terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Acção Católica Rural (antiga JAC e LAC)

Nome: Dália Rosa Faria Nunes
Nascida: 17 de fevereiro de 1942
Diocese: Aveiro

Fui militante da JACF/JARC de 1961 a 1970, tendo interrompido até 1980, altura em que recomecei na ACR, até hoje

MR: Como conheceu a Acção Católica Rural (antiga JAC e LAC)?
DN: Em 1961 fui convidada por militantes da Seção da minha paróquia (Branca) para frequentar as reuniões e, passado muito pouco tempo, participei ativamente na encenação e dinamização de uma atividade do Movimento. Gostei e continuei.

MR: Qual a motivação para se tornar militante da ACR?
DN: Naquela altura dizíamos que os militantes precisavam de ser «pescados à linha», e foi isso que fizeram comigo. Vi-me quase desde o início responsabilizada em atividades e em ações de formação, e penso que foi o sentir que acreditavam em mim, o que me motivou a continuar. A esta distância, penso que a maior motivação foi o dizerem-me «tu vais fazer porque és capaz».

MR: Que percurso fez dentro da Ação Católica?
DN: Nessa altura fazia-se um “aspirantado”, penso que com a duração de dois anos. Eu saltei essa etapa, embora tenha feito “exame”, para passar a militante. Fui convidada para a equipa diocesana logo a seguir, onde fui responsável das pré-jovens e do Ultramar, e passados dois ou três anos, fui eleita presidente diocesana.
Na ACR, fui dirigente diocesana, onde ocupei o cargo de tesoureira e presidente. No plano nacional assumi vários cargos: secretária, vogal de expansão, vogal de formação, representante na FIMARC, e presidente e vice-presidente. Pertenci também a Junta Diocesana da Acção Católica. Atualmente sou dirigente de base e diocesana.

MR: Como carateriza a Ação Católica da época em que ingressou no Movimento?
DN: A Ação Católica da época era o Movimento da Igreja por excelência, e quase todas as paróquias a tinham organizada. Era disciplina ensinada nos Seminários, e a Hierarquia tinha nela os seus braços para a ação, embora os leigos “tivessem” de dar contas à Hierarquia. Contudo, a análise dos acontecimentos da sociedade civil permitiu aos militantes adquirirem uma consciência nova da sua responsabilidade, quer como cidadãos, quer como cristãos. Era para os seus elementos uma escola de formação integral e espaço de crescimento na fé. Muitos militantes da JAC/F devem a sua valorização pessoal ao Movimento.

MR: Quais os maiores marcos da história do Movimento?
DN: Como jovem, vivi o Grande Encontro (“Os novos escolhem Deus”), que se realizou em Lisboa, em 1963; o encontro europeu de jovens rurais em Stuttgart, em 1965; e várias concentrações, todas precedidas de uma longa preparação de todos os participantes.
Como adulta, logo a seguir ao 25 de abril, envolvi-me com outros militantes no esclarecimento dos cristãos da diocese acerca dos programas partidários, vistos à luz da Doutrina da Igreja; no esclarecimento dos rurais sobre as consequências da nossa entrada na Comunidade Europeia; na Assembleia Mundial da FIMARC, realizada na Casa Diocesana de Albergaria-a-Velha (foi um trabalho exigentíssimo, pois recebemos participantes de todos os continentes, que estiveram cá 15 dias); as várias Jornadas Sociais, sendo duas realizadas em Aveiro, mas tive participação ativa em todas; as diversas campanhas, principalmente as «A Aldeia que eu quero no Portugal europeu», que nos abriu para as realidades europeias e deu uma nova forma de abertura do Movimento ao meio, e a campanha «O homem primeiro»; e ainda Seminários que proporcionaram aos militantes da ACR a possibilidade de escutarem pessoas das mais diferentes áreas da sociedade civil e religiosa.
Os cadernos de militantes e as revistas «Girassol», «Fé e Trabalho», «Diálogo» e «Mundo Rural», embora não sendo marcos, foram meios usados para a formação contínua dos seus elementos.

MR: Como vê a receção do Concílio Vaticano II dentro do Movimento? Deram-se grandes alterações?
DN: Uma das maiores virtudes da Acção Católica foi ajudar os militantes a intervirem, estarem atentos aos acontecimentos e consciencializarem-se dos seus deveres como cristãos e cidadãos.
Quer na JACF/JARC, quer na ACR, os documentos conciliares sobre a missão dos leigos no mundo, foram tema de reflexão e de muitas ações de formação. O início das reuniões, quer de base, quer diocesanas, quer nacionais, tinham sempre um largo tempo de discussão sobre estes temas. O mesmo no que se refere às diversas Encíclicas e Cartas Pastorais, que foram publicadas ao longo dos anos. A minha consciência de leiga (penso que responsável) vem toda daí.
Espero que com as comemorações dos 50 anos do Concílio e com a celebração do Ano da Fé, muitos destes documentos voltem a ser objeto de estudo e reflexão.

