quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Correspondência com Teixeira de Pascoaes

Algumas cartas trocadas entre Teixeira de Pascoaes e Corrêa d´Oliveira que chegou a morar em Valmaior.

Antologia epistolográfica de autores dos sécs. XIX-XX de Lurdes da Conceição Preto Cameirão (Edição: Instituto Politécnico de Bragança · 1999 )

A primeira parte deste volume diz respeito à correspondência que alguns dos interlocutores de Teixeira de Pascoaes lhe dirigiram e que foi, por nós, recolhida no espólio do próprio autor.

A selecção dos seus interlocutores fundamentou-se nos objectivos propostos para o nosso plano de trabalho de tese de Mestrado, “Teixeira de Pascoaes e o «Projecto Cultural da Renascença Portuguesa»”, para o qual procurámos reportar-nos, sempre que possível, ao diálogo estabelecido entre Pascoaes e alguns dos autores que com ele mais de perto colaboraram no projecto da “Renascença Portuguesa”. Pareceu-nos, contudo, útil não desdenhar os testemunhos da sua relação epistolar com amigos pessoais e admiradores literários.

Todos estes documentos se nos revelaram preciosos para iluminar a acção do doutrinador Teixeira de Pascoaes que de 1912 a 1917 esteve à frente, como Director da revista A Águia, dos destinos do movimento da “Renascença Portuguesa”, bem como para nos dar conta do valor literário e humano do Poeta.

Na segunda parte, reunimos a correspondência do autor já publicada em revistas e jornais.

1 · Correspondência inédita para Teixeira de Pascoaes de:

14-1.1 · António Correia de Oliveira - 31 cartas, de [1906 ?] a [1935 ?]_____ 14

15-1.2 · João Correia de Oliveira - 18 cartas, de 1908 a [1942 ?]________ 45

António Correia de Oliveira - 31 cartas, de [1906 ?] a [1935 ?]

Meu Amigo:

Valle, 8 Tarde

À ultima hora, depois de mandar para o correio uma carta para V., diz-me meu cunhado que El-Rei se hospedará no dia quatorze em sua Casa.

Fica, pois, adiada a minha visita para o dia que marcar, depois do regresso do Rei, e dentro da semana proxima — se isso não tiver inconveniente para si. Escrevo a correr esta nota à minha carta de depois.

Peço-lhe me escreva para aqui, visto eu demorar a minha partida.

Os meus mais respeitosos cumprimentos e abraços do seu muito admirador e amigo

Corrêa d´Oliveira

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Meu querido Poeta e Amigo
25. Novembro. 906

Só direi, meu querido Teixeira de Pascoaes que penso em escrever-lhe desde que cheguei a Lisbôa... Só hoje venho: mas nem por isso é menos apertado este longo abraço com que o encontro...

De Espinho? Nada, a não ser a saudade de mim mesmo, umas horas em que a vida me interessou sinceramente ou acreditei que ella me interessava. Quando vem a Lisboa?
[...]

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Meu Caro Teixeira de Pascoaes
Valle Maia,
Albergaria-a-Velha
31, Julh. 907

Desculpe deixar por tantos dias sem resposta a sua carta amiga. Varios e pequenos incidentes me teem absorvido e destrahido o tempo. E em primeiro lugar: Escrevi ao Maximiliano de Azevedo (que é agora o mentor, o guia intellectual da Livraria) propondo a edição do seu livro, e escusado será dizer-lhe, meu caro Poeta, que o fiz com a calorosa affeição que lhe tenho e a fervorosa admiração e estima que é devido à sua Obra. Veremos o que os homens dizem. Não estranhe a demora, se a houver, pois elles decidem por costume, estes assumptos com vagar. Eu fico à espera, talvez mais anciosamente do que Você!

Realmente, não sei se o Unamuno está em Salamanca. Fica, pois, posta de parte a nossa visita. Tadavia, como vou a Castro Daire, e tenho grande desejo de o abraçar, talvez faça caminho pela Regoa: e, então, saltarei gostosamente em Amarante para me dar a alegria e a honra de passar horas sob as suas têlhas, cumprindo assim a minha velha promessa. E isso podia ser ahi pelo dia dez de agosto — se não houver encontro com outros planos seus: Espero noticias suas. Terei imenso prazer em o ver.

A sua theoria interessa-me profundamente — pelo que d‘ella me diz na sua carta, pois, até hoje! não recebi o jornal. Certamente extraviou-se. Se ahi tiver um ex., não poderia mandar? E como creio que nos veremos breve, lá conversaremos larga e substancialmente! Escreva-me, para eu ordenar os meus destinos. Os meus respeitosos cumprimentos. Abraços do seu admirador e Amigo

Antonio Corrêa

*

Procuradoria Geral da Coroa e Fazenda
1. Julho. 910
R. da Trindade, 15, 30
LISBOA

12. Dezembro. 911.
Quinta de Belinho
Espozende

Como eu queria que você, meu grande e querido Poeta, conhecesse a minha Noiva! V. já era lido e admirado por ella: é agora Antologia epistolográfica de autores dos sécs. XIX-XX 29 estimado como um dos meus primeiros amigos. Quando casarmos, quando tivermos a nova casita, V. ha de vir estar uns largos dias connosco — Prometido?

*

3 Janeiro 1912
Quinta de Belinho
Espozende

Queridissimo Amigo: Que terá V. pensado de mim? Muito mal, decerto, e com toda a razão aparente. Depois do meu casamento, depois de ter voltado a Belinho, eu escrevi-lhe, nos comêços de Julho, agradecendo e falando do “Regresso ao Paraíso”. Imagino, tenho quasi a certeza, pelo que me disse o Álvaro Pinto, que não recebeu essa Carta. Não me admira que assim fosse: o Minho, por esse tempo, fervia em conspiração: e outras cartas minhas se perderam, algumas não recebi que me foram destinadas. Mas, depois d`isso eu tinha obrigação moral de lhe escrever novamente, dizendo-lhe quanto o seu livro me tinha impressionado, — tão grande e tão bello elle é, um firme e luminoso passo a mais, um grande vôo para o Alto nessa gloriosa ascenção que tinha sido a sua Arte. Eu devia ter novamente



João Correia de Oliveira
18 cartas, de 1908 a [1942 ?]
k
1
[Tb.]
[Ms.]
Administração do Concelho de Coimbra

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