terça-feira, 16 de agosto de 2022

Infância na Branca

Quando entrei para a escola primária, em outubro de 1945, já esse belo edifício estava em degradação.

Não havia casas de banho, nem água canalizada. Bebíamos água da fonte das amieiras e lavávamos a cara no rego que passava do lado norte. Muitos de nós íamos descalços ou com sandálias feitas de madeira, com uma tira de correia das lonas da Caima e com um saco de serapilheira feito capuz enfiado na cabeça quando chovia!

Poucas casas tinham electricidade e não havia luz pública, nem sequer estradas asfaltadas. As poucas que ligavam os lugares entre si e a Igreja eram em macadame ou em terra batida, esburacadas e muitas delas cheias de lama todo o inverno.

Na estrada real, de paralelepípedos, que ligava o Porto a Lisboa, passavam poucos carros e uma camioneta de vez em quando, que se ouvia ao longe, antes do Ribeiro da Póvoa e dava tempo de irmos de Casaldima até à escola pendurar-nos nos taipais. Se o Professor soubesse, trabalhava a "menina".

(...)

Ao domingo íamos brincar ao "réu-réu pum", ver os craques jgar à malha e a disputar o galo ou ouvir o relato do futebol pelo conhecido locutor Quadro Raposo, no rádio do Ti Francisco da Sarraipa ou do Ti Joaquim do Abel, os únicos qua havia em Casaldima.

Eram estes os únicos divertimentos de então. Mais tarde, na casa do Senhor Tojal, na Barroca, começaram a realizar-se umas sessões de cinema. Lembro-me dos cartazes afixados do filme "Capas Negras".

O senhor Professor Madeira, residente na escola, era rabugento e disciplinador, mas um verdadeiro artista e muito criativo. Escrevia cantigas e ensaiava entremeses e marchas populares, tendo escrito e ensaiado, entre outros, um hino à Branca, que começava assin: "Ó Brana, ó terra linda..". E deu aulas a adultos no lugar de Fradelos. 

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Flausino Silva 
(texto comemorativo do 30º aniversário da elevação da Branca à categoria de Vila - livro Dos Autarcas Braquenses, 183 anos de história local - Nélia Oliveira (2019))

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