sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

António Augusto Martins Pereira

António Augusto Martins Pereira nasceu em 1927, sendo filho de Américo Martins Pereira e neto do Comendador Augusto Martins Pereira, representantes de uma das famílias que mais marcaram, de forma positiva, o século XX do concelho de Albergaria-a-Velha.


António Augusto Martins Pereira é uma lenda viva do desporto albergariense. Desde muito novo, ainda estudante, começou a praticar voleibol no Sport Clube do Porto, jogando também futebol nos júniores do Infesta, dado que estudava no Colégio Almeida Garret, no Porto.

Foi igualmente praticante de motonáutica e o automobilismo foi outra das suas grandes paixões da juventude. O célebre carro Alba, uma relíquia que faz parte do seu espólio pessoal, acelerou pelo país inteiro, ganhando várias provas de âmbito, como a 2ª Taça Cidade do Porto e vários rallys, o mais importante de todos o do Vinho do Porto-Régua. O lendário carro Alba, da sua autoria, era vencedor habitual da categoria Sport, conduzido pelas mãos hábeis e pela perícia de António Augusto Martins Pereira.

Até que chegou a altura do futebol a sério e no renascer do Sport Clube Alba, no começo dos anos 50, após uma interrupção das actividades do clube que o seu pai e avô haviam fundado a 1 de Janeiro de 1941. Logo ficou patente o empenhamento e a dedicação sem limites de António Augusto Martins Pereira. Primeiro como jogador, nas posições de extremo-direito e avançado-centro, e até esporadicamente como defesa direito, sob a orientação de outro dos “monstros sagrados” do futebol albergariense, o inesquecível Carlos Alves, o homem das luvas pretas.

(...)

António Augusto Martins Pereira pode ser considerado o mais completo e dedicado desportista do nosso concelho, pois foi ainda presidente do Sport Clube Beira Mar, durante dois anos e quatro como vice-presidente. Foi igualmente membro das direcções do Sporting Clube de Aveiro, do Clube Naval de Aveiro e do Clube de Albergaria, do qual é (tal como do Sport Clube Alba) sócio número um.

Jornal de Albergaria - retirado de http://blogdealbergaria.blogspot.pt/2008/08/antnio-augusto-martins-pereira.html

LUTO MUNICIPAL em memória do Ex.mo Sr. António Augusto de Lemos Martins Pereira


É com profundo pesar que a Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha tomou conhecimento do falecimento do Ex.mo Senhor António Augusto de Lemos Martins Pereira no final do dia 24 de janeiro de 2013.

Nesta hora de dor, em nome da Câmara Municipal, o Presidente João Agostinho Pereira envia as condolências à família, aos amigos e aos Albergarienses em geral que se reveem na obra que ele nos deixou.

O Senhor António Augusto de Lemos Martins Pereira ficará para a história da cidade e do município de Albergaria-a-Velha como Homem Bom e Ilustre, que honrou a história do poder local e que foi exemplo de dedicação ao serviço público. A história da sua Vida cruzar-se-á com a história das últimas décadas do Município, a nível industrial, desportivo, cultural e social, quer pela obra física quer pelo seu afeto e relacionamento pessoal.

Muito mais se poderia dizer de António Augusto de Lemos Martins Pereira, mas as palavras, especialmente nestes momentos, são sempre poucas para expressar, de forma completa, o sentimento e a estima que devemos a cidadãos desta dimensão, tratando-se, indubitavelmente, de um símbolo da nossa Terra e da nossa Comunidade.

Assim, com este sentimento de perda, é declarado LUTO MUNICIPAL nos dias 25 e 26 de janeiro de 2013, reconhecendo, publicamente, o relevante mérito que o cidadão António Augusto de Lemos Martins Pereira tem para o Município e sua comunidade.

A Câmara Municipal apresenta, também, sentidas condolências à Família enlutada.

