domingo, 31 de janeiro de 2010

1868: Relatório acerca da Arborização


RELATÓRIO ÁCERCA DA ARBORISAÇÃO GERAL DO PAIZ - 1868

(...)

Na parte mais alta e accidentada da cordilheira, isto é, ao poente da linha que une S.-Pedro-do-Sul com a aldeia de Gafanhão, é onde a porção inculta d'este tracto tem maior desenvolvimento. As serras de S.-Macario, Arada, Manhouce, as da Freita, de Cambra, do Arestal, etc., que compõem a parte principal d'este massiço montanhoso, são constituidas principalmente de rochas schistosas profundamente metamorphicas e com o aspecto granitoide, ás quaes se associam schistos não metamorphicos e outras rochas paleozoicas. De toda a cordilheira são estas serras as mais desertas de arvoredo e de cultura; só ao descer para S.-Pedro-do-Sul, para a fertil bacia de Arouca e valle do Arda, para os lados da Farrapa, e para o bello valle de Cambra, é que se descobre uma vegetação risonha e uma activa cultura propria da região.

Se exceptuarmos as pequenas manchas de terreno cultivado que circumdam as povoações de Arada, Manhouce, Arões, Junqueira, Albergaria-das-Cabras, etc., todo o solo d'estas serras é coberto de mato rasteiro, ou deixa ver uma penedia escalvada.

Nas cumiadas dá-se por toda a parte o carvalho: o castanheiro e o pinheiro bravo prosperam excellentemente na parte superior das encostas; porém a primeira d'estas essencias é a que parece accommodar-se melhor áquelles sitios onde haja intensos frios causados pela demora, durante alguns mezes, das neves, que só na entrada da primavera deixam inteiramente os cumes das serras.

As serras que indicámps enviam ramificações ou contrafortes para oéste, noroéste e sul, e formam o solo montuoso que o viajante descobre indo de Albergaria-Velha para Manhouce, de Oliveira-d'Azemeis para Arouca, e da Feira para Sobrado. Todas estas montanhas são em gerai incultas e cobertas de mato, nomeadamente a serra do Arestal, a E. de Ossella e do rio Caima: os coutos de Mansôres; o solo monticulado entre Fermedo e o Arda; a serrania que vae da Povoa-de-Pédorido para S.-Pedro-do-Paraizo e para Arouca, etc.

Como de parte d'estes terrenos incultos possuimos informações minuciosas, julgamos conveniente apresental-as, como das mais vezes temos feito.

«Tem ainda este districto (de Aveiro), diz o engenheiro F. A. de Resende Junior, extensas porções de terreno, que a falta de cultivo tem deixado presas da esterilidade. As urzes e tojos roubam ahi muitas forças, que a industria devera aproveitar. Largos tractos aridos e incultos se observam aqui e ali, esperando o esforço que lhes auxilie as forças productoras, trazendo-lhes a fecundidade. Não ha concelho, não ha talvez freguesia rural, onde se não sinta esta necessidade, onde se não palpe esta conveniencia. Mas para a delimitação das charnecas, como a quer estabelecer o paragrapho 5.° das Instrucções, exigindo pelo menos 2.500 hectares de superficie para cada zona, não poderão, nem é intento incluir-se essas frequentes, mas menos extensas porções de terreno. Não as mencionaremos por isso.»

«Existem porém muitas charnecas, que devem ser consideradas pela sua vastidão, e não podendo descrevel-as todas, porque me faltam elementos para a delimitação e medições, citarei a extensa charneca do concelho de Albergaria, limitada ao poente e ao sul pelas povoações de Villa-Nova, Mouquim, Valle-Maior-de-Santo-Antonio, Valle-Maior-da-Igreja, Carvalhal, Ribeira e Talhadella; ao norte e nascente, pelas freguesias de Pecegueiro, Sever e Silva-Escura. Esta porção de terreno é pela maior parte incluida entre o rio Mau e o rio Caima, n'uma zona dirigida segundo a linha N.-S. Poderá ter 3.600 hectares, segundo as informações que sobre este ponto colhi na localidade. A sua arborisação tem sido tentada por alguns particulares, mas tem-a estorvado a obstinada opposição dos povos, a quem a cultura prejudicaria um pouco, roubando-lhes a regalia do uso-fructo dos matos bravios.»

