Publicidade, Índice de Vida
Os anúncios nos periódicos constituem um apropriado meio para a avaliação da importância e variabilidade da vida comercial no primeiro quartel do século actual quando se iniciava uma mutação no viver do mundo rural.
Em 1907, "A Voz d'Angeja" apresenta toda a quarta página e um pouco da terceira com anúncios, apontando, para uma alternância do comerciar no mercado e na feira, em dias certos, para o estabelecimento de porta aberta, sempre à mão. Vêm dez anúncios, dois de um quarto de página, fazendo crer pela minúcia da multiplicidade de artigos à venda, que são os maiores e mais abastecidos supermercados da vila.
"Estabelecimentos de Fazendas (...) mercearia e ferragens de José Maria Martins dos Santos, rua Direita" e "Armazém de Mercearia, Azeite e Aguardente (...) de António Dias Gomes" na esquina da rua dos Pinheiros com a Rua Direita, são os maiores. Ambos vendem tudo e especificam em letra miúda todo o seu vastíssimo recheio, dando destaque ao depósito de tabacos, às máquinas de costura, aos cofres e, já então, às "bicyclettes e motocyclettes".
Outros anúncios mais modestos referem um "Viveiro de Plantas Franco-Americanas", de Emílio Souto & Irmão, na Rua da Pereira, uma "Oficina de Funilaria", a "Alfaiataria Progresso Angejense", de Guilherme Dias Capella, um Armador, M. Bismarck e outro "Estabelecimento de Fazendas (...) o conhecido José Carvalho".
Uma vintena de anos depois, "O Despertar de Angeja" apresenta 13 anúncios de tamanho mais equilibrado. Dos anteriores estabelecimentos só subsiste, chamando-se agora "Loja do Alcaide (fundado em 1900) Estabelecimento de Primeira Ordem" de José Maria Martins dos Santos, o qual, além de atributos anteriores, é também agente de seguros e correspondente bancário.
De novo, surgem dois concorrentes: "A Primorosa Comercial" de Paulo Dias Capela e a "Loja Nova" de Manuel Dias F. Capela, esta na Praça da República e a anterior na "Rua do Comércio (antiga Rua Direita)".
Aparece ainda todo um conjunto de novas actividades: "Farmácia e Perfumaria Confiança", a "Casa Ezequiel, garage de automóveis, motos e bicicletes", significando a entrada de veículos motorizados, o que não impede que continue uma "Alquilaria Angejense de Baltazar Matos Marinheiro ou tereza Cabeçuda" a querer marcar a permanência do pausado mundo rural o qual está presente na "Tanoaria de João P. da Costa Almeida". Ainda há a "Loja das Louças", de Gracinda Marques, aberta três dias por semana, com "louça grossa, preta e encarnada".
Em terra de emigrantes vêm duas aliciadoras agências de passagens e passaportes, uma das quais era de Francisco Gaspar, ourives ambulante que também tinha loja local.
Destas situações se deduz que Angeja manteve, desde o início do século, actividade comercial para além dos tradicionais mercados domingueiros e da feira dos 26. Ela circunscrevia-se à zona central, a Praça e a Rua Direita ou do Comércio, chegando à Rua da Pereira. Porém, apesar de se conservar cada vez mais vivo e aformoseado o Centro, as diferenças em relação à actualidade são sensíveis pelo número de estabelecimentos de todo o género que hoje se distendem até aos extremos da vila.
Site antigo sobre Angeja
(Grande parte da página era baseada no livro "Angeja - Vila do Baixo Vouga" de António Homem de Albuquerque Pinho, 1997)
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