MR: O Movimento teve a preocupação de acompanhar o que ia acontecendo aquando da saída dos documentos conciliares?
DN: Pelo que disse atrás, confirmo que sim. O Movimento foi uma grande escola de formação eclesial e cívica.

MR: Como carateriza a Acção Católica dos anos seguintes (após o Concílio)?
DN: Apesar da Acção Católica ter vivido e concretizado no seu trabalho militante a doutrina conciliar, as alterações politicas, o fim da sua estrutura organizativa e  o aparecimento  de novos  movimentos e novas formas de apostolado,  com um  cariz menos interventivo  e menos  “exigente” e muitas vezes  “mais  macio”,  não  obrigando tanto  a “pôr as mãos na massa” e ainda  um novo posicionamento da Hierarquia,  levou a um enfraquecimento  progressivo da Acção Católica.

MR: E hoje, como vê a Acção Católica Rural enquanto recetora da mensagem do Concílio?
DN: Tenho consciência clara que a ACR tem de estar no mundo, com outro tipo de abordagem, mas nunca com menos exigência e menos consciência do papel dos seus militantes dentro da Igreja e do meio. E esta consciência terá de ser de novo adquirida, estudando e debatendo a doutrina conciliar e aplicando-a à vida, utilizando o seu método de trabalho, a Revisão de Vida.

MR: Qual pensa ser o papel da ACR nos dias de hoje?
            DN: Olhando para as nossas paróquias, sinto uma certa frustração e um desencanto. Dá-me a sensação que regredimos e que às vezes não somos capazes de arregaçar as mangas e nos sentirmos comprometidos e intervenientes na vida dos homens e mulheres que connosco partilham os acontecimentos. O mundo está diferente e as solicitações são muitas, mas não nos podemos demitir da missão que nos foi confiada.
Vivemos a nível de país um momento doloroso mas interpelante, e a Igreja (bispos, padres e leigos) tem de saber qual o seu papel no meio de tudo isto. A ACR é por natureza um movimento vocacionado para a intervenção evangélica, e tem de continuar a lutar por aquilo em que acredita.
Continuo a pensar que a Acção Católica ainda não tem substituto, e tenho a perceção de que em alguns setores da Igreja se começa a reconhecer que o lugar da Acção Católica não está ocupado.

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Nome: Flausino Pereira da Silva
Nascido: 27 de agosto de 1938
Diocese: Aveiro
Militante da ACR desde: 1984 (64 anos de Militante, contando o tempo de Pré-Jacista)
Militante Pré-Jac desde 1948, depois da JAC e ACR, até hoje!

Como conheceu a Acção Católica Rural (antiga JAC e LAC)?
Através da JAC da minha Paróquia (Branca, diocese de Aveiro).

Qual a motivação para se tornar militante da ACR?
A atração pela formação nas reuniões e a possibilidade de conhecer pessoas, conviver e assumir responsabilidades          

Que percurso fez dentro da Acção Católica?
Iniciei como Pré-Jacista em 1948, passei a militante de base da JAC, depois a dirigente e, em 1956, fui chamado a fazer parte da equipa diocesana. Em 1960 fui convidado para a equipa nacional, onde permaneci até este Movimento se incorporar na ACR. Depois interrompi e regressei como dirigente diocesano e nacional, após as primeiras jornadas sociais de 1984.

Como carateriza a Acção Católica da época em que ingressou no Movimento?
Nos anos quarenta e cinquenta a Acção Católica tinha um enorme peso na Igreja, por ser praticamente o único Movimento Apostólico de intervenção social. A Hierarquia dava grande importância ao papel do Movimento e tinha muita consideração pelos seus membros.

Quais os maiores marcos da história do Movimento?
Para mim, os maiores marcos foram: o Congresso Mundial da JAC-JACF, em Lourdes, em 1960; o Grande Encontro da Juventude em 1962; a Comemoração dos 25, 50 e 75 anos da Acção Católica; as Jornadas Sociais da ACR; as Campanhas, das quais destaco "A Aldeia que eu Quero no Portugal Europeu", com a constituição de cerca de mil grupos de análise reflexão e acção (GARA), que culminou na Festa das Jornadas e no desfile festivo, realizados em Aveiro; os Seminários Nacionais, iniciados em 1988, no seguimento desta campanha, e que prosseguem anualmente até hoje.

