. Salvo o IC2, que nos estraga a vida. Todas as restantes vias internas são boas, embora nesta última fase de obras tenham ficado um pouco degradadas.

- A Branca oferece boas condições de vida a quem vem morar para a freguesia?

Sim. A Branca oferece muito boas condições de vida a quem decide residir na freguesia.

- E quanto à implantação de novas empresas e comércio?

Têm aparecido alguns investimentos, mas nada de muito significativo.

- O facto de estarem próximos da Zona Industrial de Albergaria-a-Velha não faz com que as empresas queiram instalar-se nesta zona?

Os órgãos da freguesia deliberaram que a zona industrial da Branca se localizasse na continuidade da Zona Industrial de Albergaria-a-Velha. Algumas das indústrias que estão na Zona Industrial de Albergaria já estão em território da Branca.

- E qual tem sido o papel da Junta de Freguesia no desenvolvimento da Branca?

A Junta de Freguesia sozinha pouco pode fazer. Não temos capacidades financeiras, técnicas ou humanas para desenvolver muitas obras. Limitamo-nos a ser os eternos pedintes. E vamos pedindo o que sentimos que faz falta. Temos um Centro Cultural que mete inveja a muita gente. E já há cerca de 16 anos que se falou nisso. O que é que aconteceu? Nós não esperámos sentados. Continuámos a lutar até que a obra surgiu. Assim como surgiu o Pavilhão Desportivo e estão a surgir as piscinas e o campo de futebol. Se tudo isto apareceu foi porque nós não estivemos sentados à espera. Pressionar e ter alguma voz junto dos órgãos responsáveis, tem sido a nossa contribuição para o desenvolvimento da Branca. E continuamos a insistir porque ainda faltam algumas coisas. Ainda nos falta pôr a relva no campo de futebol. Mas tudo virá a seu tempo. E podemos dizer que temos conseguido concretizar os projectos, devido a um forte apoio da Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha, que juntamente com a Junta de Freguesia tem lutado pela concretização das obras.

- O que é que falta criar neste momento?

Falta completar a rede de saneamento. Está adjudicada a fase C e quando esta estiver concluída teremos com uma cobertura deste serviço, na ordem dos 90 a 95 por cento. Faltará também concluir as obras que estão em andamento e são grandes investimentos que se fizeram na Branca. Estas obras não podem ficar paradas. Há que terminar de construir a piscina, dotar a parte desportiva com as respectivas infra-estruturas como relvar o campo e construir as bancadas. Depois há que melhorar as vias internas. Uma vez terminadas as obras que estão em curso na EN 1-12, a autarquia tem que se voltar para os circuitos internos. Elas estão degradadas. São investimentos que têm de ser feitos e não podemos de forma nenhuma deixar adormecer estes projectos.

- E como é que estão as obras da nova extensão de saúde da Branca?

Vai funcionar. A extensão de saúde ainda está em construção e é uma obra que está planeada há mais de oito anos. Dentro de meses estará concluída e ao serviço da população. Era uma das grandes carências, porque a actual extensão de saúde da Branca funciona numa casa alugada, cujas condições não permitem o seu funcionamento. Os utentes, que por norma são as pessoas mais idosas, têm de subir as escadas para irem às consultas. Os próprios médicos têm que se deslocar do gabinete no primeiro andar para dar a consulta a quem não pode subir as escadas. Este é um assunto que vai agora ficar resolvido. Depois falta-nos uma coisa que já pedimos há muito tempo e que é um posto da GNR. Há poucos dias, enviámos uma carta ao ministro da Administração Interna. Continuamos a pressionar, embora saibamos que nesta altura o que se pretende é reduzir e não aumentar.

- E porque é que a Branca tem necessidade de um posto da GNR na freguesia?

A Branca necessita tanto como todas as outras freguesias. Todos nós precisamos de nos sentir seguros. Gostaríamos que, pelo menos, dotassem a GNR de Albergaria-a-Velha com mais meios materiais e humanos para que possam fazer patrulhas com mais assiduidade, não seria tão necessária a criação de um posto na Branca. Na falta destes meios, precisamos que eles estejam cá.

- Que trabalho tem sido realizado a nível social?

A Probranca tem prestado bons serviços sociais à população. A instituição desenvolve diversas valências, desde o apoio domiciliário ao trabalho no Centro de Dia. Recentemente foi aprovada a construção de um lar. Ainda na área do apoio social, temos a Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental, que faz um excelente trabalho na região.

- Como é que vê a Branca nos próximos anos?

A Branca terá ainda melhores condições para morar e poderá ter um conjunto cada vez maior de infra-estruturas que servirão a população a todos os níveis. Haverá sempre coisas para fazer e nós estaremos atentos às necessidades da região.