«No mesmo concelho existe uma extensa mata de pinhaes, sobre terreno firme, confinando pelo norte, sul e poente com as freguesias de Alcherubim, S.-João-de-Loure, Frossos, Angeja, Canellas, Fermelã e Branca; e pelo nascente com as freguesias de Valle-Maior, Ribeira-de-Frágoas e Macinhatado-Vouga. Quasi no centro fica-lhe a freguesia de Albergaria. A sua superficie será approximadamente 8.100 hectares, se não falharem grandemente as informações colhidas na localidade; mas inclue-se dentro do perimetro grande porção de terras agricultadas da freguesia de Albergaria

(...)

«No concelho de 0liveira-d'Azemeis, em que póde notarse a mata denominada do Côvo, de dominio particular, não faltam terrenos onde a plantação de arvoredo não fosse conveniente e se podesse fazer; como pela cumiada das elevações que separam o valle ao nascente d'aquella villa do de Cambra, a serra denominada do Ponto, etc. Ambos estes dois valles, e sobre tudo o segundo, muito mais extenso, contêem muitas terras agricultadas, e algum arvoredo.»

«No concelho de Cambra é para notar-se o monte do Arestal de uma superficie não inferior talvez a 10.000 hectares/ confinando pelo norte com o logar de Chãs, freguesia da Junqueira, pelo sul com as freguesias de Rocas e Silva-Escura do concelho de Sever; pelo nascente com Arões e com Castellões; ao poente está no caso de se considerar no 3.° grupo, e de ser indicado como uma das elevações mais proprias para a plantação de uma grande floresta. Já ali se encontram alguns carvalhos e bastantes sobreiros, sendo o terreno adequado para o desenvolvimento d'estas especies de arvores.»

«O monte da Anta, no mesmo concelho, que se póde considerar uma continuação do primeiro e com uma superficie quasi egual, é proprio para a mesma vegetação. Confina pelo norte e poente com Capêlos, pelo nascente com o logar de Felgueira-d'Arões, e pelo sul com esta freguesia e a da Junqueira.»

«O do Gallinheiro com uma superficie approximada de metade dos dois antecedentes, porém menos arborisado, está ainda nas mesmas condições. Confína este pelo norte com Quintella, freguesia de Chaves-d'Arouca; pelo sul, com PortoNovo-de-Macieira, com Soutêlo-de-Roge; pelo nascente com Fonte-de-Roge; e pelo poente com Macieira, prolongando-se por este lado pelo monte de Porrinho em eguaes condições, e quasi com a mesma superficie.»

«No mesmo concelho se apresenta para ser aqui notada» uma charneca extensa, medindo a superficie approximada de 5.000 hectares, e que confína pelo nascente e sul com o logar d'Agualva-d'Arões e o rio Teixeira, pelo norte com a serra Castanheira, e poente com Paraduça-d'Arões. É a charneca do Gralheiro. É um tracto que se comprehende no 5.° grupo, e a que ha a attender pelo § 5.° da 1.a instrucção annexa ao decreto de 21 de setembro. Alguns sobreiros, carvalhos, medronheiros e loureiros que a povôam, já são uma prova da propriedade do seu terreno para aquella vegetação.»

«Para o poente dos grandes tractos que temos indicado, o terreno é mais cultivado, menos arido, muito mais povoado, e mal podendo descrever-se não offerece circumstancias para aqui se attenderem.»

«Tenho agora a considerar os terrenos de Sever seguindo a ordem que levo.»

«Uma setima parte talvez da superficie d'este concelho está já arborisada.»

«Pertence ao estabelecimento das minas do Braçal uma mata pequena de pinheiros novos pela margem direita do rio Mau; entre aquelle estabelecimento e a Malhada, e contigua a esta e pela mesma encosta pôr que segue o caminho americano d'aquellas minas ao Vouga, tem a camara de Sever feito uma sementeira em bastante superficie. A mesma camara tem ultimamente animado a iniciativa particular na plantação e aproveitamento de grandes tractos de terreno arido e inculto do mesmo concelho.»

«Um tracto extenso e largo de charneca estende-se entre o rio Mau, confinando pelo poente com o concelho de Albergaria, continuando para o sul até ao Vouga, e seguindo para o norte pela serra de Villa-Nova-dos-Fusos até ás alturas sobre o Braçal, onde vae encontrar terrenos que já descrevemos do concelho de Cambra.»