É colocada a meia haste a Bandeira do Município em todos os seus edifícios.

CMA, 25/01/2013

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Desenvolvimento - artigos Dr. Mário Jorge

O círculo vicioso da desqualificação (2000)

É nos bairros periféricos das cidades, nos seus dormitórios, nas áreas sem equipamentos e disciplina urbanística, que se identificam os maiores índices de criminalidade, cujos expoentes máximos são os ‘gangs’ de marginais, jovens e não só.

Há tempos, escrevia Nicolau Santos no Expresso (1 de Julho de 2000): "Uma das mais importantes tendências do século XXI aponta no sentido da competitividade vir a medir-se não entre países mas entre cidades. E estarão em competição não as cidades de um determinado país face às cidades de outro país, mas cada cidade em relação às outras cidades do seu país. Será uma concorrência feroz e sem tréguas, em que os presidentes das câmaras municipais terão uma importância decisiva. A sua capacidade política para conseguir o melhor para as suas cidades, garantindo boas infra-estruturas, ambiente limpo e saudável, segurança, acesso fácil a serviços de saúde, parques tecnológicos, equipamentos culturais e desportivos, será fundamental para os espaços que governam (...). Esta competição implicará que cada cidade tenderá a especializar-se em determinada área de actividade e a oferecer as melhores condições para atrair investigadores, médicos, cientistas, professores, desportistas, artistas, investidores, empresários. Serão as cidades-excelência, procuradas por nacionais e estrangeiros, por indivíduos e empresas, por serviços públicos e privados".

Tentando aplicar estes pensamentos à realidade do concelho de Albergaria, fica-nos o sabor amargo de uma angustiante desilusão, por se constatar que aqui o caminho é o oposto. Em vez de se pressentirem os sinais seguros de uma caminhada para a excelência, em termos de gestão racional e harmoniosa do espaço urbano, de concretização de um modelo de desenvolvimento equilibrado, criando mais qualidade de vida – a dura realidade é a de uma cada vez maior subalternização do concelho, de um maior afastamento perante a linha de desenvolvimento que já se identifica por todo o distrito.

No concerto dos concelhos circunvizinhos, nomeadamente dos mais poderosos, como Aveiro, Águeda e Oliveira de Azeméis, é notório o atraso de Albergaria, no que respeita não apenas aos indicadores económicos, mas sobretudo no conjunto dos itens que definem a qualidade de vida.

Por algumas vezes, tentámos suscitar o debate acerca de qual o destino de Albergaria: apenas um dormitório de mão de obra, de serviço às cidades que nos envolvem, ou um aglomerado que possa reverter a seu favor as suas próprias limitações geográficas e económicas, servindo de contraponto aos grandes centros, transformando e potenciando em qualidades e atributos a sua posição necessariamente periférica? Ser um dormitório, ou ser uma área residencial, com tudo o que aquele significa de mau e esta de bom?

O debate não é inócuo. Saber o que se pretende de Albergaria, é colocar em discussão o modelo de sociedade que se almeja, nomeadamente ao nível da gestão do seu espaço geográfico. É bom lembrar, permanentemente, que as comunidades vivem num espaço, do mesmo modo que as pessoas habitam em casas. A organização, a harmonia, o apetrechamento desse espaço é que pautam a qualidade de vida das pessoas, a sua maior ou menor felicidade. Assim como não se é feliz numa casa sem os cómodos adequados, sem os equipamentos básicos, numa casa degradada e suja – também não há comunidades prósperas em espaços desorganizados, tortuosos, sem equipamentos, sujos. A prosperidade e qualidade de uma comunidade dependem desde logo das condições e organização do território onde está radicada. E a falta de alegria e de harmonia de uma comunidade, a falta de qualidade de vida, são uma das principais causas da delinquência, da violência e da agressividade, mais evidentes na juventude.

