domingo, 25 de outubro de 2009

À redescoberta dos moinhos da região


O distrito de Aveiro ocupa uma posição relevante a nível nacional, no que concerne à importância do seu património molinológico.

Tanto numa perspectiva de qualidade, de quantidade ou de diversidade, podemos dizer que esta região é um excelente objecto de estudo e um exemplo a considerar quando abordamos a temática da Molinologia em Portugal.

Trata-de um valioso património, a grande maioria dele desconhecido ou esquecido, em que se aliam velhas técnicas de construção tradicional e engenhosas obras de hidráulica, e cuja actividade associada sempre teve uma grande importância na economia e na vida das populações da nossa região.

Eram muitas as famílias que exerciam a profissão de moleiros, eram inúmeros os lavradores que tinham direito a moer no moinho comunitário e a propriedade de um moinho era um factor de alguma importância social e económica.

Hoje em dia, tudo mudou. O fim do isolamento das populações e da prática da agricultura de subsistência permitiu o acesso a outras formas de vida e de consumo. O advento dos moinhos eléctricos, os quais se instalavam dentro de casa e permitiam a moagem durante todo o ano, afastou muitas pessoas da ida ao moinho tradicional e reduziu substancialmente o negócio dos moleiros.

O progressivo abandono da agricultura e o envelhecimento daqueles que dominavam as técnicas e a paixão por estes engenhos votou ao abandono quase todo este património, tanto na nossa região como a nível nacional.

Pontos de interesse

Se quisermos definir um roteiro pelos locais da nossa região em que ainda podemos encontrar interessantes exemplares do seu património molinológico, decerto que não se arrependerá se aceitar o desafio de o percorrer.

Dessa forma estará a contribuir para o reconhecimento deste património, tantas vezes desconhecido e por valorizar.

Parta à descoberta de lugares e coisas que pensava já não existirem, mostre-as aos mais novos que decerto se vão interessar, volte atrás no tempo revivendo imagens, sons e cheiros intemporais.

Sugerimos que, tomando como ponto de partida a cidade de Aveiro, faça a sua primeira paragem em Ervosas, Ílhavo, onde se encontra um moinho de vento, de armação, em perfeito estado de conservação e exemplar único a nível nacional. Não muito longe dali, no Boco, Vagos, procure as azenhas que ainda funcionam como antigamente. Depois, rume mais para sul e em Mira admire os Moinhos da Lagoa, com a sua curiosa arquitectura inspirada nos palheiros daquela região.

Já no concelho de Albergaria-a-Velha, visite a Cova do Fontão, Angeja, lugar de moleiros e padeiras onde ainda existe um moinho de água a funcionar. Se preferir caminhar em contacto com a Natureza, percorra o caminho dos moleiros, que das imediações do Santuário da Nossa Senhora do Socorro desce até às bucólicas margens do Rio Caima, onde se situa o conjunto dos Moinhos da Freirôa, complexo moageiro que voltou a moer depois de várias décadas de abandono.

Rume um pouco mais a norte e faça uma paragem em Figueiredo, Pinheiro da Bemposta, onde no último domingo de cada mês pode admirar o extraordinário trabalho de recuperação que foi efectuado nos Moinhos do Caldeirão. Ali ao lado, em Ul, visite o Parque Temático Molinológico de Oliveira de Azeméis, onde poderá saber um pouco mais sobre a actividade dos moleiros e das padeiras deste lugar.

Termine o seu roteiro subindo à Serra da Freita, percorra as pequenas aldeias de xisto e granito, descubra que ainda existem moinhos comunitários onde se continua a moer o pão nosso de cada dia.

Estes são só alguns exemplos de locais onde este património está disponível para que o possamos conhecer e admirar.

Apesar do abandono e da destruição que fez desaparecer a esmagadora maioria destes engenhos, muitos outros moinhos ainda se encontram em funcionamento na nossa região.

Memórias a recuperar

A recuperação e a manutenção deste património deve-se muitas vezes ao empenho e à dedicação de uns quantos, proprietários e antigos moleiros, os quais se recusam a deixar morrer estes saberes, estas técnicas tradicionais, estas memórias.

O aproveitamento de exemplos representativos deste património para fins didácticos, culturais ou meramente turísticos, pode e deve ser a solução para permitir a sua preservação, podendo mesmo contribuir para o próprio desenvolvimento local.

Para tal será fundamental que exista o envolvimento de entidades públicas e privadas, de maneira a que se possam celebrar protocolos de colaboração, criar incentivos e despertar consciências, com o objectivo de preservar o património molinológico regional e evitar que alguns trechos da nossa memória colectiva sejam irremediavelmente perdidos.

Armando Carvalho Ferreira -http://www.noticiasdeaveiro.pt/ 17/02/2008

http://moinhosdeportugal.no.sapo.pt/index.html

O livro “Moinhos do Concelho de Albergaria-A-Velha”, da autoria de Armando Carvalho Ferreira e Delfim Bismarck.

Trata-se de um levantamento histórico e fotográfico que resultou de dois anos e meio de pesquisas. Com mais de quinhentas páginas, a obra pretendeu fazer um inventário o mais rigoroso possível do que foi e já pouco resta da actividade moageira em Albergaria-A-Velha.

Delfim Bismarck considerou interessante para o concelho seguir o exemplo do projecto de recuperação de moinhos em Ul, Oliveira de Azeméis, para o qual a edilidade obteve apoios estatais e comunitários.

O historiador recomendou a aquisição de pelo menos um moinho de forma a ser recuperado com fins pedagógicos, culturais, etnográficos e turísticos. “É uma das actividades mais importantes para a sobrevivência do Homem, pois sem moinhos, não havia moleiros, e sem moleiros não havia farinha, e sem farinha não haveria o pão que foi a base da alimentação de todos os nossos antepassados”, disse.

Notícias de Aveiro 16/12/2003

1 comentário:

Armando Ferreira disse...

Parabéns ao autor do blogue por escolher este tema para um artigo. Já agora, aqui vai uma sugestão de consulta para saber mais sobre este tema: http://moinhosdeportugal.no.sapo.pt/
Cumprimentos.