Como vê a receção do Concílio Vaticano II dentro do Movimento? Deram-se grandes alterações?
Se houve Movimento que acolheu e traduziu na sua ação apostólica as deliberações do Concilio Vaticano II, foi a Acção Católica, particularmente a ACR que, com as Jornadas Sociais assumiu corajosamente o seu papel de «Sal da Terra e Luz do Mundo».

O Movimento teve a preocupação de acompanhar o que ia acontecendo aquando da saída dos documentos conciliares?
A Acção Católica e a ACR, em particular, deram sempre muito relevo na formação dos militantes: à Doutrina Social da Igreja, às Constituições que saíram do Concílio, bem como a Exortação que se lhe seguiu. Foram objecto de estudo, nos cadernos do militante e nas acções de formação desenvolvidas

Como carateriza a Acção Católica dos anos seguintes (após o Concílio)?
O Concílio deu uma nova força à Acção Católica, que se libertou, progressivamente, da conceção de "manus longa" da Hierarquia, para assumir a sua identidade de Movimento Laical, evangelizando as pessoas e estando presente nas realidades temporais, para as transformar.

E hoje, como vê a Acção Católica Rural enquanto recetora da mensagem do Concílio?
Mau grado a ACR ter recebido e traduzido na sua militância e ação a doutrina do Vaticano II, a própria Hierarquia e a Igreja não a traduziram na Acção Eclesial. Surgiram novas formas de apostolado e movimentos de cariz mais espiritualista, e menos intervencionista.
Com a evolução social e política e o desenvolvimento associativo, de par com a democratização da vida social, cultural, económica e até eclesial, os Movimentos da Acção Católica perderam expressão e tornaram-se "difíceis" para os cristãos e para a própria Hierarquia.
É indiscutível, contudo, que a acção evangelizadora e a formação dos militantes da ACR, hoje em dia, traduzem amplamente o espírito e a doutrina do Concílio Vaticano II

Qual pensa ser o papel da ACR nos dias de hoje?
A ACR tem de se manter fiel à sua vocação e missão de Movimento de Leigos no mundo, porque essa é a sua essência.
Mas o nosso mundo muda/mudou muito depressa e as pessoas estão demasiado cheias de si, de coisas materiais e culturais, e de ideias que o mundo lhes incute e, por isso, menos disponíveis para Movimentos "difíceis" como o é a ACR.
Adaptando a formação e a ação ao modo eclesial e social de hoje, o Movimento continua a ser e é, na atualidade, fundamental, como o foi no passado, para a Nova Evangelização das pessoas e dos ambientes

http://mundo-rural.webnode.pt/entrevistas/
http://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/14549/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o_Joana%20Veigas_MIT_2014.pdf

Histórias de Acção Católica

Relatos de um compromisso na primeira pessoa em destaque na Ecclesia Rádio

A ECCLESIA Rádio vem apresentando histórias de envolvimento e dedicação nas dinâmicas dos Movimentos da Acção Católica, que comemora 75 anos de vida no nosso país, tempo em que, como lembrou a Conferência Epsicopal Portuguesa, ajudaram a formar muitos leigos “que tiveram um papel assinalável nos mais diversos sectores da sociedade portuguesa, desde a política à economia, do ensino, às profissões liberais mais significativas”.


Para o Pe. Querubim Silva, assistente espiritual da Acção Católica Rural (ACR), admite que a metodologia do “Ver, Julgar, Agir” marca o seu quotidiano e afirma que o movimento “não é residual”.
“Estamos presentes, e com vida, em 14 dioceses”, assegura, destacando a importância da ACR para a “preservação de valores do meio rural” como a vizinhança ou a solidariedade.

(...)
Dália Nunes, também ela membro da direcção da ACR, chegou à Acção Católica por causa do sonho de ser “locutora”, acompanhando assim uma celebração de consagração de jovens. Das suas memórias destaca a primeira participação num encontro europeu, em 1965, “tudo o que aconteceu na viagem, de comboio” ou o dormir “em tendas com água lá dentro e lama nos pés”.

Desde 1961, Dália Nunes sente que a Acção Católica “faz parte da vida” e aplica a sua metodologia às situações que lhe surgem na vida profissional.
(...)

O ciclo de programas conclui-se esta Sexta-feira com o testemunho de Flausino Silva, da ACR, numa emissão que se inicia pelas 22h45, na Antena 1.

AE 13/11/2009
http://www.agencia.ecclesia.pt/noticias/nacional/historias-de-accao-catolica/

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