«As ravinas que a cortam, vertentes do rio Mau, Vouga, ribeiro de Mouquim, estão quasi todas arborisadas, e vêemse n'ellas sobreiros de grande porte, e outras arvores que accusam um terreno proprio para plantação d'aquellas especies de arvoredos.»

«Se n'este concelho principalmente, e no de Albergaria não está hoje arborisada toda ou quasi toda a superflcie de terreno que não vale a pena agricultar-se, ou que o não possa ser, deve attribuir-se tão grande mal a uma pratica condemnavel e a um abuso que muito carece ser reprimido. Refiro-me ás queimadas que por este tempo (mez de outubro) se fazem n'estes concelhos nos matos altos, com o fim de obter e melhorar as pastagens para o gado lanigero que por ali se cria.»

«Não poucas vezes o fogo assim lançado sem cuidado em alguns pontos das gandaras d'estes concelhos com o fim designado, se tem communicado a muitos tractos de pinhaes que tem destruido.»

«Semelhante pratica de que desgraçadamente não se tem aproveitado, nem prohibição, nem instrucções que ao menos a regulem, é talvez o primeiro estorvo a uma arborisação importantissima, que a não ser aquelle, se realisaria sem esforço.»

«No concelho de Albergaria, por um e outro lado da cumiada pouco elevada por que segue a estrada de Coimbra ao Porto, entre a ponte do Vouga e proximidade de Albergaria-a-Nova, encontram-se muitos pinhaes e bastante charneca, mas que não está no caso de considerar-se no 5.° grupo. Quando se sóbe do Vouga áquella cumiada, depara-se com a pequena, mas frondosa mata de Serem, que pertencia a um convento hoje transformado em habitação do proprietario que comprou á fazenda aquella mata.»

A área inculta que este tracto abrange, segundo póde deduzir-se das informações que colhemos, é de 96.000 hectares. Se a esta área juntarmos a das outras partes tambem incultas da região septentrional, teremos um total de 328.000 hectares; e addiccionando a esta área a das regiões sul-occidental e central, obteremos 1:348.000 hectares, que representa na nossa carta a superficie de solo desaproveitado entre os rios Tejo e Douro.

Notaremos ainda, que dos 500.000 hectares de terreno cultivado que se designa nos districtos de Vizeu e da Guarda, ha a deduzir uma boa parte de chão inculto que não está indicado no mappa por falta de esclarecimentos; e tomando em conta tambem, como devendo destinar-se á cultura florestal, os terrenos centeeiros de toda a Beira, que são cultivados com grandes intervallos e não produzem mais de 5 ou 6 sementes, então talvez não nos desviemos da verdade, avaliando em 1:500.000 hectares a área do solo que entre o Tejo e o Douro póde ser arborisado.

(...)

Gestão da Floresta - o papel das associações

Associação Florestal do Baixo Vouga

Conhecer o trabalho desenvolvido e as apreensões de várias associações de Albergaria-a-Velha foram alguns dos objectivos de uma visita [realizada em Maio de 2008] ao concelho de deputados socialistas, eleitos pelo círculo de Aveiro.

Na Associação Florestal do Baixo Vouga, os deputados ficaram a conhecer um pouco mais do trabalho desenvolvido, ao longo dos quase 10 anos de existência, pelos dirigentes da associação, bem como as principais preocupações.

José António Laranjeira começou por referir aos deputados que a grande política da associação é "juntar os proprietários", uma vez que tal permite "melhorar a produção e o rendimento e, simultaneamente, criar uma defesa das pragas". Além disso, unidos, os proprietários, "numa zona onde o eucalipto é rei", conseguem "ter mais força junto das entidades competentes", bem como junto dos compradores, de forma a existir um equilíbrio "entre quem compra e quem vende".

Com uma Zona de Intervenção Florestal (ZIF) a ser estudada na zona sul do concelho, o presidente da Associação Florestal do Baixo Vouga lembrou que houve uma aposta na concentração de produção, à semelhança do sucede no Alentejo, e que essa concentração "já tem vindo a dar resultados".

Contudo, existem alguns entraves para desenvolver o trabalho que pretendem. Como tal, foi aproveitada a visita de ontem para lembrar que "o cadastro predial deveria ser a base da estratégia para o sector" e que a o sector da legislação florestal deveria ser "reformulada". Esta alteração permitiria, na opinião de José António Laranjeira, "simplificar processos num sector muito importante para o país", e onde a prevenção "é a primeira forma de combater os fogos florestais".