É também por isso que é nos bairros periféricos das cidades, nos seus dormitórios, nas áreas sem equipamentos e disciplina urbanística, que se identificam os maiores índices de criminalidade, cujos expoentes máximos são os ‘gangs’ de marginais, jovens e não só. A delinquência está na razão directa da degradação urbanística e da falta de uma gestão do território atenta à integração das comunidades.

Estas pechas são, por sistema, as consequências da criação de dormitórios suburbanos, sem qualidade, sem um ordenamento adequado à integração das comunidades.
A partir daqui, a partir do momento em que uma área cresce sem uma disciplina urbanística especialmente atenta às especificidades de uma zona dormitório, então o circulo vicioso da desqualificação nunca mais pára. Se um território sofre os efeitos de um crescimento tortuoso e indisciplinado da construção, sem o paralelo aparecimento de equipamentos de convergência e de espaços de integração comunitária, ocorre um movimento de repulsão de núcleos a quem estes aspectos não agradam, e de atracção de famílias de poucos recursos e baixos índices de exigência em termos de qualidade.

São sobretudo as massas humanas que vêm do interior rural e procuram emprego nas periferias das cidades, em regra desqualificadas profissionalmente, de baixos recursos e de níveis culturais a rasar o zero. O seu grau de exigência é mínimo, satisfazem-se com pouco. E também pouco ou nada se lhes dá. Por outro lado, quem revela padrões de qualidade mais desenvolvidos acaba por se afastar, ou de nem sequer ali se estabelecer.

Degradado, pois, o território, por uma gestão inadequada e incompetente e por uma governação insensível, o dormitório é o destino natural de uma procura nada exigente, impreparada, sem recursos, proletarizada, que irá recriar a cultura de bairro.

A tendência inevitável será então de o concelho, que não se consegue opor a este movimento, vir a transformar-se na periferia das cidades que se vêm a impor pela sua qualidade.

Em Albergaria-a-Velha, os investimentos em qualidade de vida têm sido mínimos. Tirando o que é obrigatório, têm sido insignificantes os lampejos de criatividade, com vista a evitar esta suburbanização do nosso espaço.

Repare-se que uma área periférica e suburbana é sempre um espaço sem história, sem personalidade colectiva, uma espécie de gare aonde aporta quem tem dificuldades em entrar no corpo da cidade. É um espaço por definição transitório, uma espécie de arrumos da casa principal, e portanto sem beleza, sem requinte.

O nosso concelho está exactamente nesta secundarização, transformada num espaço desarrumado, sem ordem, sem beleza, sem qualidade.

E nada os órgãos autárquicos fazendo para realçar a sua história, a sua personalidade; nada fazendo para aumentar os seus espaços e equipamentos de convergência colectiva, os seus parques, as suas áreas de lazer – é inevitável que a sua suburbanização seja a cor que já domina entre nós: é a negligência (já tantas vezes aqui denunciada) quanto à falta de recolha selectiva dos lixos; é a falta de civilidade no comportamento dos grupos, é a transformação do centro cívico da sede do concelho num ridículo "pimbódromo", debitando tardes a fio rodos de barulho alarve, atordoando quem lá passa, ou vive por perto; é a modéstia do comércio; é a prática cultural intermitente, quase sempre ao nível da romaria; é a terrível falta de espaços e equipamentos básicos de convergência (parques, praias fluviais, campos de jogos, bibliotecas, auditórios)...

São pois os inúmeros estigmas de uma "cultura" suburbana, afinal o caldo onde germinam todos os factores de desagregação social, a violência, a delinquência, a agressividade.