Carmen Martins / Diário de Aveiro 13.02.2007

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

De Férias por Terras de Portugal

Acabo de passar férias em Portugal na “Quinta Outeiro da Luz” na Branca: uma terra amena do Norte, perto de tudo e de todos, onde o mundo ainda parece encontrar-se em ordem!
A uma distância suficiente de Lisboa, reflecte bem a paisagem e a cultura portuguesa. Enquadra-se nas Terras de Santa Maria, a 60 km de Coimbra, a 50 do Porto, a trinta de Aveiro e a trinta da Serra da Freita. Nesta terra acolhedora e farta, pertencente a Albergaria-a-Velha, as pessoas, mesmo desconhecidas, ainda se saúdam na rua e conjugam equilibradamente a tradição com a modernidade.
A vida e o progresso desta terra mostram que palavras-chave como indivíduo, família, propriedade, economia liberal, igreja, permanecem mensagens válidas e promissoras de futuro.
Aqui ainda se servem, bem e barato, os tradicionais pratos da cozinha portuguesa. Por isso ia todos os dias comer ao restaurante P…, onde, com mais três pessoas, pagava, no conjunto, um total entre 16 e 20 euros. Naturalmente que aqui não se pagava nem esperava o requinte e o artificio mas era-se compensado com a simplicidade, a atenção e a alegria, características do povo trabalhador nortenho.
A beleza da paisagem, a riqueza da cultura, as festas e eventos exuberam por todo o lado.
De resto: um país maravilhoso com um grande povo em contínua elaboração, ainda por completar; um país medíocre, se atendermos aos seus governantes autistas; um país à margem do seu povo e da nação, se atendermos à sua Administração e outras instituições relevantes; um país de envergonhados e desavergonhados, se atendermos a uns e a outros; um país excepcional que subentende a excepção à regra.
Regresso contente mas com um vago sentimento de pena: de pena da gente simples, de pena dos cães e animais ainda não respeitados; de pena de tantas esperanças desbaratadas e de tanto trabalho dispendido mas sem o resultado que seria de esperar.
Regresso com a impressão de ter contactado um povo em estado de erosão. Verifiquei um certo espírito de indolência e de indiferença que se refugia na nostalgia dum imaginário prometedor mas enganador. A maioria vive sufocada pelas amarras da informação, do telejornal, das telenovelas e do artificialismo político. Um cinismo sub-reptício parece ganhar forma.
No espírito de muitos falantes parece pairar um certo individualismo emigrante: o reverso do sebastianismo.
Cansados do centralismo da capital e dum alarido político que tudo domina e ameaça destruir as sub-culturas mais recônditas e sossegadas, muitos, parecem ter já resignado e encolher os ombros, entregando-se à inércia de poderes governantes, que a força do destino ciclicamente vai colocando: os deuses do Olimpo democrático é que podem e sabem!....
Uma cultura política de lugares comuns vai vivendo do povo e da nação. O contento dos contentes parece implicar necessariamente o descontentamento agachado do povo português. Este tira à cultura e ao descanso o que lhe falta para a boca. Se em Lisboa se vive do sarcasmo e da ironia, um sentimento individualista leva o homem da província a evadir-se e a distrair-se da própria impotência e da impotência da nação. Parece restar-lhe assumir o cinismo vigente nos corredores ministeriais de Lisboa, que se ri de Portugal como nação.
Quem vê Portugal, como eu o faço agora da Alemanha, fica com a impressão que falta a Portugal uma atitude de pensamento. Este parece derramado pelas toalhas das mesas das elites da nação, a que falta um modelo consensual de elites de Portugal.
Assim se vai destruindo a nação e a natureza reduzindo-a à medida dos planos, dos planos de outros!....
A ideologia do progresso parece quer distrair-nos de pensar, alucinando-nos. Quer-se a mudança pela mudança sem respeito pelo dado; não se dá tempo para a mudança, nem se reserva tempo nem há capacidade para a reflectir. È mais fácil seguir a música dos outros. É mais fácil ser-se dançarino do progresso das palavras e das ilusões. A Nação e o Povo são apenas o palco!...

António da Cunha Duarte Justo
2008-08-02
http://blog.comunidades.net/justo/index.php?op=arquivo&idtopico=344728

sábado, 26 de julho de 2008

Inauguração do Hospital da Misericórdia

Diàriamente, a Imprensa regista novas inaugurações que se efectuam pelo País - testemunho eloquente da reconstruçäo material que se vem operando em todo o Portugal.