Rute Melo / As Beiras, 20/05/2008

António Guimarães assumiu, ontem, a liderança da Associação Florestal do Baixo Vouga. Solução de continuidade pela experiência em anteriores direcções. Vai substituir José António Laranjeira numa estrutura que procura mobilizar os proprietários florestais da Região, procurando unir esforços no sentido do desenvolvimento sustentado.

António Guimarães espera dar continuidade ao projecto: “Quando as coisas estão a andar bem, creio que não há necessidade de se fazerem grandes mudanças. Naturalmente que tivemos a preocupação de encontrar «sangue novo», o que nos parece extremamente importante. Acredito na evolução da continuidade. Temos preocupação, temos alguns projectos arrojados e, nessa medida, exige-se muita disponibilidade, muito profissionalismo dos técnicos e estamos, também, à espera da adesão maciça dos produtores/ proprietários florestais. Sem eles não se justifica o associativismo”.

Rádio Terranova, 28/01/2010

Associação para a Certificação Florestal do Baixo Vouga

No dia 24 de Setembro [de 2009], no Salão Nobre dos Paços do Município de Albergaria-a-Velha, tomaram posse os órgãos sociais da Associação para a Certificação Florestal do Baixo Vouga – triénio 2009-2011. Esta nova entidade pretende promover a correcta gestão da floresta e o desenvolvimento sustentável, garantindo, assim, a qualidade dos bens e serviços produzidos no sector.

A ACF Baixo Vouga é constituída por diversos organismos que, em parceria, esperam desenvolver um trabalho profícuo em defesa da floresta da região. Nos órgãos sociais para o presente triénio fazem parte representantes da FORESTIS – Associação Florestal de Portugal, da FENAFLORESTA – Federação Portuguesa das Cooperativas de Produtores Florestais, da QUERCUS, da Associação Florestal do Baixo Vouga, da CIRA – Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro, da Associação Industrial do Distrito de Aveiro e da AGUA TRIANGULAR – Associação de Ambientalistas da Bacia Hidrográfica do Vouga.

A certificação florestal representa um sistema voluntário de promoção da gestão florestal que atesta que a matéria-prima é proveniente de uma exploração que cumpre as boas práticas reconhecidas por entidades qualificadas e acreditadas. Para José António Laranjeira, Presidente da Direcção da Associação Florestal do Baixo Vouga, há que desenvolver um trabalho de proximidade para fomentar a qualidade não só dos produtos, mas também dos processos de produção. Já Francisco Carvalho Guerra, Presidente da Direcção da FORESTIS, defendeu que “vale a pena dar as mãos”, por uma das nossas maiores riquezas nacionais: a floresta!

CMA, 25/09/2009

AFBAIXOVOUGA - Associação Florestal do Baixo Vouga
Centro Coordenador de Transportes
3850-022 Albergaria-a-Velha
Telefone: 234 524 056
Fax: 234 524 056
E-mail: geral@afbaixovouga.pt

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A Terra do Vouga nos Séculos IX a XIV


A Terra do Vouga nos Séculos IX a XIV – Território e Nobreza
Delfim Bismarck Ferreira
ed. Aderav, 2008

É uma obra que retrata a história da Terra de Vouga, um espaço territorial individualizado, que o autor procura caracterizar e compreender, ao mesmo tempo que procura mostrar o protagonismo da nobreza nele implantada desde meados do século IX até ao final do primeiro quartel do século XIV, termo do reinado de D. Dinis. A obra assinada por Delfim Bismarck Ferreira será um importante contributo à historiografia da região do Baixo Vouga, proporcionando ao leitor um vasto conhecimento sobre esta área territorial, assim como será uma fonte de informações, até hoje, inéditas. A investigação que irá ser apresentada permitirá um melhor conhecimento do que terá sido a região nesse período da Idade Média.

"A Terra do Vouga nos séculos IX e XIV" constitui um estudo exemplar sobre uma região bem delimitada e que desempenhou um papel importante na ligação do pólo de Coimbra com o pólo do Porto, os dois centros urbanos cuja relação foi tão importante na origem da nossa nacionalidade e na estruturação dos seus recursos.