Com toda esta desqualificação, é fatal que o espaço se desorganize, assim seguindo tudo num circulo vicioso imparável. Perante a desqualificação do espaço e das comunidades, os factores de valorização e de excelência, de que fala o trecho acima transcrito, ficam ausentes, são ‘apanhados’ por outras terras, perdendo-se assim níveis de competitividade. Albergaria-a-Velha já não está em condições de concorrer com a maioria das cidades e vilas do distrito, porque não exibe predicados de excelência a nenhum nível, faltando-lhe os mais básicos elementos de qualidade de vida. Não está no mapa das coisas notáveis, por nada de positivo, de digno, ou de excelente. Longe vai o tempo em que dizíamos que Albergaria já começava a ser uma boa terra para se viver. O tempo que se perdeu!

Mário Jorge de Lemos Pinto / Jornal de Albergaria
republicado no site Notícias de Aveiro em 25/09/2000


E Aveiro aqui tão perto... (2001)

O jornal PÚBLICO do passado dia 22 de Setembro dedicou a sua rubrica relativa às ‘Autárquicas 2001 – O Portugal das Cidades’ a Aveiro. E deu-lhe um título sugestivo: ‘Aveiro – Uma Aposta Certeira na Qualidade de Vida’.

O artigo dá conta que em Aveiro a qualidade de vida é uma evidência reconhecida por todos. Desde os seus habitantes até aos que estão de visita, todos sublinham as excelências desta cidade, ao nível da segurança, do ambiente, do trânsito, da arrumação urbanística, da oferta cultural. “Uma qualidade de vida traduzida em equipamentos e acontecimentos quotidianos, mas alicerçada numa infra-estruturação concluída muito antes dos grandes projectos”.

Certo que a cidade de Aveiro beneficia de um conjunto amplo de equipamentos cuja existência tem a ver exactamente com a circunstância de ser uma cidade, e capital do distrito. É o caso da Universidade e de um elenco vasto de serviços administrativos.
Mas a qualidade de vida, que pujantemente Aveiro patenteia, é a resultante de muito mais do que isto. É o produto de uma gestão autárquica cuidada e inteligente, pensada desde o primeiro momento com o objectivo de criar aos aveirenses condições de vida saudáveis e agradáveis.

A qualidade de Aveiro não resulta apenas dos equipamentos de que dispõe, mas também, e muito, de um planeamento urbanístico harmonioso, com vias de circulação arejadas e folgadas, com zonas verdes cuidadas. E é por isso que todos reconhecemos que Aveiro é uma cidade bonita, não apenas porque predestinada com condições naturais de eleição (a Ria), mas porque o ordenamento do seu espaço físico foi sempre cuidado.

Deve reconhecer-se que este manancial de excelências não pode ser anotado a crédito apenas da actual Câmara de Aveiro. Creio que isso vem (pelo menos) do tempo das Câmaras presididas por Girão Pereira, isto é, de há mais de 25 anos, e a que o elenco municipal presente soube dar continuidade, embora, por certo, com meios financeiros mais poderosos.

Este desenvolvimento da cidade de Aveiro poderia representar para Albergaria-a-Velha um de dois movimentos, de sinal oposto: ou uma tendência mimética, de imitação, uma tentativa de aproveitar o exemplo e as cinergias próprias do desenvolvimento de uma cidade tão próxima (geográfica e afectivamente). Ou, pelo contrário, um retrocesso, uma subalternização, uma suburbanização.

Ambos os movimentos são possíveis.

Há pequenas povoações que sabem tirar partido da qualidade de metrópoles de maior dimensão, criando elas próprias condições de vida de qualidade. Basta ver que o crescimento das cidades, por muito harmonioso que seja, gera sempre alguns efeitos perversos, subprodutos quase inevitáveis: mais ruído, mais trânsito, menor coesão social, mais imigração do interior, menos espaços colectivos.

As pequenas povoações adjacentes podem beneficiar de alguma procura da periferia, desde que esta ofereça o que a grande cidade não tem. É um pouco como o hipermercado, que está longe de substituir o tratamento personalizado da pequena mercearia de bairro, capaz de oferecer produtos e atendimento que não têm lugar nas grandes superfícies.
Mas o contrário também ocorre, e com mais frequência. A proximidade de uma cidade com qualidade de vida pode fazer com que as povoações satélites sofram os efeitos da suburbanização.

