Existe na freguesia da Murtosa um pequeno museu que resguarda do esquecimento algum do património etnográfico da região, talvez o mais significativo e característico das gentes Murtoseiras.
Ali se preservam religiosamente diversas alfaias agrícolas que até há três ou quatro décadas atrás eram instrumentos indispensáveis ao amanho da terra, mas que hoje são já difíceis de encontrar.
A par, podem ver-se igualmente outros, ligados ao mar e à pesca, que a Câmara Municipal da Murtosa - e bem - soube recuperar e expor.
Lá está, também, uma pequena mas excelente réplica da Bateira de Canelas, que nos traz logo à memória um turbilhão de recordações enquanto o olhar se perde, saudosamente, na penumbra de imagens da nossa meninice.
O museu, apesar de pequeno e simples, cumpre na perfeição o importante papel de trazer para o futuro a história de uma terra e do seu povo.
Aqui, nesta pequena aldeia, muitas alfaias e objectos semelhantes terão já servido para aquecer as noites frias do inverno. Outros foram trocados por meia dúzia de "patacos" ou dados a um qualquer ferro-velho.
Previsivelmente, daqui a meia dúzia de anos os restantes desaparecerão da mesma forma, e com eles se apagarão décadas de história.
Mas, se pensarmos que é ainda possível recuperar teares, rocas, fusos e espadelas, utensílios e ferramentas ligados à construção de bateiras e carros de bois, alfaias agrícolas e de pesca construídas artesanalmente, tais como arados, grades, moais, ancinhos, biturões e redes, teremos pois a responsabilidade de tudo fazer para que o que ainda resta se não perca.
Se o fizermos, estaremos seguramente a preservar, dignificar e criar verdadeiros espaços de cultura, enraizados na história, e que não se esgotam em patéticas semanas culturais.
Sem Rumo
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