Albergaria-a-Velha, sede de um concelho do distrito de Aveiro que mantém inalteràvelmente, e com apreciável ritmo, o curso das suas progressivas realizaçöes, conta desde há dias - Maio, 1953 - com mais duas obras de importância e interesse, no aspecto da assistência social.

Com efeito, o novo Hospital da Misericórdia - erguido precisamente no local onde existiu o edifício hospitalar antigo - como o seu apetrechamento perfeito de tudo quanto há de melhor e com a capacidade para 53 camas, e a Casa da Criança, instituiçäo delineada com o fim de prestar assistência às crianças dos seis meses aos seis anos, säo duas realizações de que Albergaria-a-Velha se orgulha.

Ambas se devem ao espírito de iniciativa e de benemerência do presidente do Município, Comendador Augusto Martins Pereira, e auxílio do Estado.

Näo admira, pois, que a populaçäo da referenciada vila tenha consagrado ao dia das inauguraçöes a sua melhor atençäo, engalanando-se festivamente para receber o representante do Governo, sr. dr. Trigo de Negreiros, Ministro do Interior que ali se deslocou expressamente para tal fim.

Na sessäo que se realizou após as duas inaugurações, o sr. Ministro do Interior, depois de recordar que ainda há pouco tempo assistira à inauguração do maior hospital do País, que fica a ser um dos primeiros da Europa, afirmou;

"Se o novo Hospital Escolar de Lisboa, na grandeza da sua fábrica e na complexidade dos seus serviços, constitui eloquente testemunho da nossa capacidade de realização e da nossa solvência financeira, o hospital da vila de Albergaria bem como a Casa da Criança, que hoje inauguramos, valem pelo espírito de iniciativa e louvável amor ao torräo natal que revelam. E tanto aquela obra monumental como estas modestas obras säo igualmente revelações evidentes da mudança operada nos homens e nas coisas".
E acrescentou;
"As obras que inauguramos são pelo fim a que se destinam, aquelas que se fazem para durar; enquanto houver crianças há-de haver necessidade de manter instituições atinentes a cuidar da sua saúde física e moral e enquanto a doença constituir o mais natural dos acidentes da vida humana também deverá haver hospitais que sirvam, como este, para minorar os seus efeitos mediante o mais adequado tratamento. Entretanto por maiores que tenham sido as realizações materiais, muito maior é a renovaçäo espiritual do País, operada nos últimos vinte e cinco anos.

A ela ficamos a dever o reaparecimento daqueles homens bons, como o provedor da Misericórdia de Albergaria, para quem a prática do Bem dando aos necessitados o que sobra do seu tempo, das suas energias e da sua fazenda, é virtude tão natural que, por muito repetida, já quase se não nota. A nós, porém, não podem passar despercebidos a sua dedicaçäo e o seu zelo; e, por isso, aqui lhe deixo o apreço do Governo pela obra realizada, esperando que esta constitua incentivo, não apenas para a sua continuação, senão também para espelho e estímulo de quantos vivem em outros concelhos".

Mais adiante, o sr. dr. Trigo de Negreiros lembrou a apoteótica manifestação de há dias ao sr. Presidente do Conselho, dizendo, a propósito;
"Se a existência de uma Nação é - no dizer de Renan - um plebiscito de todos os dias, o passado 27 de Abril foi, sem dúvida, o mais concludente dos plebiscitos, visto que ele se realizou através da lista aberta das manifestações populares, desde as mais abastadas de bens de fortuna às mais humildes. O Chefe do Estado, intérprete dos anseios da Nação, consagrou com o seu alto prestígio todas as manifestações que então se fizeram, e até a elas se antecipou ao convocar a Assembleia Nacional para lhe dar conhecimento da mensagem que, através dela, dirigiu ao País. A nobreza das suas palavras ficará a perdurar como símbolo de justiça e de elegância moral".

E terminou;

"É certo que no dia 27 se consagrou um Homem; mas para além dele, consolidou-se uma política, enalteceu-se um regime e engrandeceu-se uma Nação. Se o poder representa um valor espiritual, o País soube ser fiel a quem durante vinte e cinco anos o soube exprimir. Saibamos, portanto, recolher do dia 27 de Abril a lição que contém; a nossa unidade continua a constituir a nossa força; e a fidelidade aos Chefes - Craveiro Lopes e Salazar - é a nossa divisa. Mas a unidade no plano nacional supöe e implica necessàriamente o bom entendimento e o espírito de cooperaçäo no plano regional".

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Efemérides - Autor: C.Martins <caparica@sympatico.ca> Data: 18-05-2007
http://jn2.sapo.pt/seccoes/mensagem.asp?118466

Inauguração do Hospital- 03/05/1953