É o que acontece com o aparecimento dos bairros-dormitório, onde pernoitam muitos do que trabalham na cidade. Sobretudo os que não dispõem de meios que lhes permitam ocupar as zonas residenciais da cidade, mais caras, mais inacessíveis.
Os bairros-dormitório, porque são áreas de passagem, são o parente pobre dos bairros-residenciais, estes com mais qualidade urbanística, no geral providos de equipamentos de lazer, áreas verdes, e portanto mais caros.

Nos primeiros habitam (‘dormem’) as pessoas de menos recursos, em geral recem-imigrados em busca de melhores condições de trabalho nas zonas industriais das cidades, casais jovens que apenas aspiram a poderem mudar-se o mais depressa possível, e uma massa imensa proletarizada, de baixos recursos. Nos bairros-residenciais fixam-se as pessoas de mais rendimentos, ou com preocupações culturais mais exigentes, que aspiram a um modo de vida mais cuidado.
Os exemplos de uma situação e de outra acabam por ser visíveis no tecido urbanístico da nossa região.

Já há muito tempo que temos vindo a anotar a tendência suicida de Albergaria se tornar numa zona dormitório, suburbana, das cidades que a cercam, nomeadamente de Aveiro. Ou seja, é cada vez mais evidente que o nosso concelho não tem conseguido furtar-se às tendências suburbanizantes que emergem da sua proximidade das cidades.

As sucessivas gestões municipais de Albergaria têm manifestado uma clara e catatónica falta de visão para salvar o nosso concelho daquilo a que uma vez chamámos de ‘circulo vicioso da desqualificação’: a desqualificação urbanística e do ordenamento do território gera necessariamente mais des-qualificação.

Os resultados desta deriva na gestão municipal de Albergaria são por demais evidentes: um (des)ordenamento do território caótico; total ausência de zonas verdes, de lazer e de fruição colectiva; ausência de equipamentos de convergência colectiva; vias de comunicação estreitas e sinuosas, acentuando a conglomeração dos edifícios; implantação de edifícios a esmo, gerando subprodutos físicos, como becos, esquinas, varandas dependuradas sobre as vias, convivências espúrias de habitações unifamiliares com prédios em propriedade horizontal; trânsito ‘terceiro-mundista’, desregrado, já entupido a algumas horas e em algumas vias.

As consequências sociais e económicas são notórias: mentalidade, comportamentos, padrões de cultura suburbanos, sobretudo da juventude; insatisfação das pessoas, gerando individualismo e agressividade; ociosidade e ausência de mecanismos de ocupação de tempos livres; êxodo dos jovens quadros técnicos, para zonas com mais qualidade; baixo nível de rendimentos e consequente baixo poder de compra das famílias; logo, comércio incipiente e sem dinâmica.

Em conclusão, o concelho de Albergaria-a-Velha tem sido influenciado negativamente pelo desenvolvimento de Aveiro: em vez de tentar acompanhar a reconhecida qualidade de vida desta cidade, Albergaria está a sofrer os efeitos que marcam o aparecimento das terras-dormitório.

Tudo resultado de uma gestão municipal sem ambição, sem qualidade, sem bom gosto, sem inteligência. De vistas curtas.

Mário J. Lemos Pinto/Jornal de Albergaria
Republicado pelo site Noticias de Aveiro em 05/10/2001

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Património em risco em Angeja

O edifício "Vila América" da Rua Velha, em Angeja, conhecido popularmente pela "Casa do Caga Milhões", está prestes a ser demolido apesar de merecer outro tratamento como bem refere Alberto Gonçalves da Silva pois "tem uma fachada notável e é uma obra irrepetível" mesmo que actualmente esteja em ruínas.