Sinopse da obra pelo Editor

A Terra de Vouga, notável circunscrição administrativa no litoral português, compreendia uma vasta área constituída pelos actuais concelhos de Águeda, Anadia, Aveiro, Ílhavo, Oliveira do Bairro e Vagos, bem como por parte dos de Albergaria-a-Velha, Mealhada e Sever do Vouga. Teria como origem a civitas de Marnel, sedeada em Vouga, cuja localização privilegiada e central justificaria a fixação, aí, da sede de um extenso território.

É a história deste espaço territorial individualizado – a terra de Vouga – que o autor procura caracterizar e compreender, ao mesmo tempo que mostrar o protagonismo da nobreza nele implantada desde meados do século IX até ao final do primeiro quartel do século XIV, termo do reinado de D. Dinis.

Com esta obra, Delfim Bismarck Ferreira presta um importante contributo à historiografia da região do Baixo Vouga, trazendo ao nosso conhecimento um enorme manancial de informações até hoje inéditas, o que permite um melhor conhecimento do que terá sido a região nesse período da Idade Média.

Escreve José Mattoso acerca deste estudo de Delfim Bismarck Ferreira

“Constitui um estudo exemplar sobre uma região bem delimitada e que desempenhou um papel importante na ligação do pólo de Coimbra com o pólo do Porto, os dois centros urbanos cuja relação foi tão importante na origem da nossa nacionalidade e na estruturação dos seus recursos. O quadro territorial preciso – a Terra de Vouga –, o facto de ela se poder delimitar com rigor, de ter tido uma função administrativa de dimensões regionais.

Com efeito, permite a constituição de um corpus documental completo, nem demasiado reduzido, nem demasiado extenso. Delfim Bismarck tirou partido destas condições favoráveis: fez um levantamento sistemático de todos os documentos que dizem respeito à Terra de Vouga durante o período fixado à partida, e analisou-os com todo o cuidado para deles seleccionar os dados necessários à reconstituição das estruturas regionais, ou seja das forças produtivas, da circulação das pessoas e dos produtos, da distribuição dos poderes sociais, eclesiásticos e políticos. Fá-lo de uma maneira exemplar em termos de rigor, de sistematização e de clareza.”

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A minha primeira fotografia - 1898



A fotografia foi tirada em Alquerubim.

Informações fornecidas pelo professor Henrique Oliveira:

Todas as fotografias do álbum álbum Carneiro da Silva, exceptuando as de Alberto Souto (1888-1961), são da autoria de Lívio Salgueiro (1893-1935). Todas as informações estão correctas e deverão ter sido registadas no próprio álbum pela esposa do fotógrafo.

Houve o cuidado de efectuar uma reprodução rigorosa do álbum original. Até o posicionamento das miniaturas é idêntico ao do original.

A única diferença é que as imagens tiveram de ser restauradas, porque muitas delas estavam quase inteiramente apagadas pelo tempo.

A primeira (a acima reproduzida) está exactamente como se encontrava. Não foi restaurada, propositadamente, para que as pessoas pudessem ter uma amostra do estado de degradação do conteúdo.

A imagem apresenta uma tonalidade azul apesar de monocromática.

As primeiras fotos a cor foram criadas precisamente no final do século XIX pelos irmãos Lumière. A partir de 1890 já os irmãos Lumière efectuavam experiências na área da fotografia.

Ver as explicações fornecidas sobre o álbum Carneiro da Silva nas seguintes páginas:

http://www.prof2000.pt/users/secjeste/Arkidigi/C_da_Silva/Acercadeste.htm

http://www.prof2000.pt/users/secjeste/Arkidigi/C_da_Silva/Estealbum0.htm

domingo, 10 de janeiro de 2010

Centro Cultural da Branca


O projecto do Centro Cultural da Branca (CCB), da autoria de Carrilho da Graça, é um espaço que surgiu da necessidade de criar um equipamento que viesse ao encontro das aspirações e necessidades das colectividades e associações que desenvolvem a sua actividade, na área da música principalmente, na Freguesia da Branca. Depois de cerca de dois anos de construção, a obra foi inaugurada a 29 de Abril de 2006, passando a ser o espaço de trabalho e acção da JOBRA – Associação de Jovens da Branca (sede do seu Conservatório de Música) e da ARMAB – Associação Recreativa e Musical Amigos da Branca.
Discurso do Secretário de Estado da Cultura, Mário António Pinto Vieira de Carvalho, na inauguração do Centro Cultural da Branca, Concelho de Albergaria-a-Velha:

(...)