O actual proprietário do prédio foi intimado, pela Câmara Municipal, a demolir o edifício até às fundações. Mostra-se mais uma vez a pouca sensibilidade dos nossos governantes, independemente da cor politica, para a salvaguarda do nosso património. Existindo programas que incentivam a reabilitação deveria ser analisada essa solução antes de obrigar à demolição.

Video no Youtube com o apelo de Alberto Gonçalves da Silva (2013)

volta a repetir-se a destruição do património:

Jornal D'Angeja - 2005


Tiago Monteiro homenageia o avô

foto: albergaria em revista
Máquinas fotográficas, telemóveis de última geração e máquinas de filmar multiplicavam-se, ontem, à porta quartel do Bombeiros Voluntários de Albergaria-a-Velha. A razão para tal azáfama era a chegada do conhecido piloto de Fórmula 1, Tiago Monteiro, que esteve em Albergaria-a-Velha a homenagear o seu avô, Sérgio Costa.

A multidão abraçou o desportista à chegada no quartel dos Bombeiros Voluntários da vila, edifício que Sérgio Costa ajudou a construir.

Tiago Monteiro entregou as suas luvas autografadas aos bombeiros locais, em sinal de carinho pelo homem por quem tinha uma grande paixão. «Com este gesto queria homenagear o meu avô, em particular, bem como os bombeiros de Albergaria-a-Velha e de todo o país». Tiago Monteiro aproveitou para sublinhar a importância dos bombeiros, dizendo: «Os riscos da minha profissão, são menores face aos perigos que estes homens enfrentam diariamente».

Há dois anos, por motivos profissionais, o piloto não pôde estar presente na cerimónia de homenagem ao seu avô, organizada pelos bombeiros voluntários locais. Porém, prometeu que viria à terra Natal da sua família lembrar Sérgio Costa. A promessa foi agora cumprida pelo piloto que contactou pessoalmente o comandante José Bismarck para agendar a vinda a Albergaria-a-Velha.

A presença na localidade emocionou o condutor que demonstrou simplicidade na abordagem ao público presente no salão de festas dos bombeiros albergarienses. O jovem piloto agradeceu a presença de todos e garantiu que estar em Albergaria-a-Velha foi muito importante para si. «É com estas ocasiões que sinto mais motivação e força», revelou.
Tiago Monteiro é descendente de uma família muito acarinhada na vila de Albergaria. O condutor de Fórmula 1 recordou ao Diário de Aveiro que se lembra das férias que passava na sede de concelho com os primos. O avô de Tiago foi comerciante, comandante dos bombeiros de Albergaria e um dos impulsionadores da construção do actual quartel. António Vinhas lembrou a obra realizada pelo homem que Tiago Monteiro fez questão de homenagear. «Sérgio Costa foi uma figura muito especial, não só para a vila de Albergaria, mas para todo o concelho. Ele batalhou pelo desenvolvimento desta terra».

O desportista revelou que quando era mais pequeno queria ser bombeiro e que um dos impulsionadores desse sonho era o seu avô. «Quando era mais novo não pensava ser piloto de Fórmula 1, mas sim bombeiro. E a minha família proporcionou-me muitas vezes a possibilidade de estar perto das actividades levadas a cabo por estes homens». Mais tarde, perto dos 17 anos é que começou o bichinho da condução, que curiosamente também teve origem no seu avô, Sérgio Costa. «Foi ele o primeiro a motivar-me para isto também», confessou.

Depois da cerimónia, Tiago Monteiro presenteou o público com uma sessão de autógrafos e de fotografias. O piloto despediu-se de Albergaria-a-Velha depois de ver de perto o carro que Sérgio Costa conduziu nos tempos de bombeiro e prometendo voltar assim que a sua agenda profissional permita.

Carmen Martins, Diário de Aveiro, 15/01/2006

 Tiago Monteiro homenageado nos bombeiros
Tiago Monteiro veio a Albergaria-a-Velha oferecer as luvas de competição com que conduz um potente «Jordan» da Fórmula 1, por todos os continentes. Com esse gesto simbólico, o «às do volante trouxe um grande naco de solidariedade para com os bombeiros, em homenagem ao pai e bisavô.

O piloto de Formula 1, Tiago Monteiro, neto do antigo presidente e comandante dos bombeiros voluntários de Albergaria-a-Velha, Sérgio Reis Costa e bisneto do também antigo presidente da direcção, António Henriques da Costa, esteve na tarde do passado sábado, dia 14, no quartel da corporação albergariense, onde fez a entrega aos bombeiros locais de um par de luvas de competição, com que conduziu o seu monolugar da Jordan, nas várias provas da mais importante competição do automobilismo profissional.

Uma verdadeira multidão encheu por completo o salão de festas, onde usaram da palavra Elísio Apolinário Silva e José António Piedade Laranjeira, presidentes da direcção e da assembleia geral da corporação, João Agostinho Pereira, presidente da Câmara Municipal e Filipe Neto Brandão, governador civil de Aveiro, para quem Tiago Monteiro, com este gesto, demonstrou ser «um piloto e desportista exemplar, que sabe estar em sociedade, ligado a causas nobres e solidárias». Na mesa a partir da qual foi conduzido este significativo evento, tomaram ainda lugar o presidente do conselho fiscal dos bombeiros, José Pedro e o comandante do corpo activo, José Ricardo Bismarck.

José António Laranjeira lembrou a acção de Sérgio Costa, enquanto presidente e comandante dos bombeiros de Albergaria-a-Velha, na construção do quartel onde agora se encontrava Tiago Monteiro, que confessou o seu sonho de criança, em que queria ser bombeiro. O piloto revelou que com este gesto, pretendeu «homenagear a memória do meu avô e do meu bisavô e também todos os bombeiros de Portugal, cujos riscos diários são bem mais arriscados do que os da minha profissão, mesmo que as pessoas possam pensar o contrário». O piloto da Fórmula 1 não deixou de reconhecer que o grande apoio que sente por parte do público português lhe alivia o intenso stress que a competição lhe exige. Logo à frente, acentuaria: «sei que conto com muita gente a meu lado e quero retribuir esse carinho e esse encorajamento, melhorando cada vez mais as minhas aptidões e prestação competitiva».

Elísio Apolinário Simões Silva realçou o facto de Tiago Monteiro descender de «duas ilustres famílias de Albergaria-a-Velha e o bem que nos entrega hoje, vale por um grande simbolismo, pois é com as luvas que Tiago Monteiro calça nas mãos, que conduz o carro com que tanto tem honrado o nosso país». O presidente da direcção dos bombeiros citou o conhecido poema de Manuel Alegre ( a que chamou Manuel Duarte «para evitar conotações de carácter político relacionadas com o momento actual», onde o poeta diz que «com as mãos se faz a paz/ com as mãos se faz a guerra».

João Agostinho lembrou que Tiago Monteiro tem ascendência numa terra «com oito séculos de história e que se orgulha de ter um campeão ligado à nós e não me esqueço que a sua mãe, (Isabel Marina, que acompanhou o filho nesta retorno à terra que a viu nascer), foi minha companheira de infância». Como que a legitimar este pormenor, João Agostinho entregou a Tiago Monteiro o livro «Albergaria-a-Velha- Oito séculos de História» e a lápide onde a Rainha Dona Teresa decide criar a «Albergaria dos pobres e passageiros...», que continua a marcar o nascimento real de Albergaria-a-Velha.

Por fim, veio o momento máximo da tarde, com Tiago Monteiro a entregar o par de luvas de competição, encaixilhadas num quadro, ao comandante José Ricardo Bismarck que a seguir as passou para as mãos de Elísio Apolinário Silva, no meio de enorme ovação. No programa estava inscrita uma sessão de autógrafos, que demoraria mais de uma hora, face aos incontáveis «rabiscos» que um «deus do asfalto», português, ligado a Albergaria-a-Velha foi fazendo em tudo quanto lhe era colocado na frente, nunca manifestando o mais pequeno sinal de enfado. 