Em nome do Senhor Primeiro-Ministro, saúdo a população da Branca e do concelho de Albergaria-a-Velha e felicito-a vivamente por este momento tão significativo para a vida da comunidade que é a inauguração do Centro Cultural da Branca.

Este Centro Cultural, um espaço municipal em que convergem o empenho e as vontades da própria Câmara Municipal, da Associação de Jovens da Branca e da Associação Recreativa e Musical Amigos da Branca, é um exemplo de vitalidade da sociedade civil – um exemplo do dinamismo e da iniciativa dos cidadãos, da sua capacidade de (em cooperação com uma autarquia e graças ao apoio desta) tomar o destino nas suas próprias mãos, sem estarem à espera passivamente de que alguém faça por eles aquilo que é necessário fazer.

Trata-se de um equipamento estruturante da vida cultural, que vai ser partilhado pelo Conservatório de Música, pela Banda de Música e por uma Escola de Música, num total de mais de 500 utilizadores.

Minhas senhoras e meus senhores, caros concidadãos da Branca e de Albergaria-a-Velha,

Este é o caminho do futuro, de um Portugal moderno, consciente da importância fundamental do desenvolvimento regional e da necessidade de correcção dos desequilíbrios ainda existentes entre o interior e os grandes centros urbanos. Consciente também de que a educação e a cultura são hoje em dia, e cada vez mais, os grandes motores de desenvolvimento, aqueles em que o investimento é mais reprodutivo na perspectiva da geração de riqueza, de crescimento durável, de preparação do Pais para enfrentar novos desafios.

O capital mais precioso e mais reprodutivo que podemos legar aos mais novos e às gerações futuras é a educação e a cultura. Sem desenvolvimento educacional e cultural, sem jovens mais qualificados, sem cidadãos insatisfeitos com a formação que têm e sequiosos de mais conhecimento e de mais formação ao longo da vida, enfim, sem a auto-exigência de todos nós de aquisição permanente de mais capacidade e mais preparação para lidar com a complexidade do mundo – um mundo cada vez mais imprevisível e mais célere nas transformações de toda a ordem que vai sofrendo – sem essa auto-exigência de aprendizagem permanente, não há desenvolvimento económico e social, não é possível vencer a batalha da inovação, vencer o atraso que nos separa dos países europeus mais avançados.

(...)

As actividades artísticas, o património, a cultura no seu todo, têm, na verdade, para além do mais, uma importante expressão económica: geram emprego e riqueza, dinamizam o tecido económico através de toda uma série de actividades em cadeia a que dão origem, podem assumir um papel fundamental no combate à desertificação, por exemplo através de estímulos (como os que queremos desenvolver) à fixação de agentes culturais no interior.

Mas não podemos esquecer-nos do movimento associativo, do associativismo cultural, do movimento artístico amador – de cuja vitalidade e dinamismo a vossa comunidade também constitui exemplo. Com o reforço das Delegações Regionais da Cultura, no âmbito do PRACE (a Reforma da Administração Pública já aprovada em conselho de Ministros), vamos poder estabilizar os apoios à consolidação dessa rede. A esse nível, tal como ao nível da reforma central do Estado, o que se pretendeu não foi poupar às cegas dinheiro no Orçamento, mas sim identificar onde havia duplicações e sobreposições, muitas vezes incompreensíveis e absurdas, mas que se mantinham inexplicavelmente, e reorganizar os serviços de uma forma mais lógica ou racional, garantindo-lhes maior operacionalidade. O Governo conseguirá com isso poupar em custos de suporte dos serviços e alargar os recursos disponíveis para os reafectar aos fins para que esses serviços existem: ou seja, no caso do MC, o desenvolvimento cultural do Pais nas diferentes dimensões já indicadas.

Em todas essas dimensões consideramos, de resto, as autarquias parceiros indispensáveis – importa salientar este ponto. Trata-se de parcerias estratégicas que queremos aprofundar e desenvolver.