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Publicidade em Angeja

Publicidade, Índice de Vida

Os anúncios nos periódicos constituem um apropriado meio para a avaliação da importância e variabilidade da vida comercial no primeiro quartel do século actual quando se iniciava uma mutação no viver do mundo rural.

Em 1907, "A Voz d'Angeja" apresenta toda a quarta página e um pouco da terceira com anúncios, apontando, para uma alternância do comerciar no mercado e na feira, em dias certos, para o estabelecimento de porta aberta, sempre à mão. Vêm dez anúncios, dois de um quarto de página, fazendo crer pela minúcia da multiplicidade de artigos à venda, que são os maiores e mais abastecidos supermercados da vila.

"Estabelecimentos de Fazendas (...) mercearia e ferragens de José Maria Martins dos Santos, rua Direita" e "Armazém de Mercearia, Azeite e Aguardente (...) de António Dias Gomes" na esquina da rua dos Pinheiros com a Rua Direita, são os maiores. Ambos vendem tudo e especificam em letra miúda todo o seu vastíssimo recheio, dando destaque ao depósito de tabacos, às máquinas de costura, aos cofres e, já então, às "bicyclettes e motocyclettes".

Outros anúncios mais modestos referem um "Viveiro de Plantas Franco-Americanas", de Emílio Souto & Irmão, na Rua da Pereira, uma "Oficina de Funilaria", a "Alfaiataria Progresso Angejense", de Guilherme Dias Capella, um Armador, M. Bismarck e outro "Estabelecimento de Fazendas (...) o conhecido José Carvalho".

Uma vintena de anos depois, "O Despertar de Angeja" apresenta 13 anúncios de tamanho mais equilibrado. Dos anteriores estabelecimentos só subsiste, chamando-se agora "Loja do Alcaide (fundado em 1900) Estabelecimento de Primeira Ordem" de José Maria Martins dos Santos, o qual, além de atributos anteriores, é também agente de seguros e correspondente bancário.

De novo, surgem dois concorrentes: "A Primorosa Comercial" de Paulo Dias Capela e a "Loja Nova" de Manuel Dias F. Capela, esta na Praça da República e a anterior na "Rua do Comércio (antiga Rua Direita)".

Aparece ainda todo um conjunto de novas actividades: "Farmácia e Perfumaria Confiança", a "Casa Ezequiel, garage de automóveis, motos e bicicletes", significando a entrada de veículos motorizados, o que não impede que continue uma "Alquilaria Angejense de Baltazar Matos Marinheiro ou tereza Cabeçuda" a querer marcar a permanência do pausado mundo rural o qual está presente na "Tanoaria de João P. da Costa Almeida". Ainda há a "Loja das Louças", de Gracinda Marques, aberta três dias por semana, com "louça grossa, preta e encarnada".

Em terra de emigrantes vêm duas aliciadoras agências de passagens e passaportes, uma das quais era de Francisco Gaspar, ourives ambulante que também tinha loja local.

Destas situações se deduz que Angeja manteve, desde o início do século, actividade comercial para além dos tradicionais mercados domingueiros e da feira dos 26. Ela circunscrevia-se à zona central, a Praça e a Rua Direita ou do Comércio, chegando à Rua da Pereira. Porém, apesar de se conservar cada vez mais vivo e aformoseado o Centro, as diferenças em relação à actualidade são sensíveis pelo número de estabelecimentos de todo o género que hoje se distendem até aos extremos da vila.

Site antigo sobre Angeja

(Grande parte da página era baseada no livro "Angeja - Vila do Baixo Vouga" de António Homem de Albuquerque Pinho, 1997)