Concluindo:

Felicito a CM de Albergaria-a-Velha por esta realização, pela sua visão do futuro, ao reconhecer o papel da educação e da cultura como agentes de desenvolvimento. Felicito o Sr. Arquitecto Carrilho da Graça e a sua equipa pela magnífica concepção do espaço, um sinal de modernidade que induz à abertura de espírito a quem o utiliza – uma estrutura a partir de agora emblemática para o concelho.

Felicito mais uma vez a população da Branca e de Albergaria-a-Velha pelo novo Centro Cultural e faço votos de que este sirva para estimular ainda mais as suas tradições musicais e o seu desenvolvimento cultural.

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Obras de João Luís Carrilho da Graça: Centro Cultural de Albergaria-a-Velha (com Inês Lobo) (1999-2006)

[31/07/2000 10:45] Albergaria-a-Velha - Depois de Carrilho da Graça e Valter Rosa, Albergaria-a-Velha vai ter uma obra pública projectada por Siza Vieira. O arquitecto portuense Álvaro Siza Vieira vai iniciar brevemente os estudos prévios do projecto da futura biblioteca municipal de Albergaria-a-Velha.

«Estamos muito satisfeitos por estar a projectar para nós», afirmou o presidente da edilidade, Rui Marques. Aliás, este não é o primeiro conceituado arquitecto nacional a deixar a marca do seu estilo naquele concelho. «Tem sido uma preocupação nossa entregar projectos a gente de renome», lembra o autarca, apontando os casos do centro cultural e posto de saúde da Branca (Carrilho da Graça) e o centro social de Angeja (Valter Rosa).

Quanto à biblioteca, trata-se de um edifício a construir de raiz, contando com o apoio financeiro do Ministério da Educação (ME). Tecnicamente designada como sendo uma BM 2, terá não só espaços de leitura pública como outros serviços, designadamente computadores multimédia com acesso à Internet, salas de apoio a actividades e um auditório.

O custo rondará 200 mil contos. O início da construção ainda está longe. «Queria ver se lançávamos a primeira pedra no próximo ano, mas às vezes surgem imponderáveis», diz Rui Marques, não arriscando uma data.

Carmen Martins / Diário de Aveiro (http://vello.vieiros.com)

Notas:

- O Centro Cultural da Branca foi inaugurado em 29 de Abril de 2006;
- O projecto de Siza Vieira para a futura Biblioteca não chegou a avançar.

domingo, 3 de janeiro de 2010

A paisagem do Vale do Vouga

Da estrada para a banda do rio assenta a vila de Lamas. Para o oriente abrange a vista as vinhas e margens do Vouga, as férteis terras de Valongo e do Brunhido, o vale onde corre o Alfusqueiro e a encosta graciosa de Macinhata, perdendo-se o rio estrangulado entre montanhas para lá de Jafafe e de Açores e rodeando o horizonte a lomba gorda do Arestal, os dentelados e agudes cumes da serra das Talhadas e os vultos grandiosos do Caramulo e do Buçaco que fecha ao sul o quadro, depois de extensos pinheirais.
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Infanções antigos de Santa Maria, soberbos e poderosos mais que todos os nobres daquelas redondezas, deviam os senhores do Marnel construir o seu ninho de Águias, no viçoso daquele cabeço, dominando os vales do Vouga e do Marnel e aquela chave da passagem de sul para o norte.
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Era admirável o panorama em torno, espraiando-se ao poente numa larga bacia cortada pelo Vouga até à confluência do Águeda e circundada por colinas verdejantes onde ressaltam os povoados, também com tradições históricas, de Alquerubim, da Trofa, de Segadães e do Amial. Ao norte domina-se a ponte na longa fita da estrada rial e a antiga vila de Vouga, banhando nas águas do rio a vetusta ascendência da romana cidade de Vacca ou Vácua, cortando o horizonte uma extensa floresta que serve de fundo à velha Albergaria de D. Tareja, estendida para lá da mata de Serém.
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Aos pés ficam-lhe como no fundo de vasto anfiteatro, a lagoa estendida até à velha ponte de arcos caracteristicamente românicos e mais ao lado até à ponte nova, os pântanos do Marnel no lodaçal esverdeado...

(Alguns excertos sobre a descrição do Vale do Vouga, talvez como ele era nos finais do século XIX ou princípios do século XX, inserido no livro «OS SENHORES DO MARNEL», de Vaz Ferreira, editado em 1925, pela Imprensa Libânio da Silva - Lisboa)

Terras do Marnel